O presente trabalho trata da formação de professores na Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS. Partimos da compreensão de que a formação de professores (inicial e continuada) constitui uma das problemáticas significativas da área educacional. Nosso foco de análise foi a questão dos parâmetros teórico-metodológicos que orientam a formação inicial de professores na UEFS. Parâmetros teórico-metodológicos são elementos - princípios, diretrizes, pressupostos, fundamentos - que articulados ampliam nossas possibilidades de abordar a realidade (no sentido de sua compreensão, da produção de conhecimentos, do encaminhamento de ações, enfim de entender, explicar e agir no enfrentamento dos problemas postos pela existência). Objetivamos contribuir com as ações desenvolvidas nas IES públicas para reconceptualizar o currículo, orientados pela perspectiva de formação omnilateral. A relevância social da pesquisa está relacionada com a necessidade de estabelecermos novas referências para formação de professores articuladas com a construção de uma educação para além do capital.

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica/documental de cunho qualitativo. Para análise dos dados nos utilizamos da perspectiva hermenêutica-dialética. Para Minayo (1992) a interpretação, nesta perspectiva, está alicerçada em dois momentos. O primeiro por ela chamado de campo das determinações fundamentais.Diz respeito ao contexto sócio-histórico do grupo social em questão enquanto marco teórico fundamental para análise. O segundo momento é o do encontro com os fatos empíricos (ponto de partida e de chegada de qualquer investigação).A fonte utilizada para análise da pesquisa foram os documentos da área de prática de ensino do Departamento de Educação da UEFS: “Referências para formação docente na UEFS” e a “Proposta para regulamentação das 400 horas do estágio supervisionado em cursos de licenciatura de graduação plena - UEFS”.

Os documentos indicam que a formação de professores na UEFS está fortemente voltada para uma perspectiva instrumental. Situa-se entre aqueles que buscam adaptarem-se as demandas oficiais explícito, por exemplo, no fato de não fazer nenhuma referência à questão do Projeto Histórico. É sabido que projetos históricos distintos encerram concepções diferentes de homem, de mundo e de relações sociais donde acontece o processo de formação dos homens e mulheres. Encontramos elementos da “pedagogia das competências” sem argumentos que fundamentem tal opção, expressando profunda sintonia com o projeto de Mundialização da Educação (Melo, 2005). Os documentos indicam ainda a ausência de diálogo com o debate acumulado junto aos setores organizados da classe-que-vive-do-trabalho tais como FONDEP, ANPED, ANFOPE. Desta forma, em que pese os esforços a proposta não se situa entre aquelas que pretendem ir além do capital.

As nossas apontam para o fato de que os parâmetros teórico-metodológicos prevalecentes, na área de prática de ensino da UEFS, não apontam para uma formação sólida e ampla, na perspectiva da formação omnilateral. Estão ausentes elementos fundamentais para uma educação para além do capital, para utilizarmos a expressão do filósofo Húngaro Istvan Mészáros. Não encontramos referencias acerca de pontos tais como Projeto Histórico; a Crítica; a Base Comum Nacional; o Trabalho como fundamento e princípio pedagógico e a Concepção de Homem. Considerando que o debate acerca da formação se dá na tensão entre projetos antagônicos de sociedade, de educação, de homem, onde de um lado, estão os que privilegiam o desempenho da formação com vistas à competência e competitividade, tomando o mercado de trabalho como eixo central da formação. De outro lado, estão aqueles fundamentados na perspectiva da formação “omnilateral”. Esta é a referência que estamos propondo para balizar os parâmetros teórico-metodológicos da área de prática de ensino, e a formação de professores por entendermos que tal perspectiva contém os elementos fundamentais para a formação humana, devendo considerar - enquanto dimensões a serem desenvolvidas - os aspectos relativos ao plano do conhecimento histórico-científico e, igualmente, os planos bio-psíquico, cultural, ético-político, lúdico e estético.