A luta pela identidade indígena se dá cotidianamente, ela está presente em hábitos aparentemente pouco relevantes, como a alimentação, ou em ações de maior envergadura, como nos casos em que determinadas comunidades indígenas se organizam em prol de um movimento reivindicatório. Não importa o alcance da ação a identidade está inextricavelmente contida em seu cerne.

Entre os Kaingáng da Terra Indígena Toldo Chimbangue, situada em Santa Catarina no município de Chapecó, não poderia ser diferente, suas lutas sejam por saúde, educação, proteção ambiental, terra, dentre outras, trazem a marca de sua identidade étnica. Ao desenvolvermos nossa pesquisa de mestrado, pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFSC, percebemos que a luta pela demarcação de suas terras engloba em certa medida todos os pontos elencados acima.

No presente trabalho, que é o resultado parcial de nossa pesquisa de mestrado, buscaremos perceber como a luta pela terra, ou melhor dizendo, sua retomada, representa a possibilidade de manutenção de sua cultura, em que haja terra para caçar, para fornecer matéria prima utilizada na produção de artesanatos, em que cresçam suas plantas medicinais e onde possam plantar, assegurando assim sua sobrevivência cultural e física.

Nesse sentido a terra exerce função capital dentro da cultura indígena, e a luta por sua conquista, não obstante as dificuldades encontradas, se apresenta como a oportunidade de continuarem a se identificar enquanto povo diferenciado.

A fim de que pudéssemos perceber a importância da terra como elemento fundamental na vida dos Kaingáng do Toldo Chimbangue, recorremos primeiramente a um levantamento bibliográfico acerca da Cultura Kaingáng de um modo geral, realizamos igualmente leituras específicas sobre o local em que desenvolvemos nossa pesquisa, bem como leituras referentes ao processo de identidade étnica, para que assim nos fosse possível melhor compreender suas especificidades.

Concluída essa primeira etapa partimos para elaboração de um roteiro de perguntas a serem dirigidas aos indígenas do Chimbangue, nossa intenção foi mapear a relevância da terra e sua ligação com a identidade étnica em várias faixas etárias e de ambos os sexos. Elaborado o roteiro e munidos de gravador portátil e fitas cassetes  partimos para a referida Terra Indígena onde fizemos o registro magnético das entrevistas. Foram entrevistadas pessoas que ocupam funções diversas dentro da comunidade, Cacique, Vice-Cacique, professores, estudantes e aposentados.

Após a gravação dos depoimentos passamos à fase de transcrição do conteúdo das fitas cassetes, procurando  fazê-la de modo que, sem prejuízo a compreensão dos leitores, figurasse o  mas próximo da maneira como as falas foram registradas. Tanto a produção das fontes obtidas por meio de entrevistas, quanto sua interpretação após a transcrição das mesmas, foram realizadas sob a luz do aparato teórico-metodológico fornecido pela História Oral.

Percebemos com base nas leituras que realizamos e na interpretação das fontes produzidas nas transcrições  dos relatos, que, para os Kaingáng do Chimbangue, a luta pela terra além de fortalecer a coesão entre os membros do grupo, posto que a base de um movimento reivindicatório demanda certa organização por parte daqueles que o compõem, também pudemos verificar que no decorrer do processo de luta pela demarcação a identidade indígena é um dos fatores que atuam como propulsores do movimento, seja como seu fomentador, ou como sendo o objetivo a ser defendido.

Concluímos que a terra e a identidade Kaingáng estabelecem entre si um estreito laço, uma ligação que perpassa desde de o mito de origem do povo Kaingáng, suas práticas tradicionais até sua sobrevivência física enquanto agricultores de base familiar. É nesse sentido que a luta pela terra é vista como tema de central importância na vida indígena.