IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental

TEMÁTICA AMBIENTAL NOS LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIAS DE 5a SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL

 

Rosalina Sueli Ribeiro Coelho 1
Victor Novicki 2
(1. Universidade Estácio de Sá/UNESA/Mestre em Educação; 2. Universidade Estácio de Sá/UNESA/PhD/Orientador Mestrado em Educação)
INTRODUÇÃO:
 Apesar de existir um aparente consenso acerca da importância da questão ambiental, constatam-se diferentes concepções de educação ambiental, que refletem os interesses dos atores sociais e se manifestam, não apenas nas práticas docentes, mas também nos livros didáticos (LDs). Esta pesquisa objetiva analisar como a temática ambiental está sendo tratada nos livros didáticos de Ciências da quinta série do Ensino Fundamental no município do Rio de Janeiro, no que se refere às concepções de desenvolvimento sustentável e de meio ambiente, visando explicitar qual educação ambiental é veiculada por esses LDs. Este estudo, orientado pelo paradigma da teoria crítica, adota, como parâmetros de análise, conceitos de autores que defendem um desenvolvimento sustentável socialmente justo; que abordam dialeticamente a relação Homem-meio ambiente e que entendem a educação ambiental em uma perspectiva crítico-transformadora. Consideramos também os conteúdos propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Ciências e no PCN/Tema Transversal: Meio Ambiente. Nos sítios do Ministério da Educação, identificamos as coleções analisadas e os pareceres do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). O presente estudo se justifica pela contribuição que dará ao investigar, através de uma análise crítica dos LD adotados por professores da rede municipal de ensino a presença e o tipo de concepções adotadas pelos autores dos LD.
METODOLOGIA:

 Análise dos livros didáticos de Ciências de 5a a 8a séries do Ensino Fundamental utilizados pelas escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro.

Utilizamos o Guia PNLD, capaz de subsidiar uma escolha consciente e segura dos livros didáticos, organizado por uma convenção gráfica de classificação por código de estrelas.

Realizamos o levantamento das coleções selecionadas, levantamos os códigos de estrelas de cada coleção e a distribuição total dessas coleções por série.

Optamos em analisar a coleção mais votada (pelos professores) e a coleção melhor recomendada (pelo MEC/SEF), respectivamente:

1. BARROS, Carlos; PAULINO, W. Paulino. Ciências. 64.ed. São Paulo: Ática, 2000 (a mais votada).

2. CÉSAR, Silva Júnior; SEZAR, Sasson; BEDAQUE, P. Sérgio. Ciências. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2001 (a melhor recomendada).

Realizado o levantamento preliminar das coleções, levamos em conta em quais séries era tratada a temática ambiental, as séries que nada falaram, foram descartadas e as demais passaram para o processo de análise das concepções de meio ambiente, DS e educação ambiental e a transversalidade dessa temática.

RESULTADOS:

 1. Em ambas coleções há o predomínio de uma concepção de desenvolvimento sustentável pautada na eficiência, na lógica de mercado (soluções tecnológicas/economicistas) como único caminho para a superação da degradação ambiental, sem considerar sua relação com a desigualdade/exclusão social.

A participação das pessoas é importantíssima para o reconhecimento dos problemas originados pelos resíduos perigosos; é fundamental o desenvolvimento de tecnologias “limpas” para evitar a geração de resíduos indesejáveis (BARROS; PAULINO, 2000, p. 96).

 

2. Essas coleções reproduzem um senso comum de culpabilização do individuo em geral, do ser humano, pela degradação ambiental, deixando de identificar os níveis de responsabilidade dos diferentes atores sociais.

 

... o solo pode ser degradado: naturalmente, pelos diferentes tipos de erosão; pela ação do homem (BARROS; PAULINO, 2000, p. 75, grifos nossos).

 

Em relação a concepção de meio ambiente, Barros Paulino (2000) enfatizam simultânea e contraditoriamente a “dependência/subordinação” do Homem em relação aos recursos naturais e a “interdependência” ou a relação dialética Homem-meio ambiente.

 

Portanto, a preservação do ambiente é uma questão de sobrevivência também para a principal espécie que o degrada: a espécie humana (BARROS; PAULINO, 2000, p. 217).

 Por sua vez, César et alli. (2001) privilegiam uma concepção utilitária dos recursos naturais (antropocentrismo), cuja única função é a de servir aos seres humanos.

A natureza fornecia a eles (os homens) os recursos de que necessitavam para sobreviver. ... Aos poucos, o homem foi aprendendo a dominar a natureza.

CONCLUSÕES:
 

As coleções apresentam erros conceituais que geram confusão e insistem em confundir ecologia e meio ambiente, tratando a temática ambiental como assunto restrito à ecologia. Foram encontrados aspectos que informam um “adestramento ambiental”, do tipo comportamentalista-individualista, não contribuindo para que o aluno torne-se um cidadão crítico e consciente em relação às questões socioambientais.

Os exercícios propostos pelos livros didáticos analisados são formulados para alunos que residem nas grandes metrópoles, contrariando as recomendações de Tbilsi, a Política Nacional de Educação Ambiental e os PCN/Tema transversal: Meio Ambiente, ou seja, criar no aluno uma postura crítica, reflexiva, questionadora e investigativa, a partir dos problemas socioambientais locais/concretos. Desta forma, realizam uma educação ambiental desmobilizadora, face às reduzidas possibilidades dos alunos/professores contribuírem na reversão destes problemas.

Considerando o impacto que essas coleções terão nos alunos, sugerimos análises mais rigorosas dos conteúdos dos livros didáticos e que de fato sejam colocadas em prática as sugestões dos PCN, do tema transversal meio ambiente e as recomendações de Tbilisi.

 
Palavras-chave: Educação Ambiental; Livros Didáticos; Ensino de Ciências.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006