O crescimento da morbidade e da mortalidade por causas externas tem adquirido  importância considerável como um grave problema de saúde pública. Suas conseqüências são indiscutíveis, produzindo repercussões econômicas e sociais e afetando intensamente a qualidade de vida da população. Segundo o IBGE, as causas externas provocaram no país, entre 1980 e 2000, cerca de 2 milhões de mortes. Em 2000, foram a segunda maior causa de morte no país (14,5% do total de mortes). Em 2003, o instituto calcula que 11% do total de óbitos registrados no país decorreram da violência. Segundo dados da Secretaria de Saúde de Alagoas, obtidos a partir do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), em 2002 as causas externas foram a segunda causa dos óbitos informados no estado, ficando atrás apenas das doenças do aparelho circulatório. Em relação à morbidade, sabe-se que são causas freqüentes de atendimento e internação hospitalares. Assim, os números concernentes às internações servem como bom indicador do impacto gerado pela violência na sociedade. O presente trabalho tem como objetivo a descrição e análise a respeito do impacto da violência nas internações hospitalares em Alagoas no ano de 2003, destacando os meses e municípios de ocorrência, faixa etária, tipo de violência e clínicas básicas em que se deram os atendimentos.                                                                                                      

 Estudo transversal ecológico, utilizando o Banco de Dados do Sistema de Informações Hospitalares do DATASUS, constituído a partir das informações contidas nas autorizações de internação hospitalar (AIH) no ano de 2003, onde foi feita a busca através do CID-10 (grupo XX), que corresponde às causas externas. No campo informações de saúde foram feitas buscas das seguintes variáveis: meses de ocorrência das internações; faixa etária classificada de acordo com a padronização do sistema em: menor que 1 ano, 1-4, 5-9, 10-14, 15-19, 20-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60-69, 70-79 e 80 e mais anos; ocorrência por municípios do estado; freqüência por clínicas básicas de atendimento e tipo de causa externa. Os dados foram expressos em média e desvio padrão. Os percentuais simples, cálculos da incidência e prevalência foram obtidos através de fórmulas clássicas. O programa Microsoft Office Excel XP versão 2003 foi utilizado para os cálculos estatísticos e construção dos gráficos.

 Em 2003, o número de internações hospitalares conseqüentes às causas externas no estado de Alagoas foi de 8.903 (média de 24,4 internações / dia) e desse total 308 (3,5%) evoluíram ao óbito. O mês de janeiro foi o que apresentou o maior percentual de 10%. Em relação à faixa etária os maiores percentuais encontrados foram de 21% na faixa de 20 a 29 anos, seguido por 14% na idade de 30 a 39 anos,os chamados adultos jovens. Chama também atenção o percentual de 11% de internações em crianças nas faixas etárias de 5 a 9 anos e de 10% entre as de 10 a 14 anos semelhantes aos adolescentes de 15 a 19 anos. Quanto aos municípios, as cidades de Maceió e Arapiraca responderam por 85% das internações (72% e 13%, respectivamente) já os demais municípios do estado compreenderam 15%. Sobre os tipos de atendimentos a clínica cirúrgica representou 88%, clínica médica 10,5%, pediatria 1,5% e obstetrícia 0,01%. Em relação aos tipos de causas, a categoria Outros Acidentes apresentou o maior percentual  30,8% no qual estão contidos afogamentos, exposição ao fogo e chamas, explosões, exposição a produtos químicos, entre outras. As Quedas, com percentual de 30,4%, acidentes de Trânsito e Transporte com 20,8%, agressões físicas e tentativas de homicídios com 13% foram às causas subseqüentes de internação.

As causas externas destacam-se como causas importantes de morbidade e mortalidade em Alagoas apresentando certa singularidade, especificamente maiores índices em jovens adultos de 20 a 39 anos e entre crianças de 5 a 9 anos. Destaque-se que as quedas e os acidentes de trânsito e transportes apresentaram-se, no ano de 2003, muitos superiores as agressões físicas e homicídios. Isto indica que ainda não estão sendo reproduzidos em Alagoas os mesmos padrões similares de violência aos outros estados brasileiros, embora, a violência deva estar sempre incluída entre os principais problemas de saúde pública por acometer principalmente a parcela economicamente ativa da população, afetando negativamente a expectativa de vida, aumentando os custos em saúde.