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F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Planejamento Urbano e Regional - 2. Métodos e Técnicas do Planejamento Urbano e Regional
CARÊNCIAS COLETIVAS NAS METRÓPOLES DO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO: POR UMA CARTOGRAFIA DO PROTESTO
Ana Clara Torres Ribeiro 1
Michele Nascimento 1, 2
Pedro Bernardes Pinheiro 1, 4
Thiago Façanha Lotfi Silva 1, 2, 3
(1. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, UFRJ; 2. Departamento de Geografia, UFRJ; 3. Observatório de Favelas do Rio de Janeiro; 4. Departamento de Geografia, UERJ)
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é desenvolvido no Laboratório da Conjuntura Social: tecnologia e território (LASTRO), do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) / UFRJ. Insere-se no projeto 'Cartografia da Ação e Análise da Conjuntura: reivindicações e protestos em contextos metropolitanos', que visa desenvolver metodologias adequadas à análise do cotidiano metropolitano, através da valorização de mutações, por vezes de difícil percepção, na conjuntura social e política. Tais mutações são examinadas a partir de uma leitura, dos contextos metropolitanos, que apóia-se nas práticas (reivindicações e protestos) de múltiplos atores e sujeitos sociais.
Através do registro sistemático destas práticas sociais, busca-se reconhecer, com a realização de exercícios cartográficos, variações nas relações sociedade-espaço construídas pela ação social na cena metropolitana.
O estudo contempla, ainda, a comparação entre ações espontâneas e organizadas, enfatizando, com base em análise criteriosa da informação veiculada pela grande imprensa, formas de apropriação do espaço metropolitano associadas a diferentes pautas reivindicativas e bandeiras de luta. Desta maneira, as carências urbanas serão examinadas através dos rumos assumidos pela ação social e, não, como é mais freqüente, através de indicadores que desconsideram a face política e subjetiva das necessidades coletivas.
METODOLOGIA:

O trabalho é desenvolvido a partir da classificação da informação da grande imprensa, que envolve a coleta diária de notícias sobre as diferentes formas assumidas pela ação social nos contextos metropolitanos. Tais informações são decompostas, num conjunto de variáveis, tendo em vista a alimentação do 'Banco de Ações e Processos Sociais' (BAPS), cuja arquitetura foi definida pelo LASTRO. Este Banco tem sido alimentado, desde 1999, para as Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo, através, respectivamente, de matérias dos periódicos 'O Dia' e 'Folha de São Paulo'. Também como suporte analítico, são desenvolvidas avaliações periódicas das fontes utilizadas e pesquisas de campo, complementadas pelo recurso à literatura disponível.
Neste trabalho, propõe-se um recorte das Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo no período de 1999 até 2004, privilegiando-se a análise das carências denunciadas pelas ações recolhidas e classificadas no (BAPS). As carências serão apreendidas através de grandes temas, relacionados a áreas de responsabilidade do poder público.

O trabalho apropria-se da denominada 'Cartografia da Ação', desenvolvida pelo Laboratório, como apoio à análise de mutações no âmago do tecido social e de problemáticas inscritas (e traduzidas) nas ações estudadas. Esta técnica, que exige a reflexão da escala da ação e dos limites apresentados pelas bases cartográficas disponíveis, é complementada por imagens oriundas do acervo documental do LASTRO.
RESULTADOS:

Os resultados obtidos para o período proposto demonstram que nas duas metrópoles, as manifestações concentram-se em deficiências das políticas públicas relacionadas às questões do ‘Trabalho’ e da ‘Violência’, entretanto, os formatos dessa ação são profundamente diferentes, já que as motivações das manifestações possuem origens históricas distintas. Dessa forma, o ‘Trabalho’ no Rio de Janeiro é fundamentalmente reivindicado por trabalhadores informais, e em São Paulo, reivindica-se melhores condições de trabalho e a volta da organização trabalhista, que existia, até recentemente, sobretudo para a classe operária e os trabalhadores dos serviços de ponta. Já a problemática da ‘Violência’ ultrapassa os contextos dessas Regiões, sendo atualmente debatida em todo o país, o que explica que uma grande parcela de protestos relacione-se a essa questão nessas áreas. Porém, a generalização da questão da violência não impede que singularidades possam ser reconhecidas através de um exame das relações espaço-sociedade em cada contexto metropolitano.

As demais carências coletivas trabalhadas são: ‘Habitação’, ‘Transportes’ e ‘Educação’, com incidência relevante nas manifestações ocorridas nas duas metrópoles. O fato da presença destas questões ser diferente, para cada metrópole, e a ação assumir formatos diferenciados, faz com que a análise comparativa, realizada através de gráficos e mapas, colabore para a compreensão mais aprofundada da face ativa da experiência urbana brasileira recente.
CONCLUSÕES:

Conclui-se ser necessário valorizar a politização da vida urbana, através da observação da ação social. Assim, não se considera suficiente, o estudo objetivo dos deficits de atendimento dos serviços públicos.

Sem dúvida, as duas Regiões Metropolitanas trabalhadas possuem uma problemática semelhante no que concerne ao elenco das principais carências coletivas. Porém, as singularidades emergem quando são considerados os atores envolvidos e os formatos da ação social. Uma reflexão mais atenta das motivações permite destacar, ainda, as origens históricas diferenciadas das manifestações. Assim, por exemplo, a oposição entre “favela” e “asfalto”, tão marcante na história política do Rio de Janeiro, atualiza-se nas formas de protesto contra a ‘Violência’. Por outro lado, a elevada incidência das manifestações relativas ao ’Transporte’ no Rio de Janeiro exige a reflexão da crescente instabilidade dos fluxos nesta metrópole e da inexistência de uma experiência, similar a de São Paulo, no que concerne à estruturação da circulação urbana. Por fim, o maior volume de manifestações relativas à ‘Habitação’ em São Paulo impõe a consideração da tradição da luta por moradia nesta metrópole, além de uma provável maior capacidade de resposta por parte da administração pública.

Com isso, evidenciamos as reflexões estimuladas pelo BAPS, produzindo trabalhos que permitam demonstrar as transformações estruturais, em curso nas metrópoles brasileiras e valorizar as práticas sociais e o cotidiano.
Instituição de fomento: CNPq, FAPERJ, UFRJ/PR-2
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Ação Social; Carências Coletivas Urbanas; Cartografia da Ação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006