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C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 1. Anatomia Vegetal

ADAPTAÇÕES ANATÔMICAS DAS FOLHAS DA BROMÉLIA Dyckia brevifolia ASSOCIADAS AO AMBIENTE REOFÍTICO

Ghislaine Maria Lobo 1
Marisa Santos 2
(1. Discente - Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal – BOT/CCB/UFSC; 2. Docente - Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal – BOT/CCB/UFSC)
INTRODUÇÃO:

Entende-se como ambiente reofítico os leitos de rios e corredeiras de fluxo rápido que sofrem enchentes repentinas e regulares, e as plantas confinadas a este ambiente, como reófitas. Este grupo biológico deve ter a capacidade de tolerar a pressão constante da oscilação entre cheias e vazantes. Durante as cheias, com o aumento do volume de água, as reófitas devem tolerar o intenso fluxo do rio e a imersão. Na vazante, devem tolerar a seca, por estarem emersas sobre rochas, e expostas à irradiação solar. Para suportar estas adversidades as reófitas apresentam adaptações estruturais e funcionais que possibilitam a sua sobrevivência. O ambiente reofítico reune condições xerofíticas e hidrofíticas somadas às peculiaridades hidrográficas e geomorfológicas. Algumas espécies de Dyckia (Bromeliaceae) são exclusivas de ambiente reofítico. Bromeliaceae é composta por mais de duas mil espécies com distribuição neotropical em ambientes diversos.  D. brevifolia encontra-se naturalmente distribuídas às margens pedregosas do Rio Itajaí-Açú, entre as cidades de Apiúna e Blumenau (Santa Catarina, Brasil). A preservação da espécie encontra-se ameaçada pela exploração rural e urbana e também pela implantação de projeto de construção de usina hidrelétrica de grande porte. O conhecimento das adaptações morfo-anatômicas de D. brevifolia ao ambiente reofítico contribuirá para o entendimento da biologia da espécie e conseqüentemente poderá subsidiar projetos de revegetação destes ambientes.

METODOLOGIA:

Folhas totalmente expandidas de Dyckia brevifolia foram coletadas no Rio Itajaí-Açú, Estado de Santa Catarina, Brasil.  Para estudo em microscopia óptica (MO), foi usado material in vivo e fixado. Foram feitas secções paradérmicas, transversais e longitudinais, nas lâminas e bainhas foliares. Amostras fixadas em glutaraldeído 2,5% em tampão fosfato de sódio 0,1M, em pH 7,2, foram desidratadas em série etílica, infiltradas em hidroxietilmetacrilato e coradas com azul de astra e fucsina básica. Secções à mão-livre, em amostras in vivo, foram testadas histoquimicamente com sudan IV, floroglucina/ HCl e tionina. Para investigação ultra-estrutural, algumas amostras, fixadas e desidratadas, foram imersas em HMDS, em substituição ao ponto crítico que pelo processo de sublimação reduz a tensão superficial. As amostras secas foram montadas em suportes de alumínio, com fita de carbono dupla face, metalizadas com ouro e analisadas em Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV).

RESULTADOS:

As folhas de D. brevifolia são constituídas por lâmina, de forma lanceolada, com ápice agudo e bordo serreado, e bainha. As lâminas foliares são suculentas, sugerindo tolerância à seca. Secções transversais da lâmina foliar revelam a presença de amplo mesofilo delimitado por epiderme uniestratificada. As células epidérmicas apresentam cutícula espessa, paredes periclinais internas e anticlinais lignificadas. Os estômatos estão restritos as zonas intercostais localizados em depressões, sendo totalmente cobertos por tricomas peltados. Sob a epiderme, em ambas faces ocorre estrato de fibras septadas, interrompido, abaxialmente nas regiões de ocorrência dos estômatos. Adjacente às fibras, na face adaxial, encontra-se amplo hidrênquima. O clorênquima desenvolve-se abaxialmente, intermediado, nas zonas intercostais, por aerênquima. Os feixes vasculares são colaterais e estão dispostos paralelamente no sentido longitudinal da folha.

CONCLUSÕES:

O estudo da anatomia foliar revelou características relacionadas tanto às condições xéricas, quanto às condições hídricas, possibilitando interpretações à cerca da adaptação de D. brevifolia às peculiaridades do ambiente em que ocorrem. Destacam-se como características xeromórficas, relacionadas à economia hídrica: cutícula espessa, estômatos em depressões protegidos por alta densidade de tricomas e hidrênquima. conferem caráter xeromófico, sugerem principalmente a economia hídrica. A camada espessa de hidrênquima aclorofilado, adaxialmente localizada sugere, funcionalmente, relação à fotoradiação excessiva. O aerênquima, caráter hidromórfico, deve contribuir para difusão de gases durante os períodos de cheias.  Esta espécie reofítica reune algumas características comuns a outros grupos biológicos, xerófitas e hidrófitas, assegurando a sobrevivência em condições adversas extremas, de submersão com turbulência (cheias do rio) ou de elevada exposição à irradiação solar (vazantes do rio).

 
Palavras-chave: Bromeliaceae; Reófitas; Anatomia Foliar.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006