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G. Ciências Humanas - 5. História - 10. Teoria e Metodologia da História

TEMPO, HISTÓRIA E SEMIÓTICA: IMAGENS DE CAPA NAS REVISTAS VEJA E MANCHETE (1968 E 1989)

Ana Cristina Teodoro da Silva 1
(1. Universidade Estadual de Maringá-UEM)
INTRODUÇÃO:
Os arranjos imagéticos da grande imprensa são ricos em indícios que apontam ao olhar contemporâneo. O trabalho envolvido na confecção de uma capa de revista, quando analisado, pode apresentar critérios do que é notícia para os editores do meio, com suas implicações políticas. Mais que isso, apresenta critérios de enquadramento da notícia que deve tocar o público do meio, para o que parece ser necessário ter habilidade na manipulação de elementos comunicativos. Por isso tais imagens são indicadoras de características culturais, de expectativas de seus produtores e mesmo de seu público, em alguma medida. A pesquisa procurou interpretar imagens de capa de revistas da grande imprensa, rastreando porque seriam bem sucedidas enquanto estratégias de comunicação e o que teriam a testemunhar sobre nossos padrões de olhar, em dois momentos marcados da história do Brasil no século XX: o início da censura durante o governo militar (1968-1969) e o ano da primeira eleição democrática pós-ditadura para Presidente da República (1989), em que a mídia imagética, especialmente a televisão, teria papel determinante.
METODOLOGIA:

Foram analisadas todas as imagens de capa das revistas Manchete, Veja e Isto é Senhor dos anos de 1968, 1969 e 1989, assim como os editoriais e as seções de cartas dos leitores. Catalogadas quais temáticas eram privilegiadas, a análise voltou-se para qual o tratamento que recebiam para serem comunicadas. Ao propor uma leitura do código dos corpos e das cores apresentados, o diálogo com conceitos da semiótica foi eficaz. Além disso, a comparação entre os períodos analisados, final da década de sessenta e final da década de oitenta, mostrou permanências e mudanças em um período movimentado da mídia nacional.

RESULTADOS:

No que diz respeito a avanço técnico, há alterações significativas na comparação das duas décadas em questão: alterações mas formas de impressão e do tipo de papel, por exemplo, resultaram em um produto final diferente. Porém a principal diferença percebida diz respeito a uma nova proposta editorial, representada pela revista Veja, que está começando em 1968 e que, em 1989, ocupa o primeiro lugar em vendagens.  A revista Manchete, líder do mercado em 1968, propagava um jornalismo objetivo, que se preocupava com a “verdade dos fatos” e investia em reportagens fotográficas, já que a fotografia era considerada um reflexo da realidade. Veja, em seu início, traz um jornalismo de opinião que, por vezes, se contrapõe à ideologia militar. Ao alcançar o primeiro lugar, a revista estará conformada à ordem política e econômica vigente. Eram pautas constantes das revistas questões da política nacional e internacional; economia; “descobertas” da ciência. O trabalho permitiu analisar a chamada grande imprensa nos anos sessenta e oitenta, bem como seus temas, as estratégias comunicativas e como as revistas lidaram e lidam com a memória propondo aos leitores uma interpretação da história.

CONCLUSÕES:
Existe um descompasso, nas fontes analisadas, entre o que se produziu no período em questão e o que, posteriormente, se procura associar à “imagem” do meio de comunicação. De acordo com o interesse e o contexto do presente, uma memória é ativada. As revistas analisadas têm periodicidade semanal, suas capas são um esforço de síntese das notícias da semana, de acordo com os critérios de suas editorias. O esforço de sintetizar, unido à periodicidade, fazem dos meios marcadores e organizadores do tempo. Mais que gerarem um discurso do mais importante, propondo uma organização das muitas informações semanais, as revistas marcam um ritmo. Constroem uma pauta, oferecem um ponto de vista e indicam o tempo da reflexão – ou mesmo de sua ausência.
 
Palavras-chave: tempo; memória; semiótica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006