A partir de dados obtidos em pesquisas preliminares que resultaram em uma amostragem de 113 animais domésticos (75 bovinos, 33 caninos e 5 suínos), feita no decorrer do ano de 2002 pela Equipe de Pesquisa da UNISC, observou-se um índice de contaminação por leptospirose de 32%, fato que motivou a realização de novos trabalhos investigativos que elucidassem de forma mais clara e abrangente as fontes de infecção da leptospirose no Município de Santa Cruz do Sul, RS.

 

Com este intuito, foram realizadas novas investigações durante os anos de 2003 a 2005, período em que se registraram 89 casos positivos de leptospirose humana em distintas localidades do Município. Neste contexto, nas localidades suspeitas de ter havido contaminação, a partir das fichas epidemiológicas dos pacientes, foram coletadas 305 amostras de sangue de animais domésticos, sendo 163 bovinos, 105 caninos e 37 suínos, para caracterização do padrão sorológico dos mesmos.

 

Os resultados indicaram a ocorrência de 64% soropositivos, confirmando a hipótese de que os animais são potenciais transmissores de leptospirose, uma vez que as coletas foram realizadas em locais onde efetivamente houve contaminação humana.

 

Através de uma análise comparativa feita a partir dos resultados obtidos ao longo dos quatro anos pode-se inferir sobre a importância dos trabalhos de pesquisa e extensão para minimização dos casos da doença e aprimoramento dos aportes educativos e tecnológicos para o seu controle e prevenção.

 

A escolha das localidades foi feita a partir de informações nas fichas epidemiológicas de cada paciente, junto à Secretaria Municipal de Saúde do Município de Santa Cruz do Sul, RS. Ao todo, 55 localidades foram indicadas como possíveis fontes de contaminação.

 

A partir do questionário aplicado no período compreendido entre  2003  a 2005, 305 animais foram identificados como possíveis vetores transmissores da doença, constituindo o tamanho da amostra experimental, distribuídos da seguinte maneira: 157 animais em 2003, 113 em 2004 e 35 em 2005.

 

Após a coleta de sangue dos animais, as amostras foram identificadas e levadas ao Laboratório de Leptospirose da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), para serem processadas, conforme as recomendações do Manual de Leptospirose do Ministério da Saúde e Fundação Nacional da Saúde, e foram enviadas para o Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF), localizado em Eldorado do Sul, RS, onde foi determinado o padrão sorológico das mesmas.

Do total de 157 animais investigados em 2003, 53% corresponderam a soropositivos, sendo que dentre os 80 casos bovinos, 51% corresponderam a soropositivos, dos casos caninos, 56%, e dos casos suínos, 55%.

 

Com referência ao padrão sorológico, verificou-se que dentre os casos positivos em bovinos, o sorovar L. pyrogenes destacou-se pela sua freqüência, enquanto que nos casos positivos em caninos, destacou-se o sorovar L. autumnalis. Já no caso dos suínos o destaque foi para L. bratislava.

 

Conforme o levantamento sorológico realizado em 2004, do total de 113 casos de animais investigados, 86,7% corresponderam a soropositivos, sendo que dentre os 61 casos bovinos, 88,5% corresponderam a soropositivos, dos casos caninos, 93,6% e nos 5 casos suínos não foi constatada contaminação.

 

Com relação à especificidade sorológica proveniente das coletas realizadas no ano de 2004, dentre os casos positivos de bovinos, destacou-se o sorovar L. tarassovi e no caso dos caninos L. autumnalis.

 

Todavia, segundo o levantamento sorológico feito em 2005, do total de 35 animais investigados, 51,4% corresponderam a soropositivos, sendo que dentre os 22 casos bovinos, 54,4% foram soropositivos, dos casos caninos, 37,5% e dos casos suínos, 60%.

 

Com relação aos aspectos sorológicos, observou-se que dentre os casos positivos de bovinos prevaleceu o sorovar L. pomona e no caso dos caninos e suínos investigados, destacaram-se os sorovares L. bratislava  e L. grippotyphosa,  respectivamente.

Os resultados obtidos nesta pesquisa indicaram que dos 305 animais investigados no período de 2003 a 2005, 64% corresponderam a soropositivos sendo distribuídos da seguinte maneira: 109 bovinos (66%), 75 caninos (71%) e 18 suínos (48%). Estes resultados dão suporte à hipótese levantada por pesquisas anteriores, de que os animais domésticos são importantes vetores potenciais, já que as coletas foram realizadas especificamente em locais em que foram notificados casos de contaminação humana por leptospirose, segundo informações concedidas pela Secretaria Municipal de Saúde de SCS.

 

Além disso, é importante destacar que em função da alternância na dominância dos sorovares registrada ano após ano, fica evidente a ocorrência de uma inversão da predominância dos sorovares das leptospiras, fato que compromete o tratamento veterinário, uma vez que as vacinas existentes no mercado para animais protegem contra determinados sorovares, como é o caso de L. icterohaemorrhagiae, desconsiderando outros, como por exemplo L. bratislava. Nesse contexto, fica evidente a importância da realização de investigações sorológicas em animais domésticos de regiões com altos índices da doença comparando resultados obtidos com a composição de sorovares das vacinas disponíveis no mercado.

 

Instituição de fomento: UNISC e Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER

Trabalho de Iniciação Científica