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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem

PERCEPÇÕES DE ALUNOS SOBRE O DESEMPENHO ESCOLAR DE SEUS COLEGAS

Maria Alice Provenzano  1
Olga Mitsue Kubo  2
(1. Departamento das Ciências Biológicas e da Saúde/ UNIPLAC; 2. Área das Ciências Humanas e Sociais / UFSC)
INTRODUÇÃO:
Estudos indicam que desde o ingresso na escola há comportamentos dos alunos esperados e valorizados pela comunidade acadêmica, administrativa da escola e também pelos familiares desses alunos. Alguns desses comportamentos se referem a tirar boas notas, acompanhar o programa, prestar atenção em aula, entre outros. As exigências que se traduzem em valorização de comportamentos esperados pelo grupo social são estabelecidas baseadas, muitas vezes, em pré-concepções representativas das normas sociais vigentes. Ter um bom desempenho na escola faz parte dos comportamentos esperados por professores, pais e pelos próprios alunos e essa é a ‘mensagem’ da escola. O aluno que não satisfaz as normas da escola e que não apresenta um ‘perfil’ acadêmico considerado ‘adequado’ pode ser estigmatizado. O aluno estigmatizado passa a ser objeto de depreciação em seu grupo e, por vezes, é ‘abandonado’ e afastado do convívio, tanto por professores quanto por colegas. Logo, as percepções que os alunos têm sobre o desempenho de seus colegas poderão interferir na qualidade das relações sociais entre eles e entre eles e a escola (professores, administração, etc). Desse modo, foi objetivo do estudo caracterizar como o aluno em situação de fracasso escolar é percebido por seus colegas. Essa caracterização poderá contribuir para uma revisão crítica do papel da escola e dos procedimentos para educar utilizados por pais e professores de alunos que apresentem desempenho escolar aquém daquele esperado.
METODOLOGIA:
Participaram 40 alunos de uma turma de 7a. série do Ensino Fundamental de uma escola privada de ensino. Dentre esses, 10 alunos foram selecionados de acordo com critérios de avaliação de desempenho da escola e organizados em dois grupos: aqueles com desempenho escolar esperado (A) e aqueles com desempenho aquém do esperado (NA). A coleta de dados ocorreu por meio de questões derivadas da técnica sociométrica de Moreno. As questões formuladas foram sobre a percepção dos alunos em relação ao desempenho escolar do colega (colega que se ‘sai bem’, que ‘não se sai bem’, que terá facilidade em ‘passar’ de ano, que terá dificuldade em ‘passar’ de ano na escola e a percepção sobre os colegas que repetiram o ano e as possíveis causas). Foram consideradas indicações feitas pelos alunos somente em relação aos 10 alunos componentes dos dois grupos.
RESULTADOS:
O exame dos dados coletados possibilitou observar que os alunos reproduzem e repetem aquilo que os professores e demais pessoas da escola já convencionaram, ou seja, há uma distinção clara entre alunos ‘bons’ e os ‘ruins’ na escola. É possível notar que os alunos repetem um ‘modelo aprendido’ de valorização de alguns comportamentos. Aquilo que os alunos identificam como ser ‘bom’ ou ‘mau’ está caracterizado por comportamentos que são valorizados, portanto, consequenciados positivamente e aqueles que são punidos pela escola. Os alunos ‘NA’ são indicados pelos colegas como aqueles que não se ‘saem bem’ e terão dificuldade em ‘passar’ de ano na escola, enquanto que os alunos ‘A’ são indicados como alunos que se ‘saem bem’ e ‘passarão’ de ano na escola. Logo, a despeito de características peculiares dos instrumentos de avaliação, os resultados ‘chegam’ até os alunos de maneira inequívoca e todos sabem quem vai mal, ou bem, de acordo com os critérios da escola. Há uma distinção nas verbalizações sobre a própria capacidade para lidar com as atividades escolares entre os alunos ‘A’ e ‘NA’. Enquanto o grupo ‘A’ faz indicações sobre manter e melhorar o desempenho, o grupo ‘NA’ indica o receio em fracassar e não conseguir a ‘aprovação’ pela escola. Os alunos ‘NA’, ao fracassarem, demonstram uma redução no controle sobre seus desempenhos e essa incontrolabilidade, provavelmente, produz alterações na auto-imagem e na segurança desses ao lidarem com situações relacionadas à escola.
CONCLUSÕES:

Essas alterações podem prejudicar o desenvolvimento de um comportamento mais ativo e de maior autonomia diante de situações-problema seja naquelas relacionadas ao contexto escolar, seja em outras fora da escola. As conseqüências disso podem ser: déficits motivacionais, relacionais, sociais e de bem estar. Dado a importância que os alunos atribuem às relações interpessoais no ambiente escolar, muito provavelmente, essas são percebidas como positivas e funcionam como suporte social a esses. A percepção das relações como amistosas pelos alunos poderá promover maior satisfação no ambiente escolar e melhores condições emocionais para que eles lidem com situações que irão se defrontar nesse ambiente. Logo, promover um ambiente escolar e de sala de aula agradável, planejar aulas a partir do repertório de entrada do aluno a cada série escolar, considerar no planejamento escolar as relações estabelecidas entre os próprios alunos, professores e demais profissionais da escola são alguns comportamentos que podem favorecer o sucesso de todos.

 
Palavras-chave: desempenho escolar; fracasso escolar; relações sociais.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006