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D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 7. Enfermagem
Violência Intrafamiliar contra a criança e o adolescente: reflexões sobre o cuidado de enfermeiras
Dalva Irany Güdtner 1
Telma Elisa Carraro 2
(1. Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina; 2. Programa de Pós-Graduação de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarin)
INTRODUÇÃO:

A violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes é um fenômeno universal e virulentamente democrático, pois ocorre em qualquer classe social, etnia ou religião (AZEVEDO e GUERRA, 2001). Embora sendo uma prática social, antiga e histórica, só em épocas pós-modernas vem ganhando maior atenção da sociedade. No entanto, por ser considerada uma questão social, a violência intrafamiliar não tem recebido ainda a devida atenção do setor saúde (MINAYO, 2003). Suas conseqüências refletem-se nos serviços de saúde, e nas taxas de morbidade e mortalidade. Investigações realizadas junto a emergências no Brasil têm demonstrado que o desconhecimento do fenômeno em suas diferentes modalidades e focos atrai a preocupação dos profissionais apenas para sinais e sintomas, patologias ou ferimentos. Atitudes como essas têm evitado que casos de violência sejam suspeitados, investigados, registrados, notificados e tratados adequadamente (DESLANDES, 1999); (OMS, 2002), impedindo que as vítimas desfrutem do desenvolvimento e viver saudável. Violência denota uma relação de força entre desiguais que resulta na dominação e aniquilamento do mais fraco (MINAYO, 2003). A enfermeira demonstra a relevância do papel social de sua profissão ao envolver-se no enfrentamento e na prevenção desse fenômeno. Como compromisso de contribuir para a construção de conhecimento específico para o cuidado de Enfermagem, esta pesquisa teve por objetivo Refletir sobre o cuidado das enfermeiras diante do fenômeno de violência intrafamiliar contra a criança e o adolescente, buscando compreender as ações realizadas por essas profissionais, visando a construção de um modelo para tal cuidado.

METODOLOGIA:

A investigação foi conduzida sob a modalidade qualitativa do tipo compreensiva interpretativa, por permitir a captação dos sentidos simbólicos que o fenômeno tem para o informante, ou que este lhe atribui (TURATO, 2003), bem como a percepção de como ocorre esse processo. O referencial teórico utilizado para sustentar o estudo constituiu-se de uma tessitura literária sobre o Interacionismo Simbólico, Violência e Cuidado. O projeto foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina, e a identidade das participantes preservada sob codinomes de pássaros. Onze enfermeiras, atuantes em instituições que atendem crianças e adolescentes vítimas de violência intrafamiliar nos contextos da saúde comunitária, hospitalar e serviços de proteção, participaram dessa investigação, após convite realizado pessoalmente às mesmas. Coletados através de uma única entrevista semi-estruturada, com cada uma delas, os dados foram gravados após a devida autorização, e quando as informações começaram a apresentar repetição, encerrou-se sua captação. Concomitantemente à coleta, os dados eram ordenados, e já sofrendo análise preliminar, seguindo o caminho utilizado por Minayo (2004), o qual consta de três passos: a ordenação dos dados, a classificação destes e a análise final, a qual consistiu num entrelaçar, dos fios das falas das enfermeiras, o conhecimento teórico da temática abordada das pesquisadoras, e a tessitura literária que sustentou o trabalho.

 

RESULTADOS:

Ao entrelaçar os fios das falas das enfermeiras, os dados teceram uma rede compondo as três categorias: RECONHECENDO O FENÔMENO E A FAMÍLIA, INTERAGINDO/AGINDO FRENTE AO FENÔMENO e SENTINDO FRENTE AO FENÔMENO. Cada uma destas categorias, por sua vez, desdobrou-se em duas subcategorias. A primeira evidenciou-se em Definindo o Fenômeno da Violência Intrafamiliar e Definindo a Família que Vivencia o Fenômeno. Ainda a segunda categoria, igualmente se divide nas suas subcategorias Cuidando Subjetivamente e Cuidando Objetivamente. Já a terceira categoria mostra que o impacto sobre as enfermeiras participantes da pesquisa apresentou uma variada gama de Emoções, bem como a Necessidade de Capacitação como passo mandatório para a participação no atendimento à criança ou o adolescente que sofreu violência intrafamiliar.

 

CONCLUSÕES:

Esta investigação apresenta como contribuição a possibilidade de reconhecimento e de re-formulação para as próprias enfermeiras do estudo, quanto à visão de que suas ações constituem cuidado de Enfermagem às vítimas de violência intrafamiliar. Desta forma os resultados configuram um corpo de conhecimentos disponibilizado à outras enfermeiras que, em seu dia-a-dia, se deparam com a real violência. Podem também subsidiar o repensar das políticas públicas de saúde, quer seja no que concerne a promover a saúde; quer seja em prevenir o fenômeno, preservar e cuidar das vítimas. Os resultados também apontam à premência da inclusão desta temática nos currículos dos cursos, não apenas de Enfermagem, mas de todos aqueles, cujos profissionais possam vir a atuar frente ao fenômeno da violência intrafamiliar contra a criança e o adolescente. Afirmação que vai ao encontro de uma das metas das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem, a qual visa atender as necessidades sociais dos usuários dos serviços da saúde. Assim, ao trazerem visibilidade do cuidado ofertado pelas enfermeiras diante desse fenômeno, os resultados da investigação trarão benefícios intangíveis para as próprias vítimas, suas famílias, e à sociedade em geral. Enfim, esta pesquisa confirma a premissa que a originou: As enfermeiras cuidam diante do fenômeno de violência intrafamiliar contra a criança e o adolescente, embora não tivessem real consciência deste fato.

 
Palavras-chave: Cuidado; Enfermagem; Violência intrafamiliar .
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006