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E. Ciências Agrárias - 4. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca - 1. Aqüicultura

ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA MARINHA EM LAGUNA, SC

Rodrigo Randow de Freitas  1
Luis Alejandro Vinatea Arana 2
Sérgio Antônio Netto 3
(1. Programa de Pós-Graduação em Aqüicultura - UFSC. Florianópolis, SC. ; 2. Departamento de Aqüicultura - UFSC. Florianópolis, SC. ; 3. Laboratório de Ciências Marinhas - UNISUL. Laguna, SC. )
INTRODUÇÃO:
Análises de cadeias produtivas visam dar eficiência e produtividade para cada elo participante de uma atividade econômica. Dada as dificuldades impostas pelas transações comerciais cada vez mais globalizadas e competitivas, é fundamental analisar as estruturas, tamanho, articulações entre os elos, nível de concorrência e vantagens competitivas que podem ser melhoradas e/ou geradas. A região do município de Laguna, historicamente vem se constituindo na principal área de produção/engorda de camarão marinho no estado de Santa Catarina, com fazendas se estabelecendo ao longo de todo o complexo lagunar. Atualmente cerca de 69 fazendas ocupam aproximadamente 1000 hectares de lâmina d´água em 270 viveiros. Com a evolução da carcinocultura, novas demandas surgem e faz-se necessário desenvolver diagnósticos estruturais com objetivo de nortear a tomada de decisões futuras, baseando-se em cenários presentes (análise prospectiva). No presente estudo foram identificados e descritos os atuais elos da cadeia produtiva da carcinicultura marinha na região do município de Laguna, SC, buscando gerar informações que contribuíssem para a superação dos entraves e possibilitassem maximizar as potencialidades existentes e as ainda não exploradas.
METODOLOGIA:
O presente estudo foi desenvolvido no sistema estuarino do município de Laguna (28°12’ a 28°30’ de latitude sul, e 48°38’ a 48°55’ de longitude oeste), com área total de aproximadamente 183,94 km2. O sistema é formado por três lagoas principais: Santo Antônio na porção sul (33,85 km2), Imaruí (86,32 km2) na região central e Mirim (63,77 km2) ao norte. A partir de uma prévia identificação do processo produtivo regional, através de observação, entrevistas e busca bibliográfica, foram elaborados questionários específicos para cada ator relacionado com a carcinicultura local. Pretendeu-se assim, fazer um acompanhamento do desempenho e funcionalidade da cadeia produtiva, desde os insumos necessários a produção, até o momento da aquisição do camarão pelo consumidor final. Os dados foram coletados durante os meses de abril até julho de 2005, sendo entrevistados: 3 laboratórios, 3 representantes de marcas de ração, 3 representantes de marcas de aerador, 30 produtores, 1 associação de criadores, 2 cooperativas de produtores, 4 técnicos e/ou extensionistas, 1 Empresa de suporte técnico e extensão, 2 instituições de pesquisa e ensino, 2 Agentes de Controle & Fiscalização, 1 Instituição de Fomento e Incentivo ao Crédito, 1 Beneficiadora, 3 Intermediários, 3 Peixarias, 2 Supermercados, 3 restaurantes, 1 Hotel e 25 consumidores finais. Abrangendo assim todos os elos da cadeia produtiva do camarão marinho na região, num total de 90 entrevistados.
RESULTADOS:
A partir das entrevistas, ficou evidenciado que o estado das estradas de acesso entre laboratórios e fazendas, precisa de uma maior atenção do poder público. Estradas sem pavimentação e em má condição de dirigibilidade se tornam obstáculos para a aquisição de insumos (ração, pós-larvas e etc), comercialização do produto final, bem como entrave ao desenvolvimento econômico da própria comunidade que utiliza tal acesso. Foi constatado também que ao chegar à fazenda as larvas não são aclimatadas como se deveria por um profissional capacitado. A maioria dos produtores entrevistados se mostrou desmotivado em trabalhar com o camarão marinho de cativeiro. Com a busca incessante por produtividade e lucratividade, o produtor se viu endividado, com as perdas na produção devido ao mau manejo e/ou pela ocorrência do vírus (White Spot Syndrome Virus - WSSV) que se instalou na região. O acelerado crescimento da atividade também acarretou em inúmeros conflitos de uso dos recursos comuns. A imagem da atividade se tornou desgastada perante a comunidade, ministério público e órgãos ambientais. Quanto ao nível de consciência e preocupação dos produtores em relação ao meio ambiente, que está ligado diretamente à sobrevivência deles na atividade, foi constatado que os produtores pedem e necessitam de um apoio mais contundente e presença, no dia-a-dia das fazendas, dos órgãos ligados a educação, controle e fiscalização ambiental.
CONCLUSÕES:
Num mundo globalizado de extrema concorrência, o produtor não pode ficar alheio aos riscos de produção, deixando de se preparar para o que pode vir a acontecer, como no caso de baixa no preço de comercialização ou virose. Conhecer a própria empresa, as oportunidades e ameaças do mercado são medidas necessárias para se estabelecer metas futuras. Quanto ao descontrolado crescimento da atividade, encontros para entendimentos e acordos se justificam e devem ser firmados entre as partes visando mitigar os entraves produtivos e desmistificar a visão que as licenças ambientais só servem como instrumento de arrecadação e que são só tiradas por necessidade para iniciar suas atividades. Não são fáceis as medidas de controle de impactos ambientais e utilização dos recursos naturais. Assim, incentivos econômicos e endurecimento das leis são necessários. É essencial que normas dirigidas aos produtores, sejam encaradas como necessárias para a sustentabilidade da atividade e se tornem em atitudes espontâneas, visando o uso racional dos recursos comuns locais. Crescimento produtivo exponencial que no mundo, por exemplo, normalmente veio acompanhado de degradação ambiental e afastamento de responsabilidades sociais. A partir dos resultados obtidos, projetos com o objetivo de dar mais dinamismo a cadeia deverão ser tratados como prioridade se realmente houver o desejo que a atividade local deixe de ser um interesse e futuro potencial, para se tornar uma feliz realidade.
 
Palavras-chave: Cadeia Produtiva; Entraves; Carcinicultura.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006