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E. Ciências Agrárias - 4. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca - 1. Aqüicultura

INFLUÊNCIA DO CULTIVO DE PEIXES EM TANQUES-REDE SOBRE A COMUNIDADE BENTÔNICA NO RESERVATÓRIO DA UHE ITÁ, RIO URUGUAI, BRASIL

Marina Fernandez Bez  1
Renata Maria Guereschi  1
Luis Fernando Beux  1
Alex Pires de Oliveira Nuñes  1
Evoy Zaniboni Filho  1
(1. Universidade Federal de Santa Catarina/CCA/Departamento de Aqüicultura/LAPAD)
INTRODUÇÃO:
Os reservatórios de usinas hidrelétricas são usados para os mais variados fins, dentre eles o cultivo de peixes em tanques-rede apresenta-se como uma importante alternativa para a diminuição da pressão sobre os recursos pesqueiros, além de gerar empregos e renda para as populações ribeirinhas. No entanto, a criação intensiva de peixe em tanques-rede ainda é uma prática pouco utilizada pelos piscicultores devido à ausência de algumas informações essenciais, como as relativas ao conhecimento técnico específico para a implantação da atividade e aos impactos ambientais e também devido à ausência de legislação adequada, que dificultam o desenvolvimento racional e econômico da atividade. A produção intensiva de peixes em tanques-rede exige o emprego de altas densidades de estocagem, que resultam na produção elevada de resíduos que estimulam a produtividade aquática, podendo causar eutrofização e, como conseqüência, modificações qualitativas e quantitativas das comunidades aquáticas e das condições físicas e químicas do ambiente. A análise das comunidades biológicas constitui-se em importante ferramenta na busca de informações sobre as condições dos ecossistemas e da qualidade ambiental. Em sistemas aquáticos, os macroinvertebrados bentônicos apresentam-se como bons indicadores das alterações sofridas pelo ambiente. Nesse sentido, o estudo teve como objetivo avaliar a influência do cultivo de peixes em sistemas de tanques-rede sobre a comunidade bentônica no reservatório da UHE Itá.
METODOLOGIA:
Foram instalados em uma baía de aproximadamente 3ha, na UHE Itá, 15 tanques-rede de 4m³. Desses, três foram estocados com alevinos de dourado (Salminus brasiliensis) e doze com alevinos de jundiá (Rhamdia quelen), cuja biomassa inicial total foi de 144,24kg. As amostras de sedimento para a análise da fauna bentônica foram obtidas com draga tipo Van Veen, sendo coletadas no centro da estrutura de fixação dos tanques-rede (TR-0), a 40, 80 e 120 metros de distância e em uma baía com características semelhantes, que serviu de controle. Uma amostra foi coletada antes da estocagem dos peixes e, a partir de então, as amostras de sedimento foram coletadas trimestralmente durante um ano. O material coletado foi previamente lavado em campo com uma peneira de 0,5 mm de abertura de malha e conservado em formalina tamponada 8-10%. Em laboratório as amostras foram coradas com solução alcoólica de rosa de bengala. A triagem dos organismos foi feita em bandejas brancas de PVC sobre uma fonte de luz. Os espécimes isolados foram fixados e preservados em álcool 70% e identificados até família, com exceção dos Chironomidae, para a qual se atingiu nível genérico.
RESULTADOS:
Durante o período experimental foi produzida uma biomassa total de dourado e jundiá de 252,59kg, sendo que o consumo total de ração foi de 480,97kg. Os resultados obtidos indicaram que a densidade total dos macroinvertebrados foi muito variável entre os pontos e períodos analisados (controle: 34 a 106; TR-0: 35,4 a 175,3; TR-40: 0 a 137,7; TR-80: 17,7 a 106,1 e TR-120: 17,7 a 61,9 indivíduos.m2). No geral, os maiores valores de densidade de organismos foram registrados antes da estocagem dos peixes (março/05) e os menores valores em outubro/05. Chironomidae e Oligochaeta (Família Naididae) foram os grupos mais freqüentes na comunidade. Foram identificados e registrados 17 gêneros de Chironomidae. A composição da comunidade bentônica foi bastante heterogênea nos pontos e períodos estudados. Com relação aos valores de riqueza (somatória de grupos encontrados nas amostras) foi observado que esta foi mantida no ponto controle e nos pontos com distância igual ou superior a 40 metros dos tanques-rede durante todo período de estudo, tendo sido observado um aumento em fevereiro/06 (final do experimento) em alguns desses pontos. Já no TR-0 (abaixo dos tanques-rede) foi verificado declínio desses valores.
CONCLUSÕES:

Nesse experimento o desempenho dos peixes não foi considerado satisfatório, estando relacionado provavelmente a três fatores: utilização de densidade de estocagem inadequada, estresse ocasionado durante as biometrias e baixas temperaturas durante o período de inverno. A baixa redução da riqueza de grupos observada abaixo dos tanques-rede pode ser um indício de alteração da qualidade ecológica do ambiente. A instabilidade da fauna bentônica pode ser explicada pelo fato do reservatório ser recente e as comunidades ali presentes estarem em processo de adaptação, possivelmente, ocorrendo a diminuição de alguns grupos da fauna bentônica e o favorecimento de outros que estejam encontrando condições mais favoráveis para sua colonização. Neste experimento, de curta duração, deve ser considerado que o consumo dos peixes foi baixo, o que fez com que uma pequena quantidade de resíduos tenha sido lançado ao ambiente.

Instituição de fomento: Tractebel Energia e CNPq
 
Palavras-chave: Tanques-rede; Comunidade bentônica; UHE Itá .
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006