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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial

A IMPORTÂNCIA DA ESTIMULAÇÃO ESSENCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOLÓGICO DE RECÉM-NASCIDOS DE ALTO RISCO

Daniela Lobo D´Avila 1
Andréa Tonini 1
Edson Nunes de Moraes 1
(1. Universidade Federal de Santa Maria/UFSM)
INTRODUÇÃO:

A estimulação essencial (EE) caracteriza-se por oferecer à criança, desde o seu nascimento, experiências e atividades que intensificam seu desenvolvimento, particularmente suas capacidades, suas habilidades, suas energias, isto é, suas potencialidades. Este trabalho apresenta alguns recortes da pesquisa de Especialização em Educação Especial da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, intitulada “Recém-nascidos de alto risco para problemas no desenvolvimento neuro-psico-motor: um estudo sobre a intervenção especializada recebida após alta hospitalar”, desenvolvida em 2004 e 2005 no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), que objetivou buscar o conhecimento do acompanhamento especializado que recém-nascidos de alto risco (RNAR) para problemas no desenvolvimento neuro-psico-motor, atendidos no HUSM, de janeiro de 1996 a dezembro de 2003, receberam nos primeiros 3 anos de vida. Para contemplar os referidos recortes abordar-se-á um dos objetivos específicos que visou conhecer o desenvolvimento global das crianças, bem como o tipo de atendimento especializado recebido nos três primeiros anos de vida. A intervenção especializada em tempo hábil possibilita resultados significativos e amplos, principalmente no primeiro ano de vida, por essa etapa constituir-se por uma maior plasticidade neuronal, favorecendo mecanismos de repercussão funcional desse sistema e evitando, conseqüentemente, que problemas secundários se desenvolvam.

METODOLOGIA:

Foi estudado um grupo de crianças atendido no HUSM (janeiro de 1996 a dezembro de 2003), sob condições clínicas de risco que, em decorrência, podem vir a apresentar problemas no seu desenvolvimento neuropsicológico (DNP). Para a seleção dos sujeitos utilizou-se como critério a necessidade de internação na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN) do HUSM e o marcador clínico para predição de danos neurológicos de longo prazo, o índice de Apgar inferior a 7 no 1º, 5º, e 10º minuto. Por meio do arquivo eletrônico do HUSM, foram identificados 2.469 recém-nascidos (RN) internados na UTIN, no período de janeiro de 1996 a dezembro de 2003. Desses RN, apenas 17 continuaram com Apgar inferior a 7 no 10º minuto de vida. Dos 17 Casos foram encontradas 10 famílias (8 de Santa Maria/RS e 2 de São Sepé/RS), onde as mães responderam a uma entrevista estruturada contendo questões sobre o desenvolvimento global de seus filhos, bem como atendimento freqüentado na primeira infância.

RESULTADOS:

Ao realizar a analise da entrevista familiar, verificou-se que quanto ao tipo de atendimento especializado recebido nos três primeiros anos de vida, apenas 3 crianças receberam atendimento, ambos na área da saúde (fisioterapia). Observou-se que nos Casos assistidos a prioridade foi o desenvolvimento motor, sendo inexistente o atendimento educacional que priorizasse o desenvolvimento global dessas crianças. O desenvolvimento psicomotor e da linguagem das crianças foram comparados com o referencial do diagnóstico desenvolvimentista do comportamento estabelecidos por Gessel e Amatruda (1990). Pode-se observar em 5 crianças (Casos 1, 5, 15 e 06) atraso na seqüência do desenvolvimento psicomotor normal estipuladas pelos autores como: sustentação da cabeça, ficar em pé, sentar, caminhar, entre outros. Quanto a evolução da linguagem constatou-se que 7 crianças (Casos 01, 05, 06, 08, 10 e 15) apresentaram  atraso na seqüência do desenvolvimento da linguagem, destacando-se, contudo, os Casos 01, 05, e 08 por demonstrarem expressivo atraso na linguagem. A análise comparativa do desenvolvimento neuropsicomotor balizou que dos 10 Casos estudados 7 crianças apresentaram algum tipo de atraso (3 deles com diagnóstico médico de paralisia cerebral), e 3 Casos  não apresentaram nenhum atraso significativo o que não os isenta de terem alguma dificuldade nos anos ulteriores.

CONCLUSÕES:

Conclui-se nesta pesquisa que o trabalho de EE às crianças que nasceram de alto risco para problemas no DNP é primordial, para que se possam detectar atrasos no seu desenvolvimento global, assim como evitar o surgimento de problemas secundários aos problemas primários, uma vez que passaram por condições adversas no princípio de suas vidas, tornando-as mais vulneráveis a distúrbios no seu desenvolvimento. Constatar essa realidade possibilitou, mesmo que num grupo pequeno, a compreensão de uma rede de fatores que dificulta e influencia direta e indiretamente na efetiva realização da EE a essas crianças. Fatores como: a escassez de recursos financeiros, a limitação do saber, as barreiras institucionais vivenciadas na escola e nos centros que deveriam oferecer atendimento a essas crianças. Contudo, não justifica a omissão nem diminui a responsabilidade política e social frente a essa situação. Logo, é necessário que os educadores ultrapassem a mera compreensão teórica da complexidade dos fatores que influenciam o contexto desses sujeitos reais, para que possamos ser “pontes” entre a universidade e a comunidade, para diminuir e até mesmo anular essa “distância” que nos é imposta pela falta de conscientização de todos os envolvidos na qualidade de sobrevida dos recém-nascidos de alto risco para problemas no DNP.

Instituição de fomento: Apoio PROESP/SEESP/CAPES - UFSM
 
Palavras-chave: estimulação; crianças; desenvolvimento.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006