O aumento da utilização do transporte aéreo nos últimos anos faz com que aeroportos através do mundo estejam em constante expansão e modernização para acomodar a crescente demanda. Em 2004, 3,9 bilhões de passageiros viajaram de avião, incluindo muitos dos tomadores de decisão. Tipicamente grandes, ensolarados e livres de sombreamento, os aeroportos aparecem como um grande potencial para a aplicação dos sistemas fotovoltaicos. Utilizando uma fonte renovável de energia, o sistema fotovoltaico converte diretamente a irradiação do sol em eletricidade através de um material semicondutor (e.g silício). Estática e silenciosa, esta tecnologia promissora de geração elétrica proporciona a possibilidade de aplicação junto ao ponto de consumo. A questão da mudança climática global decorrente da intensificação do efeito estufa, causada principalmente pela emissão de CO2 na atmosfera, é um tema atual. O transporte aéreo contribui consideravelmente para o aquecimento global. Emissões de gases pelas aeronaves correspondem a 3,5% das emissões globais de gases do efeito estufa com estimativa de dobrar este nível nos próximos 15 anos. Projetos que reduzam as emissões aparecem como impulsionadores do mercado de carbono. Aliando a utilização de uma fonte de energia renovável para compensar a poluição ambiental causada pelo transporte aéreo, este trabalho tem por objetivo determinar o potencial da utilização da energia solar nos aeroportos em substituição a outras fontes de energia poluidoras.

A metodologia aplicada no estudo compreende as fases de obtenção das informações sobre o consumo energético dos aeroportos brasileiros junto à INFRAERO - Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária e para os aeroportos internacionais junto à ACI - Airports Council International ou junto aos órgãos competentes; a obtenção da irradiação solar por meio do projeto SWERA - Solar and Wind Energy Resource Assessment e do programa RADIASOL; o cálculo da potência necessária para atender o consumo de energia elétrica do complexo aeroportuário adotando vários cenários onde o percentual de energia suprido pelo gerador solar varia; o cálculo da geração fotovoltaica em cada aeroporto analisando a aplicação dos módulos fotovoltaicos em coberturas, fachadas e pátios dos aeroportos - considerando as principais tecnologias disponíveis no mercado fotovoltaico e otimizando a integração buscando tornar os aeroportos uma vitrine da tecnologia para a sociedade; a fase de interpretação dos resultados numéricos relacionados ao potencial de geração elétrica relacionando os benefícios para a rede de energia elétrica pública; a fase de determinação da quantidade de emissão de CO2 evitada por utilizar uma fonte de energia renovável e o respectivo valor monetário no mercado de carbono. A metodologia ainda inclui as análises de: obtenção de recursos para implementação dos sistemas; do impacto no mercado mundial fotovoltaico e do mercado de carbono.

Ao utilizarmos a aviação, somos responsáveis por uma expressiva quantidade de emissão de CO2. A quantidade de emissão de CO2 por um único passageiro, em uma viagem de Miami ao Rio (calculada utilizando o programa Atmosfair), por exemplo, é de 2,4 tonCO2, o equivalente a 65,35 euros no mercado de carbono. Seguindo o princípio poluidor-paga, o estudo foi realizado adotando como uma alternativa de obtenção de recursos para a instalação dos sistemas fotovoltaicos nos aeroportos brasileiros, a cobrança de um acréscimo na taxa de embarque dos passageiros, onde seria possível financiar a integração dos sistemas. A irradiação utilizada no estudo foi a irradiação local dos aeroportos e foi adotado um aumento de R$ 0,20 na taxa de embarque. Os resultados mostram que, se os 96 milhões de passageiros que utilizaram o transporte aéreo no Brasil em 2005 pagassem essa sobretaxa, seria possível instalar um sistema fotovoltaico de 1,3MWp em menos de um ano no aeroporto de Florianópolis. Este gerador solar atenderia completamente a demanda energética deste aeroporto. Os resultados obtidos demonstram que a integração dos sistemas fotovoltaicos em aeroportos poderia suprir em 100% a demanda de energia elétrica dessas edificações e ainda que, utilizando a energia solar nos aeroportos em substituição a outras fontes de energia poluidoras, viabilizaria negociações no mercado internacional de carbono sob a forma de títulos de crédito compensando as emissões causadas pelo transporte aéreo.

A pesquisa pode possibilitar uma maior difusão quanto à utilização dos sistemas solares fotovoltaicos, de modo a tornarem visíveis os seus benefícios, tanto ambientais quanto energéticos; uma maior utilização destes sistemas pode proporcionar uma maior produção da tecnologia, baixando os custos, gerando empregos nas plantas de produção por conta de ampliações e/ou surgimento novas indústrias. A responsabilidade ambiental na operação, com a instalação de um sistema gerador que utiliza uma fonte de energia renovável nos aeroportos, pode compensar os impactos ambientais que possam ser provocados por suas atividades. Uma solução viável referente à obtenção de recursos financeiros para possibilitar a instalação dos sistemas fotovoltaicos nos aeroportos foi determinada. Impactos na rede de distribuição poderão ser notados pela diminuição da demanda do alimentador da região dos aeroportos e ainda, uma diminuição da carga consumida pelos aeroportos, auxiliando na diminuição da sobrecarga da rede elétrica pública. Os dados coletados e analisados dão um panorama geral sobre a viabilidade técnica e a eficiência do sistema fotovoltaico no setor estudado. Foi possível identificar a configuração de módulo fotovoltaico mais adequado às áreas de cobertura disponíveis, bem como o mais eficiente e indicado para as condições climáticas da região. A idéia toda pode se transformar em um novo nicho econômico, gerando necessidades e galgando posições dentro do cenário econômico atual.