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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 1. Gerontologia
O SIGNIFICADO DO ENVELHECIMENTO E DA VELHICE PARA O IDOSO OCTOGENÁRIO

Silvia Maria Azevedo dos Santos 1, 2
Soraya Baião Maragno 2
Claudia Breda 2
Ana Luiza Melhado Silva 2
Ângela Cristina de Mattos Braga 2
(1. Departamento de Enfermagem da UFSC; 2. Núcleo de Estudos da Terceira Idade - Universidade Federal de Santa Catarina)
INTRODUÇÃO:
 

O aumento da longevidade vem despertando interesse sobre o tema do envelhecimento humano e questões como o envelhecimento, a velhice e o ser idoso vem sendo objeto de estudos nas mais diversas áreas do conhecimento. Embora considerada uma conquista social, o aumento da longevidade traz consigo a ameaça do aumento das doenças crônico-degenerativas e seus conseqüentes processos de dependência. Esse dado, uma vez compreendido isoladamente, sem uma visão abrangente e crítica, parece ser suficientemente significativo na conceituação negativa das pessoas mais velhas como dependentes, funcionalmente e mentalmente incapazes, solitários e infelizes (NERI, 2004). Parece-nos que os mitos e estereótipos sobre o envelhecimento atingem principalmente a velhice em sua fase mais avançada, pois ainda sabemos relativamente pouco sobre ela, tendo em vista que representa um fenômeno novo na história da humanidade. Atualmente, o paradigma mais corrente na Gerontologia, diz respeito ao processo de envelhecimento como um processo marcado pela heterogeneidade e pela diversidade por suas características dependentes de circunstâncias histórico-culturais, de fatores intelectuais, de personalidade além dos fatores referentes à saúde física e mental. Frente ao exposto o objetivo da presente pesquisa foi investigar as diversas concepções de envelhecimento e velhice entre octogenários e compreender como eles experienciam esses processos.

METODOLOGIA:
Nesse estudo adotamos como  referencial teórico a teoria life-span do desenvolvimento no ciclo vital e como abordagem metodológica a pesquisa qualitativa fazendo uso do tipo exploratório. Trabalhamos com uma amostra intencional constituída por vinte idosos octagenários de ambos os sexos, residentes em Florianópolis ou em seu entorno, que mediante convite aceitassem participar da pesquisa. Adotamos como critérios de inclusão o sujeito ser lúcido e orientado, que apresentasse linguagem compreensiva e expressiva preservadas e que estivesse em condições de estabelecer comunicação verbal. A técnica escolhida  para coleta dos dados foi a de entrevista semi-estruturada, realizada em sua maioria nos domicílios ou locais escolhidos pelos sujeitos, mediante agendamento e consentimento prévio. Foi solicitada permissão para gravação das entrevistas em fitas cassete. As entrevistas se realizaram de acordo com os preceitos éticos, mantendo-se o sigilo e anonimato dos informantes e utilizando-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme preconizado pela Resolução 196/96  do Ministério da Saúde. O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina, tendo sido aprovado na reunião do dia 27/06/2005. A partir dos textos gerados pela transcrição das entrevistas procedeu-se a análise dos dados, segundo os princípios de análise de conteúdo proposta por Bardin (1977).
RESULTADOS:
 

Do ponto de vista de dados sócio-demográficos  nossa amostra se configurou com as seguintes características:  85 % dos idosos eram do sexo feminino e 15 % do sexo masculino. A idade mínima foi de 80 anos e a máxima de 90 anos. Quanto a escolaridade 10 % identificaram-se como analfabetos, 55 % haviam estudado até as primeiras séries do ensino fundamental, 20 % possuíam ensino médio incompleto e 10 % completo, sendo que 5 % não informou sua escolaridade. A grande maioria dos sujeitos eram viúvos (65 %) e os que eram casados vivam com os cônjuges. No tocante a moradia 50 % dos informantes residiam com outros familiares ou tinham filhos e netos morando com eles. Moravam sozinhos 35 % e morava apenas o casal de idosos  em 15 % dos casos. A análise do conteúdo das entrevistas permitiu num primeiro momento que se identificasse diversas categorias, no momento seguinte fomos descobrindo as similaridades e diferenças entre as mesmas e assim chegamos aos quatro eixos temáticos que pensamos ser a síntese do que foi o dito pelos nossos informantes, são eles: idosos que relatam não sentir o envelhecimento e a velhice; relatos do “sentir” o envelhecimento e a velhice a partir de mudanças  da aparência física, das limitações na capacidade funcional e da  auto-percepção do processo saúde-doença; o envelhecimento e a velhice como continuidade da história de vida; o envelhecimento e a velhice retratados em diferentes discursos.

CONCLUSÕES:
 

De modo geral os idosos que fizeram parte dessa pesquisa relataram não sentir o processo de envelhecimento e a velhice na perspectiva cronológica. Parece-nos, que a idade foi percebida por eles como uma pertença onde, de fato, esses indivíduos não têm uma idade, mas pertencem a ela e através dela se inscrevem em determinados grupos de idade. A subjetividade implícita na apreensão da passagem do tempo se revelou através das diferentes experiências vividas, especialmente, nas seguinte situações: perdas ou morte de cônjuges ou familiares; mudanças na aparência ou limitações físicas e desenvolvimento de doenças crônicas.  Esses idosos  recorreram a várias estratégias para o enfrentamento desses eventos de vida e conseguiram manter seu bem-estar subjetivo. Depreendemos que este envelhecimento bem-sucedido depende de vários aspectos, tais como:  características de personalidade de cada idoso,  saber utilizar seus recursos internos,  poder contar com uma rede de suporte familiar e social efetivas e de circunstâncias sócio-econômicas favoráveis. Os pontos evidenciados nas falas dos idosos nos remeteram à heterogeneidade existente no viver e conceber o envelhecimento e a velhice o que confirma que o desenvolvimento é um processo multidimensional e multidirecional, que não ocorre de maneira linear. Esse é marcado pela tensão entre ganhos e perdas, limites e potencialidade que se faz muito presente na vida dos octogenários.

 
Palavras-chave: Velhice; Envelhecimento; Idosos Octogenários.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006