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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
A RELIGIÃO COMO FUNDAMENTO NA ESCOLA PUBLICA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES
Bartira Telles Pereira Santos 1
Dora Leal Rosa 1
Reinaldo Matias Fleuri 2
(1. Universidade Federal da Bahia; 2. Universidade Federal de Santa Catarina)
INTRODUÇÃO:

A pesquisa, ora apresentada, tem como escopo amplo debate desenvolvido no campo científico da religião sobre o processo de secularização e laicização das instituições modernas. Centra interesse na escola pública de nível fundamental, primeiro ciclo, e nas práticas pedagógicas de professoras religiosas.

O estudo da Igreja, em todas as suas manifestações, sempre foi matéria obrigatória para aqueles que desejaram conhecer a sociedade brasileira. No Brasil, a religião e a sua expressão institucional Igreja, serviram de base para a constituição da sociabilidade e sensibilidades nacional, além de ter deixado marcas profundas na organização das estruturas político administrativas. A escola, por sua vez, desde o Brasil colônia, constituiu-se como âmbito privilegiado de sua atuação.

Embora o Brasil ainda esteja marcado por uma especificidade religiosa, em que o catolicismo aparece como elemento predominante, este estudo se centrou no fenômeno neopentecostal, uma experiência de conversão evangélica de origem protestante que vêm nos últimos anos ganhando corpo graças ao proselitismo ativo de pastores, associado a um plano empresarial e um eficiente aproveitamento dos meios de comunicação de massa. A escolha está condicionada, sobretudo, à nossa experiência de pesquisa com o universo evangélico vis a vis a importância do fenômeno no campo religioso brasileiro.

            O objetivo mais geral desse trabalho foi identificar e analisar os modos através dos quais as crenças morais e espirituais das professoras foram traduzidas em práticas pedagógicas.
METODOLOGIA:

A pesquisa apresentada possui caráter exploratório. Corresponde a um primeiro exercício de investigação realizado no primeiro e segundo semestre letivo do mestrado, ora em desenvolvimento.

Em se tratando de um estudo de natureza exploratória, o objetivo central da pesquisa é o avanço da problemática para caminhos que conduzam a uma formação cada vez mais complexa.

Este investimento constitui, portanto, um primeiro passo para o desenvolvimento de uma investigação em que as questões referentes ao pertencimento religioso evangélico-neopentecostal e escola serão melhor aprofundadas.

Para realização da investigação, foram selecionadas quatro escolas de Ensino Fundamental, vinculadas à rede Municipal de Salvador/BA, duas delas localizadas em bairro reconhecido como bairro nobre e outras duas em bairro popular.

Para realização da pesquisa, foram selecionadas nas escolas classes da 3ª série do ensino fundamental, foram observadas no total 6 salas de aulas; o critério para seleção das classes foi o da autodenominação dos professores regentes das mesmas como evangélicos pertencentes à Igreja Universal do Reino de Deus.

Foram definidos como instrumentos de coleta de dados a observação sistemática e a entrevista.
RESULTADOS:

Através das observações de aula e entrevistas realizadas com as professoras regentes das classes observadas, identificamos que as mesmas alimentaram padrões de comportamento que evidenciavam compromissos diversificados com a religião.

Nosso estudo permitiu a tipificação de alguns comportamentos essenciais, os dois primeiros já registrados ( SEPÜLVEDA, 2003), a saber: (1) recusa total do discurso público como expressão de compromisso absoluto com convicções religiosas – creditam ao conteúdo da mística valor único, insubstituível, e em função de suas crenças promovem ações discriminatórias e intolerantes; (2) tentativa de tradução dos valores da mística pessoal em valores universais, emprego dos diferentes discursos em momentos estratégicos – valorizam o discurso público enquanto prática plausível, porém, em sala de aula, desenvolvem atividades características dos cultos devocionais, sob alegação de seu valor moralizante; (3) uso instrumental do discurso religioso – sob pretexto de educação moral, por considerar os modelos racionais ineficazes; (4) abandono do discurso religioso em sala de aula – a experiência religiosa faz parte de uma dimensão privada.
CONCLUSÕES:

Acreditamos que uma das causas centrais do excessivo aparecimento de comportamentos proselitistas nas práticas pedagógicas de professoras religiosas, em sala de aula, de escolas municipais da cidade de Salvador, justifica-se, pela proclamação da vida cotidiana como conteúdo da educação escolar. O discurso que desqualifica a teoria está ligado à crença na morte de uma determinada concepção de razão: a razão iluminista representativa das culturas liberais, o higienismo provocado pela crítica, entretanto, instaura um mal-estar epistemológico e uma agenda intelectual que gera resíduos tais como:

A celebração do “fim da teoria”- movimento que prioriza a eficiência e a construção de um terreno consensual que toma por base a experiência imediata – se faz acompanhar nas palavras de Burgos (1999, p. 468), da promessa de uma utopia educacional alimentada por um indigestivo pragmatismo. Em tal utopia praticista, basta Know-How e a teoria é considerada perda de tempo ou especulação metafísica; quando não, é restrita a uma oratória persuasiva e fragmentária, presa a sua própria estrutura discursiva. (MORAES, 2003 p.153-154) 

Diante desse contexto, as explicações de corte científico, fonte do saber escolar, passam a relegar qualquer inferência a partir das bases socioeconômicas concretas, nega as articulações entre economia e poder político e a supremacia da espontaneidade e diversidade. As explicações de natureza religiosa passam a ser tão válidas quanto as de qualquer outro referente.

Instituição de fomento: CNPq
 
Palavras-chave: Religiâo; Escola Pública; Laicidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006