INTRODUÇÃO:

Este trabalho focaliza um autor norte-americano mundialmente famoso, principalmente entre os educadores, na medida em que propõe um programa de ensino de filosofia para crianças, adolescentes e jovens. A questão central diz respeito à formação filosófica do autor, uma vez que ele é tido como um educador eminente, mas pouco reconhecido por seus méritos entre os filósofos. Isto se configura de extrema importância devido à sua proposta educativa em que explicita um entendimento da disciplina enquanto ato de filosofar, de uma metodologia, de um currículo e de uma formação particular de professores, situando a filosofia nos limites da educação formal conferindo-lhe uma responsabilidade ética e política de grande magnitude. Esta questão não poderia ser negligenciada por uma análise cuidadosa e detalhada na educação, uma vez que este campo tem sido palco de modismos pedagógicos, nem sempre confiáveis. Tampouco a filosofia não poderia deixar de se preocupar com esta proposta se omitindo de um problema da ordem de sua reflexão, já que se trata, nesse caso, da formação humana com significativa extensão à construção da sociedade democrática. Em segundo lugar, é do trato da filosofia, pelo menos da filosofia educacional, levar em consideração um tema que sugere um entendimento do que seja próprio da filosofia na escola, cujo teor, no caso de Lipman, desafia a concepção tradicional de filosofia e de educação, estabelecendo os propósitos da disciplina dentro de uma instituição escolar.   

METODOLOGIA:

Inicialmente foram coletadas, o quanto possível, as publicações do autor, agrupando-as em livros, capítulos de livros, artigos de revistas especializadas e outras informações divulgadas por vídeos e Internet. O meio eletrônico oportunizou um contato direto com o autor via e-mail o que tornou possível a colocação de perguntas e respostas, envio de artigos inéditos e curriculum vitae pelo próprio autor. A preferência foi a língua original dos escritos. A organização cronológica do material em décadas - de 60 até 2000 – foi apresentada em dois quadros: 1. Livros publicados; 2. Artigos, capítulos de livro, entrevistas, conferências e similares. Os comentadores foram utilizados na medida em que uma dúvida interpretativa permanecia ou por motivo da extrema importância dos seus estudos, como é o caso da equipe do autor. Outros autores foram destacados pelo próprio Lipman, como por exemplo, John Dewey, Charles Peirce entre outros. Foram considerados os críticos de Lipman e os estudos feitos por ex-alunos. Após leituras e análise da obra foi identificado, principalmente, o pragmatismo clássico como uma referência indispensável para se compreender a sua proposta educativa. Detalhes de sua vida pessoal e sua trajetória profissional foram considerados, mostrando-se este procedimento de acordo com o pragmatismo clássico, que tem como conceito central, a experiência.          

RESULTADOS:

O problema de ‘ser filósofo ou educador’ se desfaz quando apreendemos alguns princípios pragmatistas fundamentais. O entendimento de educação associada à vida ativa - não somente do indivíduo, mas também da coletividade participativa – realça   os seus aspectos éticos e políticos. A concepção de filosofia enquanto práxis e ‘ato de filosofar’ tem suas raízes nos autores caros a Lipman, e é de extrema importância no conjunto das críticas à educação tradicional, já desde Dewey. O autor se revela com uma formação completa e bem elaborada no campo da filosofia realizando a sua graduação e pós-graduação em universidades norte-americanas e seu pós-doutoramento na França. Lipman atuou profissionalmente em universidades nova-iorquinas, mostrando-se um profissional dedicado e com uma produção expressiva nos campos da filosofia e da educação. Sua defesa da filosofia como uma disciplina essencialmente formativa é resgatada desde os gregos, cujo enfrentamento se propõe a realizar, uma vez que mesmo com Dewey – confessa - a formação científica ganhou proeminência na educação escolar.  Para o autor, o que a sociedade necessita são indivíduos que saibam pensar de forma bem construída e com autonomia, para que possam agir com qualidades correspondentes: quem pensa bem, age bem e, conseqüentemente, ajuda na construção de uma sociedade mais democrática – sendo esta, uma tarefa própria da filosofia.

CONCLUSÕES:

Este estudo revelou que a incompreensão sobre a proposta se deve a dois fatores principais: por parte dos filósofos, o desentendimento sobre a relevância da educação para o autor tornando-se impossível se afastar filosofia e educação. A importância da última para os pragmatistas, preocupados com a formação moral e política dos jovens em vista da democracia, não permitiu a colocação da educação num plano secundário. Se apreendermos a partir da análise da obra de Lipman as suas principais influências – pragmatismo e a filosofia francesa, em especial Diderot – não é difícil tal constatação. Recuperando a influência grega na cultura ocidental, Lipman se fundamenta na paidéia em cujo contexto encontra a figura de Sócrates para quem ensinar filosofia é trazer os seus interlocutores para o debate da praça, onde os temas são apresentados e postos ao diálogo. Ser filósofo e ser educador não seriam expressões excludentes. Quanto aos educadores, teria de existir uma maior preparação para o ensino de filosofia, pois esta requer um conjunto de conhecimentos específicos, denota uma capacidade particular de intervenção na escola e possui muita responsabilidade na formação dos alunos e na democracia. Por isso, o autor propõe um programa de filosofia onde é incluída a capacitação docente. Tendo-se realizado a leitura e a análise meticulosa do material, o presente trabalho foi finalizado com a apresentação das principais críticas sobre a proposta relacionando-as com os dados coletados.