Este estudo buscou investigar a relação entre o processo de trabalho e a criatividade em uma Instituição Pública de Ensino, Pesquisa e Extensão. Para o desenvolvimento de um trabalho criativo, o trabalhador destas Instituições necessita de certas condições. Estas condições, por sua vez, não são um fenômeno isolado. Acredita-se que, em parte, sejam reflexos do processo de trabalho, o qual, no nível da macroestrutura, é reflexo de políticas públicas educacionais, que por sua vez refletem o modo de produção capitalista.

Partindo do concreto, do trabalho da função-meio do servidor técnico-administrativo da Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, objetivou-se caracterizar como ocorre o processo de trabalho, analisando conteúdos como a atividade de planejamento, o controle e a autonomia, e a tomada de decisão do grupo pesquisado, para compreender este trabalho em sua dimensão de criatividade.

O estudo caracteriza-se como sendo empírico, descritivo, constituindo-se em um estudo de caso com abordagem qualitativa.

Para a realização da pesquisa foram utilizados dados secundários, levantados a partir da documentação e/ou publicações da UFSC, e dados primários, obtidas por meio de entrevista semi-estruturada. Os dados coletados receberam tratamento qualitativo por meio da análise documental e de conteúdo. A análise de documentos versou sobre a legislação da UFSC, como também sobre publicações da Instituição. As informações obtidas por meio das entrevistas semi-estruturadas foram interpretadas através da análise de conteúdo.

O processo de trabalho foi analisado por meio dos conteúdos: planejamento; controle e autonomia; e tomada de decisão.

A forma como a UFSC planeja suas atividades não é definida nem clara para o grupo pesquisado. A maioria dos entrevistados não sabe se a Instituição adota algum planejamento, e se adota, como o faz. Isto evidencia que, de forma geral, o planejamento das atividades da UFSC não faz parte da sua realidade de trabalho. Investigou-se também, o planejamento das atividades do grupo pesquisado, no nível de sua unidade de lotação. Entretanto, novamente observou-se que para os entrevistados, a atividade de planejamento está divorciada da execução do trabalho de forma que o servidor se restringe, muitas vezes, à mera execução das tarefas.

Para o grupo pesquisado, de modo geral, parece existir um autocontrole sobre o método de execução do trabalho, evidenciando uma certa autonomia no desenvolvimento do trabalho. Para estes servidores, a autonomia aparece como uma conquista associada à qualificação profissional e à sua atitude de responsabilidade frente ao trabalho. O sentimento de liberdade aparece fortemente associado à idéia de controle e autonomia que se associa à possibilidade de expressão da criatividade.

Os dados da pesquisa revelam que o processo de trabalho do grupo pesquisado caracteriza-se por: um planejamento não claro, com baixa participação e envolvimento do servidor e restrito ao nível de execução do trabalho; uma autonomia relativa, focada em aspectos operacionais do trabalho; e uma participação parcial no processo de tomada de decisão.

Por um lado, pode-se perceber a ausência de políticas institucionais que remetam a um trabalho capaz de atingir metas estabelecidas partilhadas, e, por outro lado, se enfatiza um fazer relativizado em autonomia. Há um indelével matiz de que a autonomia que se concede é dada pelo fazer que se sabe e não pelo fazer decorrente de um planejamento que inclui o conhecer e as possibilidades do servidor intervir, e esta realidade, acredita-se, inibe o próprio fazer e o ser.