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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
OS DISCURSOS DAS VÁRIAS ECOLOGIAS
Lilian Medeiros de Mello 1
Ademar Heemann 1
(1. Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento - UFPR)
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho contempla uma realidade que é a da circulação de textos e discursos de e sobre Ecologia no contexto acadêmico ambiental, entendendo-se tal contexto como o espaço interdisciplinar, de ensino e pesquisa, onde se discutem as relações entre as sociedades humanas e o meio ambiente. Considerando-se a existência de diferenças substanciais nos horizontes de compreensão, a Ecologia tanto pode ser entendida como um ramo das Ciências Naturais, como assumir um caráter ideológico, como a matriz viva de uma nova consciência e uma nova cultura. Este texto fará um breve levantamento do conjunto de significações da ecologia. Frente ao amplo leque de interpretações possíveis, o discurso ecológico será sistematizado em três matrizes de compreensão: a) Em seu entendimento como uma ciência strictu sensu; b) Nas derivações de interface nas ciências sociais e humanas, e c) Na concepção de uma nova ciência, dentro do paradigma da complexidade. Com a construção desta tipologia, pretende-se mostrar que o caráter pretensamente consensual da Ecologia – como uma ciência unificada e integradora –, esbarra na existência de distintas “Ecologias”, que podem caminhar juntas em alguns momentos, e em outros apresentarem poucas relações, quando seus elementos são incompatíveis ou quando tratam de redutos diferentes (campo científico, político, filosófico, etc.).
METODOLOGIA:
O esquema operacional dessa investigação consiste na revisão da literatura existente sobre ecologia, com o levantamento e análise de publicações representativas na atualidade. Trata-se de um estudo teórico que, além de explanar e dissertar, interage com o conhecimento disponível. A organização dos dados obtidos e a análise do conteúdo dos textos selecionados resultaram na elaboração de uma tipologia dos discursos ecológicos. Para a análise do quadro tipológico das ecologias, foi utilizado o conceito de formalismo, que, no presente trabalho, será entendido como um fator de distanciamento entre os diferentes tipos de discurso que circulam no ambiente da Universidade onde a questão ambiental é discutida, e de onde se emana o discurso da interdisciplinaridade. Parte-se da premissa que o discurso acadêmico da ecologia encerra conteúdos científicos, políticos, diferentes visões de ciência e concepções de mundo que fazem dela não uma ciência unificada (e apenas dividida em vários níveis de complexidade), mas que conformam a existência de diferentes sentidos para a ecologia, sentidos estes que devem ser esclarecidos para que se possa abrir o caminho do diálogo.
RESULTADOS:
Conforme Foladori (2001), uma tipologia tende a forçar ou a enquadrar posições diferentes, simplificando o que é, na realidade, complexo. Para sistematizar 3 grupos distintos, o critério utilizado foi o contexto acadêmico de onde partem as formações discursivas da ecologia. 1) A Ecologia strictu sensu: originou-se como ramo da Biologia, de onde se desmembrou, mas com a qual continua guardando estreita relação. De acordo com os métodos da Ecologia strictu sensu, os sistemas humanos só podem ser tratados segundo sua vertente biológica, ficando para outras áreas, relativas às Ciências Humanas, a incumbência de abordar seus aspectos antropológicos e sociais. 2) As derivações de interface da Ecologia nas Ciências Humanas e Sociais: distinguem-se da Ecologia strictu sensu por incorporar as relações humanas e sociais à teoria dos ecossistemas. São exemplos a ecologia humana, a ecologia social, a ecologia política, a economia ecológica e as ecologias filosóficas. 3) A “nova ecologia”: seria a modificação da Ciência Ecológica rumo à articulação das Ciências Sociais e Naturais, mantendo, no entanto, as especificidades de cada campo do conhecimento já constituído. Traria à Ecologia questionamentos que não fazem parte de seus objetos de estudo, e tampouco podem ser estudados através de seus métodos atuais.
CONCLUSÕES:
No contexto acadêmico ambiental, a Ecologia é apresentada como uma ciência única e integradora, mascarando a existência de entendimentos muito diversos e, com isso, obstruindo o caminho do diálogo interdisciplinar. Cabe ressaltar que a plurissignificação do termo ecologia é um fenômeno adjacente à própria construção da Ciência Ecológica, e que reflete hoje a existência de perspectivas que implicam distintos tipos de conhecimento, de forma que a co-existência destas perspectivas não representa um problema, a menos que não sejam reconhecidas suas diferenças. Conjectura-se, portanto, que se não forem esclarecidas as controvérsias e incomensurabilidades entre as diversas perspectivas da ecologia, o discurso ecológico/ ambiental se transforma em um discurso formal, distante de uma prática educativa convergente e interdisciplinar.
 
Palavras-chave: Ecologia; discurso; tipologia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006