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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 10. Psicologia Hospitalar e Psicossomática

O ESTRESSE E O VESTIBULAR: POSSÍVEL GERADOR DE MANIFESTAÇÕES ORGÂNICAS?

Camila Tartari 1
Juliana Schultz 1
Bruna Holst 1
Irani Argimon 1
(1. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul / PUCRS)
INTRODUÇÃO:

Nos anos 70, houve um aumento de vagas nas universidades do Brasil, facilitando o acesso à formação superior daqueles que tiverem uma formação precária no Ensino Médio. Entretanto, a população brasileira aumentou consideravelmente desde a década de 70 até os dias atuais e as faculdades não seguiram o mesmo ritmo. Assim, apenas aqueles que tiveram uma educação qualificada e dispuseram de muita persistência, passaram a ter chances de ingressar numa universidade. A situação piora nas famílias sem condições financeiras de custear o estudo em uma universidade particular ou, por questões sócio-culturais, só aceitam o ingresso dos filhos em uma Universidade Pública, devido à crença de que isto representa um melhor status social. Mesmo com poder aquisitivo, os indivíduos buscam ingressar numa Universidade Pública, tirando o lugar daqueles que não dispõe da mesma condição. Assim, o concurso vestibular tornou-se bastante competitivo, gerando muita ansiedade e estresse aos participantes. O objetivo desta pesquisa é, então, verificar se os alunos que irão prestar vestibular apresentam níveis de estresse significativos durante o período de preparação para o concurso, podendo gerar manifestações orgânicas, ou seja, somatizações. A ocorrência de estresse prejudica o desempenho do estudante, já que afeta fatores que envolvem o seu processo de aprendizagem, além do prejuízo em aspectos emocionais.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada com 150 alunos de dois cursos de pré-vestibular da cidade de Porto Alegre, com idades entre dezoito e vinte e quatro anos. Todos os participantes deveriam ter o Ensino Médio completo. Primeiramente, entrou-se em contato com as instituições e foi combinada uma data para a aplicação, dentro das próprias instituições, durante o mês de novembro, o qual antecede a data de início do concurso vestibular nas universidades de Porto Alegre. Fez-se um Rapport e logo após, foi lido e assinado por todos os participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, explicando o objetivo do presente estudo. Para verificar o nível de estresse dos alunos e qual a sintomatologia apresentada - caso ocorresse -, foi utilizado o Inventário para Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (ISSL). Também foi aplicada uma entrevista estruturada composta por questões sócio-demográficas e outras mais específicas, referentes à escolha profissional, ao número de vezes que já prestou vestibular, para quais cursos e possíveis manifestações de somatizações decorrentes ao período pré-vestibular. O tempo de aplicação dos instrumentos foi de, aproximadamente, 40 minutos.

RESULTADOS:

A partir da análise dos dados obtidos através do ISSL, concluiu-se que os participantes apresentam um estado de estresse considerável, representando 67,7% dos entrevistados. Contudo, apenas 6,45% apresentaram sintomatologia física, ou seja, pode-se inferir que o concurso vestibular não é desencadeador de manifestações orgânicas em adolescentes, apesar de ser uma situação geradora de estresse. A grande parte da amostra apresentou sintomas psicológicos, todos na fase de resistência, que é a segunda fase do estresse, acontecendo quando a tensão acumula, mas o organismo ainda é capaz de lidar com o estresse. É interessante ressaltar que pessoas do sexo feminino apresentaram mais sintomas de estresse do que as do sexo masculino, porém essa diferença não foi significativa. Em relação ao sexo masculino, 68% apresentaram sintomas de estresse, enquanto que 75% do sexo feminino apresentaram esses sintomas. Além disso, o curso que mais apresentou interesse entre os entrevistados foi o de medicina, um dos cursos com maior densidade nas universidades em Porto Alegre. Esta questão pode ser um facilitador para a emergência de estresse, visto que a concorrência é muito mais acirrada, chegando até trinta candidatos por vaga. Sobre o desejo de entrar em uma Universidade Pública, 90,33% manifestaram esta vontade. Contudo, ao serem questionados se cursariam a faculdade em uma Universidade Particular, 58,06% afirmaram que sim.

CONCLUSÕES:

Uma das limitações do presente estudo, foi que 74,19% dos participantes terminaram o Ensino Médio em escolas particulares, o que nos leva a conclusão de que possuem um razoável nível econômico, podendo custear estudos em uma Universidade Particular. Isto pode ter interferido no resultado do estudo, pois caso a amostra fosse retirada entre jovens que concluíram o Ensino Médio em colégios públicos, a preocupação em ingressar em uma faculdade federal poderia ser maior, levando a um índice maior de somatizações. Concluiu-se, também, que reservar um tempo para atividades de lazer é mais produtivo, em relação aos resultados esperados no vestibular, do que dedicar todo o tempo apenas ao estudo. Entre os participantes, 87,09% afirmaram ter atividades de lazer durante a semana e também aos finais de semana. Esta, talvez, seja outra possível razão do não aparecimento de somatizações, pois uma grande parte da amostra realiza outras atividades além do estudo, apesar de existir um grande comprometimento para com os estudos, pois nenhum participante afirmou não estudar durante os finais de semana, o que acontece normalmente entre jovens que não estão se preparando para o concurso. Cabe ressaltar que é preciso uma conscientização social de que estudar em uma Universidade Particular não significa ser pior, ou ter menos status, que alunos de Universidades Federais. Estar em uma Universidade, ter acesso ao Ensino Superior, é o que realmente interessa.

Instituição de fomento: SESu/MEC
 
Palavras-chave: Vestibular; Estresse; Somatizações.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006