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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem

PROBLEMAS DE LEITURA E ESCRITA  EM ALUNOS COM TRANSTORNO POR DÉFICIT DE ATENÇÃO/ HIPERATIVIDADE

Cristiane de Quadros Mansanera 3
Adriano Rodrigues Mansanera 1, 2, 3
(1. Centro Universitário Luterano de Palmas - CEULP/ULBRA - TO; 2. Universidade Federal do Tocantins - UFT - TO; 3. SEMED - Secretaria Municipal de Educação de Palmas - TO)
INTRODUÇÃO:

O transtorno por déficit de atenção/hiperatividade - TDA (CRUICKSHANK &  JOHNSON,1979) está sendo estudado há muitas décadas e a terminologia empregada para designar este distúrbio foi alterada várias vezes. Entretanto, ao longo desse tempo o transtorno continuou sendo definido como um distúrbio do desenvolvimento que se manifesta através de alterações no comportamento. Por exemplo, atualmente são privilegiados os comportamentos de desatenção e de impulsividade/hiperatividade.

Quanto à causa do distúrbio, apesar de os estudos ainda não serem conclusivos, há muitas evidências de que problemas genéticos, neuroanatômicos e neurofuncionais constituam a base biológica do transtorno por déficit de atenção/hiperatividade.

As pesquisas realizadas no Brasil seguem a mesma tendência dos estudos internacionais, ou seja, analisam os problemas comportamentais das crianças e dos adolescentes que apresentam o transtorno.

Desta forma, são poucos, ainda, os conhecimentos sobre os problemas de aprendizagem dos alunos com transtorno por déficit de atenção/hiperatividade, o que dificulta a elaboração de programas de atendimento educacional para esses escolares. Tal situação pode ser observada nas escolas de Maringá – PR, pois os alunos com déficit de atenção acabam sendo encaminhados para atendimento complementar ao do Ensino Regular, em Salas de Recursos. Nestas, acabam recebendo um reforço escolar e não um atendimento educacional específico.

A mudança dessa situação requer um maior conhecimento sobre as características, em termos de aprendizagem escolar, dessa parcela da população escolar.
Neste sentido, foram comparados nesta pesquisa os problemas de aprendizagem de alunos de 3a e 4a séries com transtorno por déficit de atenção/hiperatividade que freqüentam as Salas de Recursos de Maringá com os de estudantes do Ensino Regular.

METODOLOGIA:

O grupo experimental (TDA) foi formado por 35 alunos da 3a e da 4a séries das Salas de Recursos (Educação Especial) de Maringá - PR, com idade variando entre 9 e 12 anos e com sintomas de transtorno por déficit de atenção/hiperatividade. Estes escolares foram emparelhados a um grupo de controle (GC) formado por alunos do Ensino Regular, da mesma faixa etária e do mesmo nível de escolaridade do grupo experimental, e sem queixas de problemas de atenção e de aprendizagem.

Todos os pais dos alunos dos grupos experimental e de controle assinaram o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”, através do qual autorizaram a participação do (a) filho(a) na pesquisa, assim como o Projeto desta Pesquisa foi encaminhado para análise e parecer do Comitê de Ética da Universidade Estadual de Maringá e teve o parecer favorável.

Para a avaliação do desempenho escolar foram utilizadas provas informais e testes formais. No primeiro caso, foram elaboradas tarefas interpretação de texto e cópia. A habilidade de uso das rotas lexical e sublexical de leitura e escrita foi analisada através do Teste de Leitura e Escrita de Palavras Reais (Familiares) e Inventadas, construído e padronizado para a população brasileira por Kajihara et al. (2001).

A atenção seletiva, sustentada e alternada dos alunos foi avaliada através do Teste de Atenção Visual 2-R (TAVIS 2-R), atualmente o único construído e padronizado para a população brasileira por Duchesne et al. (s.d.) e que avalia o processo de atenção. Por se tratar de um teste neuropsicológico, o TAVIS 2-R foi aplicado em todos os alunos por um psicólogo.

O texto “A aposta”, escolhido para a atividade de cópia, foi escrito por Belinky (1996) e extraído de um livro de Português da 4a série do Ensino Fundamental. Esse texto foi escolhido porque, apesar de não ser longo (20 linhas e 193 palavras), continha muitos sinais de pontuação (travessão, vírgulas, reticências, ponto de exclamação, dois pontos e ponto final), o que tornaria a cópia uma tarefa difícil para crianças com dificuldade de concentração. Para a realização da atividade de interpretação de texto foi utilizado o texto “Pedro Urdemales”, extraído de um livro de Português da 4a série (MARSICO et al., 1996).

RESULTADOS:

Na cópia do texto ocorreram trocas de letras visualmente semelhantes, omissões de letras, acréscimos de letras, trocas na seqüência das letras nas palavras, omissões de acentos e repetições de palavras e frases.

Os erros na interpretação do texto, entretanto, parecem ser de outra natureza. Na atividade, os alunos com problemas de atenção (TDA) demonstraram dificuldade na interpretação do texto. É até possível que, conforme sugere Zentall (1993), a leitura  tenha sido comprometida por requerer a capacidade de atenção seletiva. Neste caso, a dificuldade de interpretação seria secundária em relação ao problema de atenção.

Os problemas de atenção dos alunos (TDA) foram confirmados pelo Teste de Atenção Visual 2-R (DUCHESNE et al., s.d.): eles têm maior dificuldade de selecionar estímulos (sistema de orientação), alternar (sistema executivo) e sustentar a atenção (sistema de alerta) do que as crianças e adolescentes da população normal (grupo de padronização do teste).

Tanto a tarefa de cópia de texto quanto a 1a tarefa do TAVIS 2-R (DUCHESNE
et al., s.d.) exigiram a capacidade de uso da atenção seletiva (sistema de orientação). Neste teste, a rapidez exigida para a seleção do estímulo-alvo parece ter favorecido o comportamento impulsivo (erros por ação) nos alunos com transtorno por déficit de atenção/hiperatividade. É provável, portanto, que esses escolares tenham problemas neurofuncionais ou neuroanatômicos em áreas responsáveis pela atenção. Para Posner e seus colaboradores, o transtorno por déficit de atenção/hiperatividade decorre de problemas no sistema executivo (FERNANDEZ-DUQUE & POSNER, 2001) e/ou nos sistemas de orientação e alerta (POSNER & RAICHLE, 1994).

Os estudantes com déficit de atenção não apresentam, lexicalmente, atraso na leitura; entretanto, na escrita têm mais dificuldade em termos de rota sublexical. Isso significa que os alunos com transtorno por déficit de atenção/hiperatividade necessitam de um programa de ensino de escrita e leitura respectivamente mais intensivo e menos intensivo. O grupo precisa desenvolver a atenção seletiva, sustentada e alternada; entretanto, os escolares com transtorno por déficit de atenção/hiperatividade necessitam de mais ajuda em nível de atenção seletiva (rede de orientação).

 

CONCLUSÕES:

Os alunos com problemas de atenção apresentam atraso na aprendizagem escolar e nível de dificuldade de atenção superior ao dos colegas do Ensino Regular.

O atraso na aprendizagem escolar demonstra a necessidade de os alunos com problemas de atenção (TDA) receberem atendimento educacional mais específico às suas necessidades. Para que isso seja possível, é preciso uma melhor caracterização dos problemas de aprendizagem desses alunos.

Nesse sentido, esta pesquisa revelou dados importantes. Justamente nas tarefas pedagógicas (cópia de texto) que mais exigiram a habilidade de uso da atenção seletiva (sistema de orientação) e sustentada (sistema de alerta). Esse resultado suscita a seguinte questão: o problema de atenção é o fator causal do atraso na aprendizagem escolar desses alunos?

Alguns dados sugerem que sim. Uma das evidências é que o baixo desempenho do grupo TDA na cópia do texto decorreu de erros de desatenção.

Os alunos com transtorno por déficit de atenção/hiperatividade apresentam problemas, principalmente em termos de atenção seletiva (rede de orientação) e sustentada (rede de alerta), os quais se manifestam nas tarefas de cópia. Entretanto, o nível de dificuldade de atenção seletiva é muito maior.

A utilização de tarefas de leitura e escrita revelou que os alunos com transtorno por déficit de atenção/hiperatividade necessitam de um programa de ensino de escrita e leitura respectivamente mais intensivo e menos intensivo.

Portanto, o atendimento educacional de alunos com transtorno por déficit de atenção/hiperatividade é possível, embora seja, ainda, um grande desafio.

 

 
Palavras-chave: PROBLEMAS DE LEITURA E ESCRITA ; TRANSTORNO POR DÉFICIT DE ATENÇÃO/ HIPERATIVIDADE ; APRENDIZAGEM .
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006