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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
DUAS ESPÉCIES DE MOLUSCOS TERRESTRES (BULIMULOIDEA) AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO NA AMAZÔNIA-PARÁ-BRASIL: ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA CONCHA, RÁDULA, MANDÍBULA E GENITÁLIA.
Expedito Guimarães da Silva 1
Humberto Cardoso da Silva 2
(1. Secretaria de Educação do Estado do Pará/Seduc; 2. Universidade Estadual do Maranhão/Uema)
INTRODUÇÃO:
Um dos graves problemas que assolam a malacofauna nativa de uma área ou região é a introdução descontrolada nessas regiões de moluscos exóticos, notadamente os de hábitos terrestre e predador. Um bom exemplo desse caso ocorreu com a espécie malacófaga Euglandina rosea (Ferussac,1821) nativa da Flórida (EUA), que introduzida em ilhas do Pacífico devastou espécies  autóctones. O Brasil, hodiernamente, passa por idêntico problema com a introdução da espécie africana Achatina fulica (Bowdich, 1822) a qual tem engendrado problemas sérios de natureza Ecológico-ambiental a diversos estados brasileiros. A Região Amazônica, hoje, está sendo afetada pela ação devastadora desses caramujos africanos “Gigante-Africano” que têm ocasionado danos imensuráveis ao ambiente amazônico. Possivelmente espécies autóctones e endêmicas de moluscos terrestres da Amazônia estão sendo dizimadas pela ação predatória desses vorazes moluscos. Em Belém, Estado do Pará, duas espécies de gastrópodes terrestres Eudolichotis lacerta (Pfeiffer, 1855) e Euglandina rosea (Ferussac, 1821) correm risco de extinção devido conviverem em simpatria com densas populações de A. fulica. Impactos ambientais antrópicos, muito comuns nessa região, são outros fatores que contribuem para colocar essas espécies de moluscos na “Lista Vermelha da Fauna em Extinção”.Objetiva-se com este estudo enfocar a extinção iminente desses moluscos autóctones na Amazônia e abordar aspectos morfológicos e anatômicos dos mesmos.
METODOLOGIA:
O material malacológico deste estudo consta de 50 conchas (32 de E. lacerta e 18 de E. rosea) coligidas no período de cinco anos (2000-2005) em resto de mata de igapó existente no Campus da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), situada à margem direita do Rio Guamá. E. lacerta ocorre durante todo o ano e tem hábito arborícola, E. rosea é sazonal, sendo encontrada no solo, em época chuvosa, sob folhas em decomposição. As duas espécies têm conchas que podem atingir dimensões de até 34mm e 36mm de comprimento, respectivamente. Os espécimes da amostra foram mortos por asfixia em frascos de vidros fechados contendo água arrefecida e posteriormente conservados em álcool a 70% glicerinado. A dissecação das partes moles foi realizada com auxílio de pinça sob estereomicroscópio Marca Nikon com câmara clara acoplada e uso de lentes objetiva e ocular 10x. A rádula e mandíbula foram extraídas do bulbo bucal sem tratamento prévio do bulbo em potassa a 10%. Essas estruturas depois de desidratadas em soluções alcoólicas em série-crescente foram clarificadas em creosoto e, após, montadas em bálsamo do Canadá entre lâmina e lamínula. As mesmas foram coradas em mistura de vermelho-congo orange G. A rádula e mandíbula foram microfotografadas em microscópio Carl Zeiss. O aparelho reprodutor das espécies foi reproduzido em tinta nanquim sobre papel vegetal. Todo o material da amostra deste estudo está depositado no museu de zoologia da Ufra.
RESULTADOS:
O gênero Eudolichotis Pilsbry, 1896 tem ocorrência na Colômbia, Venezuela, Trinidad e Brasil. A espécie E. lacerta tem registro de ocorrência apenas para o Brasil-Pará. Todos os parâmetros anatômicos e conquiliológicos das espécies estudadas conferem com os citados nas literaturas consultadas. E. lacerta tem concha sólida, opaca, sub umbilicada de tom marrom-claro com faixas escuras oblíquas em plano longitudinal. O perístoma é branco com lábios externo e interno bem refletidos.  A abertura da concha é estreita e tem um forte calo de cor marrom na base do lábio columelar. A volta do corpo é quase o dobro do comprimento da espira.  A rádula tem cerca de 50 dentículos de cada lado da fileira central. A mandíbula é do tipo odontognato. O sistema genital hermafrodita tem pênis sem bainha muscular.  A espécie Euglandina rosea é nativa da Flórida.Os indivíduos amazônicos dessa espécie são amandibulados, possivelmente de hábito predador. Infelizmente não foi possível comprovar, in situ, este estilo alimentar.  A concha é frágil, translúcida, não umbilicada e de coloração amarelo-pálido (âmbar).  A volta do corpo tem quase o mesmo comprimento da espira e o lábio interno tem um discreto enrolamento para dentro.A abertura da concha é obliqua e de aspecto semilunar. Os aspectos da genitália e da rádula dessa espécie estão sendo ultimados. Tentou-se criar alguns espécimes de ambas as espécies em cativeiro, porém sem sucesso.  
CONCLUSÕES:
As espécies de moluscos terrestres E. lacerta e E. rosea são autóctones da Amazônia e estão igualmente ameaçadas de extinção nessa região. Constituem populações esparsas e raras, de poucos indivíduos isolados, os quais estão expostos aos mesmos fatores de risco ambiental nessa área. A segunda espécie, por ser mais rarefeita que a primeira, e típica de solo, está sujeita ao desaparecimento mais precoce devido constituir presa fácil dos moluscos africanos, que são seus algozes.  Das duas espécies, E. lacerta é a única do gênero que tem ocorrência no Brasil, portanto o Estado do Pará, de onde ela é endêmica, é sua localidade-tipo. Os espécimes amazônicos de E. rosea, possivelmente sejam uma variedade da espécie E. rosea nativa da Flórida, Estados Unidos da América. Os espécimes norte americanos têm o dobro do comprimento (76mm) dos espécimes amazônicos e são altamente carnívoros e vorazes.   
Instituição de fomento: Secretaria de Educação do Estado do Pará-Seduc.
 
Palavras-chave: moluscos; extinção; Amazônia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006