IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

DOCÊNCIA E GÊNERO

Josilaine Antunes Pereira 1
(1. Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC)
INTRODUÇÃO:

Este estudo descreve uma reflexão, de como se estabelecem as relações de gênero entre os docentes que atuam nas redes de ensino público estadual e municipal, particular e numa entidade de educação não formal[1]. Afinal, como se constrói o ser homem e o ser mulher? A autora deste trabalho, em suas práticas educativas, sempre gostou desta temática, constituindo-se numa das razões da escolha deste tema. Outra razão, quem sabe a principal, é que não existe verdadeira democracia, enquanto não se democratizarem as relações entre homem e mulher. É preciso romper com uma série de preconceitos construídos contra a mulher, ainda objeto de “cama e mesa”. Crê-se que este processo, demanda fundamentalmente uma nova cultura, para a construção e vivência de novas relações de gênero. Então, o caminho tem seu início no ventre materno, na educação das crianças e adolescentes em todos os espaços que ocupam. Um destes espaços privilegiados é a escola. Perguntou-se, então se os valores que forjaram as relações de gênero na região, não persistem no interior das famílias de onde são oriundos os docentes e discentes, objeto desse trabalho? Este estudo analisou a partir da pesquisa de campo como esses docentes, reproduzem, constroem ou ressignificam no cotidiano seus conceitos e relações de gênero.



[1] Termo utilizado para caracterizar a educação não formal e/ou apoio sócio educativo em meio aberto como preconiza o ECA. Cuja instituição desenvolve práticas educativas fora do ambiente escolar formal.

METODOLOGIA:

Esse trabalho foi orientado pelas referências teóricas de LUDKE E ANDRÉ (1986), quando mostram as características da concepção qualitativa na pesquisa em educação, onde ao lado da observação a entrevista se caracteriza como instrumento de pesquisa fundamental. Portanto foram entrevistadas (os) 17 docentes, sendo 2 homens e 15 mulheres, dos quais 3 do ensino particular, 4 da rede pública municipal, 4 do ensino público estadual e 6 educadoras da educação não escolar. Na entrevista abordou-se as seguintes questões: 1) Você já ouviu falar sobre o tema Relação de Gênero? 2) Se perguntasse para você o que é Relação de Gênero? Saberia conceituar? 3) Poderia definir o que é diferença biológica e diferença de gênero? 4) A escola trabalha gênero? E você trabalha gênero na sala de aula? 5) Como você vê a relação de gênero entre docentes/docentes, docentes/discentes e discentes/discentes. 6) Como você vivencia a relação de gênero no cotidiano? 7) Na sua opinião, a educação dada a menina e ao menino, tem que ser diferente? Por quê? 8) O que você pensa das desigualdades entre homens e mulheres? 9) Você acha importante que a família, a escola e a sociedade reflitam sobre o tema relação de gênero? Por quê? 10) Quando se é criança as pessoas costumam dizer: “Homem não chora”; “A cor rosa é de menina e o azul é de menino”; “Quem brinca de boneca é menina e de carrinho é menino”; O que você acha dessas expressões usadas? 11) É possível a construção de novas relações entre o homem e a mulher?

RESULTADOS:

Pode-se afirmar que na escola da rede particular, no ensino público municipal e estadual as relações de gênero ainda é algo bastante novo, e por isso não é uma temática privilegiada no currículo, isso é percebido nas respostas que são bastante fragmentadas, com uma conceituação muita confusa, sobretudo as diferenças biológicas são confundidas com as diferenças de gênero. As/os entrevistadas/os responderam que já ouviram falar, mas não sabem ao certo do que se trata. Que a escola não trabalha esta temática. Bem como confundem sexualidade/afetividade com relações de gênero. Já no que se refere aos docentes/discentes disseram que os professores acabam reforçando as desigualdades. No entanto concordam que é possível a construção de novas relações entre o homem e a mulher, porém será paulatinamente. Ressaltaram a importância da sociedade, da família e da escola refletirem este tema. Já, as educadoras que atuam na educação não formal conceituaram com bastante clareza e conhecimento, disseram que em sala de aula o tema é trabalhado, pois é um dos projetos desenvolvidos na entidade. Percebe-se pelas entrevistas que as educadoras têm um conhecimento significativo em relação à temática. As entrevistadas afirmam que a família, a escola e a sociedade de modo geral devem urgentemente discutir as questões relacionadas a gênero. Sobretudo, acreditam na construção de novas relações entre o homem e a mulher, através do diálogo, da educação, da compreensão e do respeito ao “outro”.

CONCLUSÕES:

Em termos comparativos, pode-se deduzir das entrevistas realizadas que o tema das relações de gênero, praticamente não é trabalhado na rede de ensino particular, público municipal e estadual, nem como relações sociais no cotidiano escolar, tampouco, como conteúdo curricular. Enquanto que na educação não formal o tema tem grande relevância, tanto nas relações interpessoais entre os educadores, como um tema privilegiado no desenvolvimento dos conteúdos curriculares. Destaca-se ainda nessa última entidade a preocupação de articular uma ação pedagógica envolvendo docentes, discentes, suas famílias e a sociedade. As entrevistas revelam a clareza ou a confusão em nível conceitual. Para os docentes do ensino formal, os conceitos são difusos ou ausentes, enquanto que para os docentes da educação não formal eles são muito claros. Uma questão que persiste, é saber por que o tema das relações de gênero é desconhecido e/ou irrelevante no ensino formal, espaço de maior contingente de educadores e educandos, e muito presente na educação não formal? Não estaria aí um objeto para uma próxima investigação? Sendo assim, do ponto de vista de uma pedagogia libertadora, impõe-se a necessidade de rever as políticas públicas no sentido de privilegiar a temática das relações de gênero nos currículos escolares correspondentes. Quanto às escolas particulares cabe a revisão corajosa de seus conteúdos programáticos e enfrentar no cotidiano e nos seus currículos o tema das relações de gênero.

 
Palavras-chave: gênero; docência; escola.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006