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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia

TRANSNACIONALIDADE E COTIDIANO DA SEGUNDA GERAÇÃO DE MIGRANTES VALADARESNSES NOS ESTADOS UNIDOS

Lucas Coelho Siqueira 1
(1. Departamento de História, Universidade Federal de Minas Gerais / UFMG - FAFICH)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho buscou caracterizar o papel social da migração internacional no cotidiano da segunda geração de migrantes valadarenses (filhos de imigrantes - oriundos da microrregião de Governador Valadares-MG) e explorar, sobretudo, suas inter-relações com a terra natal e a sociedade de destino. É importante destingir, de forma clara, a segunda geração propriamente dita - filhos de imigrantes nascidos na sociedade de destino - com o que os autores recentemente denominam de “Geração 1.5”.  Estes são jovens que nasceram na sociedade de origem, mas migraram ainda muito novos e fizeram boa parte da sua educação básica no exterior. Quanto à relevância do estudo, ressalta-se a importância de conhecer melhor o perfil sócio-cultural destes jovens migrantes, como também suas relações com o Brasil, destacando que ainda são poucas as pesquisas voltadas especificamente para a segunda geração desse fenômeno migratório tão expressivo.
METODOLOGIA:
Adotamos o método de pesquisa denominado “bola de neve”. Essa técnica consiste em identificar alguns elementos com características necessárias para compor a amostra, no caso, jovens entre 12 e 25 anos que emigraram até a faixa etária entre cinco a sete anos (esta é a faixa de inserção no sistema educacional), ou nasceram nos Estados Unidos. Esses primeiros indicam outros, que por sua vez farão outras indicações, até chegar a um numero em que as informações e indicações começam a se repetir. Ressalta-se que a técnica para a coleta de dados foi a entrevista mediante aplicação de trinta questionários (elaborados e aplicados pelo autor, sendo que dois em caráter de pré-teste, entre 21 de janeiro e 13 de março de 2006), aplicados por telefone ou via “Skype” (voz sobre IP). O questionário buscava investigar, quantitativa e qualitativamente, os impactos do trabalho, da escola, do lazer, do contato com a terra natal e da convivência étnica na vida do jovem migrante. Por fim, destaca-se que a identificação dos primeiros entrevistados foi feita através de pessoas que residem na região de Governador Valadares.
RESULTADOS:
O primeiro aspecto relevante foi a identificação dos jovens que compõem a segunda geração propriamente dita (42%), enquanto 58% enquadram-se no perfil da “geração 1.5”. A freqüência dos contatos com parentes e amigos no Brasil oscilou entre semanalmente (28%), quinzenalmente (20%) e raramente (18%), sendo que, com uma ampla vantagem, o telefone foi indicado como o principal meio de comunicação utilizado (57%), sobrepondo-se a Internet (28%) e a outros meios de comunicação (14%). Setenta e um por cento dos jovens afirmaram acompanhar notícias sobre o Brasil e a cidade de origem, destacando-se os canais de TV brasileira (85%) como o principal meio de comunicação utilizado. A freqüência de visitas a parentes e amigos no Brasil oscilou entre uma vez a cada dois ou três anos (55%) e “nunca” (30%). Destaque para o fato de que 90% dos jovens indicaram que gostariam um dia voltar a morar no Brasil (6,6% responderam que não gostariam e um respondeu “talvez”). Quando foram pedidos para classificar a escola e a vida escolar numa escala de 1 a 10, onde 1 significa “muito ruim” e 10 muito bom, a escola nos EUA obteve 7,42 em média, enquanto a escola no Brasil era classificada com 8,75. Vários jovens fizeram observações no sentido de que a escola nos EUA seria muito mais fácil.  Setenta e cinco por cento dos entrevistados possuem pelo menos um emprego de meio horário e destes 86,7% afirmaram que o fato de trabalhar afeta negativamente os estudos. Somente 40% dos jovens afirmaram possuir o português como idioma principal e todos os trinta entrevistados afirmaram que nunca se sentiram descriminados por serem filhos de imigrantes.
CONCLUSÕES:
É interessante notar que a posição transnacional, ou seja, a vivencia da ambigüidade de sentimentos em relação à terra natal e a sociedade de destino, o “estar aqui, e estar lá”, tão característico da primeira geração, começa a arrefecer na segunda. Um dos pressupostos da pesquisa baseava-se na idéia de que, com o advento de novas tecnologias que proporcionam um melhoramento e barateamento dos meios de comunicação, sobretudo através da internet, o contato entre a segunda geração de migrantes e a terra natal fosse tão intenso quanto o da primeira. Contudo, é significativo o fato de por volta de 20% dos entrevistados afirmarem que raramente entram em contato com parentes e amigos no Brasil. Apesar de 71% dos jovens afirmarem acompanhar noticias sobre o Brasil e a cidade natal, já podemos observar uma queda quando comparamos com os números da primeira geração. Há outros indícios de assimilação social e cultural; notadamente o idioma. Diferentemente dos seus pais, os jovens migrantes valadarenses já não possuem o português como idioma principal, pelo menos em 60% dos casos.  Contudo, existem outros pontos de convergência.  Como na primeira geração, o trabalho também é uma referência crucial na vida dos entrevistados.  Mesmo conciliado com a escola, o trabalho ocupa um tempo expressivo do dia-a-dia destes jovens sendo que, como seus pais, ocupam atividades secundárias e mal-remuneradas como caixas (ou auxiliares) de redes de fast-food (40%), baby-seater (babás) 20%, auxiliares de limpeza (20%) dentre outros.  Por fim, fica também registrado o “anseio pela volta” que, se de forma mais abstrata e imprecisa que na primeira geração, ainda faz parte dos sonhos e dos planos da segunda geração.
 
Palavras-chave: Migração; Transnacionalidade; Segunda Geração.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006