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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 1. Anatomia Patológica e Patologia Clínica
FREQÜÊNCIA DE INFECÇÃO PELO HERPESVÍRUS HUMANO TIPO 8 (HHV-8) EM LINFOMAS NÃO-HODGKIN DE PACIENTES INFECTADOS PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV) E HIPERPLASIA LINFÓIDE FOLICULAR REATIVA DE PACIENTES HIV-NEGATIVOS
Márcio de Carvalho 1
Claudete Esteves Klumb 2
Deilson Elgui de Oliveira 1
(1. Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (UNESP) - Botucatu, SP.; 2. Serviço de Hematologia do Hospital do Câncer do INCA - Rio de Janeiro, RJ.)
INTRODUÇÃO:
A melhoria na sobrevida de pacientes HIV-positivos, obtida com o advento da terapêutica anti-retroviral altamente ativa, tem gerado expectativa de aumento na incidência proporcional de algumas neoplasias malignas associadas à AIDS. O Sarcoma de Kaposi (SK) e os linfomas não-Hodgkin (LNH) destacam-se entre as principais neoplasias de pacientes portadores do HIV. Ao contrário do SK, os LNHs de pacientes HIV-positivos apresentam etiologia obscura e comportamento epidemiológico incerto. Alguns casos estão associados à infecção por vírus linfotrópicos, dentre os quais o vírus de Epstein-Barr (Epstein-Barr Virus - EBV) e o Herpesvírus Humano tipo 8 (Human Herpesvirus type 8 - HHV-8). O HHV-8 já foi detectado em todas as formas do SK, além de parcela dos casos de doença de Castleman multicêntrica e em virtualmente todos os casos de linfomas de efusão primária. Exceção feita aos linfomas de efusão primária, são insuficientes os dados sobre a freqüência do HHV-8 em casos de LNH de pacientes HIV-positivos, bem como em distúrbios linfoproliferativos benignos em pacientes sem infecção pelo HIV. Por esse motivo, o presente trabalho buscou avaliar a freqüência de infecção pelo HHV-8 em casos de LNH de pacientes HIV-positivos e em casos de hiperplasia linfóide folicular reacional (HLFR) de pacientes HIV-negativos.
METODOLOGIA:

Foram estudados 22 casos de LNH de pacientes HIV-positivos e 71 casos de HLFR de pacientes HIV-negativos, obtidos junto ao Instituto Nacional do Câncer (INCA) e dos arquivos de Patologia Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), respectivamente. Tecidos fixados e incluídos em parafina de todos os casos estudados foram submetidos à extração de DNA. A fim de analisar a qualidade do DNA obtido, as amostras foram submetidas à amplificação de segmento de 123pb do gene da cadeia beta da hemoglobina humana pela Reação em Cadeia da Polimerase (Polymerase Chain Reaction - PCR) . A pesquisa do HHV-8 foi realizada em duas etapas de PCR. Inicialmente, as amostras de DNA foram submetidas a triagem do HHV-8 pela amplificação de segmento de 233pb da região aberta para leitura (Open Reading Frame - ORF) 26 viral com os iniciadores KS330, seguindo-se PCR “aninhada” (Nested-PCR) com iniciadores que amplificam segmento de 138pb interno ao obtido na reação anterior. As amostras com amplificação da ORF-26 na triagem foram submetidas a confirmação da detecção do HHV-8 por PCR com iniciadores dirigidos a ORF-K1 viral, sendo esperados amplicons de 255pb e de 247pb, na primeira PCR e na nested-PCR, respectivamente. Foram considerados HHV-8 negativos os casos sem amplificação para ORF-26, HHV-8 positivos os casos que apresentaram amplificação de ambos os segmentos virais pesquisados (ORF-26 e ORF-K1) e inconclusivos os casos que apresentaram amplificação da ORF-26 viral, mas não da ORF-K1.

RESULTADOS:
Entre os casos de LNH de pacientes HIV-positivos, 15 foram diagnosticados como LNH difuso de grandes células B (DGCB), 1 caso como LNH difuso de grandes células T (DGCT) e 1 como LNH centroblástico de alto grau Burkitt-like (CAGB). Em 5 casos de LNH, não foi possível estabelecer o imunofenótipo com base nos dois marcadores linfóides utilizados na imunoistoquímica (CD3 e CD20, antígenos de células T e B, respectivamente). Nos casos de LNH de pacientes HIV-positivos, 18/24 (81,8%) eram pacientes do sexo masculino e 4/24 (18,2%) do sexo feminino. A idade média dos pacientes foi de 43,8 anos, oscilando entre 24-65 anos. Praticamente todos os casos de HLFR selecionados eram pacientes submetidos à cirurgia para remoção de tonsila palatina ou adenóide (99,7%). Dentre os 71 casos de HLFR analisados, 38/71 (53,5%) eram pacientes do sexo masculino e 33/71 (46,5%) do sexo feminino. A idade média foi de 8,6 anos, oscilando entre 0 a 23 anos. Em nenhum dos casos de LNH de pacientes HIV-positivos o HHV-8 foi consistentemente detectado, sendo que dois casos foram considerados inconclusivos por não apresentarem amplificação de ambas as ORFs virais pesquisadas. Por outro lado, a infecção pelo HHV-8 foi verificada em 13/71 casos (18,3%) de HLFR de pacientes HIV-negativos, e 8/71 (11,3%) casos foram considerados inconclusivos. Amostras de DNA de todos os casos avaliados apresentaram amplificação adequada do segmento de 123pb do gene da cadeia beta da hemoglobina humana.
CONCLUSÕES:
Foi observada maior freqüência de infecção pelo HHV-8 nas amostras de HLFR de pacientes HIV-negativos (18,3%) em relação às amostras avaliadas de LNH de pacientes HIV-positivos (0%). A ausência de indícios consistentes de infecção pelo HHV-8 em LNH de pacientes HIV-positivos enfraquece a hipótese de esse vírus contribuir na patogênese de repertório mais amplo de linfomas que aquele atualmente definido na literatura. Por outro lado, a freqüência de infecção viral observada nos casos de HLFR é superior à prevalência de HHV-8 relatada na literatura para a população de indivíduos saudáveis. Considerando que a casuística de HLFR é de população pediátrica, esse dado pode refletir maior exposição de indivíduos jovens ao HHV-8 em nosso meio. Os resultados de infecção pelo HHV-8 em parcela significativa de HLFR suscitam a hipótese de a infecção viral responder por alguns dos episódios de proliferação linfóide reacional benigna na população pediátrica, indicando a necessidade de se esclarecer à contribuição do HHV-8 no desenvolvimento de distúrbios linfoproliferativos benignos
Instituição de fomento: FAPESP
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Linfomas não-Hodgkin; Linfadenopatias reacionais; Herpesvirus humano tipo 8.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006