Esse trabalho tem como objetivo analisar os personagens negros presentes no romance, Fogo Morto (1943), história que se passa no final do século XIX, nos engenhos decadentes do município de Pilar, na Paraíba obra de José Lins do Rego (1901-1957), pensando-os em relação à sociedade escravocrata e coronelista na qual se ambienta o romance. Desmistificando a tese sobre o caráter humano e harmonioso da relação entre negros e brancos nesse período no Brasil, que foi levantada por Gilberto Freyre contemporâneo de José Lins do Rego.

Utilizando a literatura como instrumento para a compreensão de um determinado período histórico, além da obra de José Lins e Gilberto Freyre, usamos como fonte de pesquisa complementar, obras de comentadores de ambos autores, sociologia da literatura, crítica literária e historia do Brasil.

Os nossos resultados indicam que no livro Fogo Morto, apesar de algumas identificações de José Lins com o pensamento de Gilberto Freyre e suas idéias sobre a formação do Brasil, a narração dos fatos cotidianos denuncia as situações de um mundo alicerçado na violência e desprezo dos senhores para com os subalternos, relações nada harmoniosas entre os senhores e seus escravos, assim como a triste vida dos negros libertos às franjas da escravidão.

Nossas conclusões, indicam que os negros são mostrados como símbolo do poder dos proprietários e aparecendo de forma estereotipada, muito mostram, através das situações nas quais estão envolvidos, sobre a posição do negro- escravo e do negro recém- liberto na sociedade, suas maneiras de resistir a ordem existente, mostrando que mesmo depois da abolição a herança da escravidão é mantida. Apesar de Gilberto Freyre ser o grande mentor do projeto de uma literatura regionalista e José Lins do Rego o seu mais afinado discípulo, as relações raciais expostas no romance Fogo Morto parecem questionar as teses do sociólogo.