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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança

MUSICOTERAPIA NA PREVENÇÃO E/OU DIMINUIÇÃO DO ESTRESSE PSICOFISIOLÓGICO DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO: UM ESTUDO COM PACIENTES ENTRE 10 E 21 ANOS

Fernanda Ortins Silva 1
Eliamar Aparecida de Barros Fleury e Ferreira 1, 2
Ana Maria Caran Miranda 2, 3
(1. Universidade Federal de Goiás; 2. Associação de Combate ao Câncer em Goiás/ Hospital Araújo Jorge. Oncopediatria; 3. Universidade Católica de Goiás)
INTRODUÇÃO:

O presente estudo propõe investigar, através da pesquisa de campo, “se” e “como” a Musicoterapia pode auxiliar na prevenção e/ou diminuição do estresse psicofisiológico em pacientes adolescentes portadores de câncer, durante o período de hospitalização. O indivíduo/doente, frente a uma situação estressante como a hospitalização, pode utilizar qualquer tipo de recurso de enfrentamento que estiver ao seu alcance, entre eles, a música, que mesmo sendo uma linguagem não-verbal pode ser um veículo de comunicação, ajudando o paciente a expressar seus sentimentos e/ou conteúdos emergenciais, através dos atendimentos musicoterápicos. A música, como principalidade da Musicoterapia, é considerada um canal de comunicação e expressão de sentimentos, idéias e/ou conflitos. Acredita-se, neste sentido, que a Musicoterapia pode atuar de maneira única e singular, respeitando a individualidade do ser humano/doente que se encontra hospitalizado. Observa-se que o desenvolvimento deste estudo tem relevância ao procurar compreender “se” e “como” os atendimentos musicoterápicos puderam auxiliar na prevenção e/ou diminuição do estresse psicofisiológicos em pacientes adolescentes portadores de câncer, proporcionando-lhes um fortalecimento, durante a hospitalização. Ainda, este estudo visa comprovar cada vez mais não só a cientificidade da Musicoterapia Hospitalar, mas também o papel da Musicoterapia como terapêutica significativa de ajuda ao paciente adolescente portador de câncer.

METODOLOGIA:

Várias leituras sobre estresse, ser adolescente/doente, hospitalização, Musicoterapia Hospitalar e pesquisa clínico-qualitativa foram necessárias para fundamentar e contextualizar o presente trabalho. Verifica-se que a pesquisa clínico-qualitativa tem como pilares, as atitudes existencialista, clínica e psicanalítica, procurando valorizar e acolher aspectos como angústia e ansiedade do indivíduo. Diante do estudo teórico realizado, partiu-se para a pesquisa de campo, a fim de levantar dados empíricos, para a posterior análise e conclusão do trabalho. Para levantar estes dados, foi necessário a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da Associação de Combate ao Câncer em Goiás – CEP/ACCG, e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos pais ou responsáveis, atendendo a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados se deu a partir de atendimentos musicoterápicos realizados com pacientes de 10 a 21 anos, internados na Pediatria do Hospital Araújo Jorge e na Unidade de Transplante de Medula Óssea. Além dos atendimentos, foram aplicados três questionários, sendo um questionário aplicado aos pais ou responsáveis e dois questionários aplicados aos pacientes antes e após o atendimento musicoterápico. Ainda, foram feitos relatórios de cada atendimento, como forma de registro das sessões, bem como discussões com a musicoterapeuta/supervisora de campo, buscando-se compreender as situações manifestas no mesmo.

RESULTADOS:

Foram atendidos 20 pacientes em um total de 54 atendimentos. O questionário aplicado aos pais ou responsáveis teve como resultado uma amostra dos possíveis sintomas de estresse psicofisiológico apresentados pelo paciente. Sintomas como perda de apetite, insônia, agitação, dores de cabeça, diarréia, tonturas, gases e vômitos, foram citados com freqüência nos dias que antecederam a internação, no mesmo dia em que foi internado, e no início do tratamento medicamentoso. Quanto aos questionários aplicados aos pacientes, observou-se que em 84% dos questionários respondidos, os pacientes relataram sentir maior tranqüilidade e uma maior sensação de alívio, após o atendimento. Ainda, houve uma melhora de 58% para 64% referente ao item “corpo leve e relaxado”. Houve a formação de 4 categorias, de acordo com respostas subjetivas dadas pelos pacientes: Bem estar, Divertimento, Distração e Tranqüilidade. Em relação aos atendimentos musicoterápicos a experiência de Re-criação Musical foi utilizada com maior constância durante a pesquisa, a fim de desenvolver habilidade de comunicação de idéias e de sentimentos. Os pacientes estavam envolvidos com o cantar, reproduzindo vocalmente materiais estruturados ou canções pré-compostas, entoando canções ou lendo as músicas. As músicas mais solicitadas foram “Vamos Fugir”, “Por que choras?” e “Catedral”. Outra experiência Musicoterápica muito utilizada foi a Composição Musical, culminando em músicas como: “Saudade” e “Desabafo”.

CONCLUSÕES:

Observou-se que os pacientes apresentaram bem estar, tranqüilidade, alegria e distração durante os atendimentos, com uma melhora considerável em seu estado físico, emocional e psicológico. A musicoterapia, neste sentido, proporcionou aos pacientes momentos de desligamento do “aqui e agora”, do contexto de dor, de angústia, do estar e do sentir-se doente. Através da música, em musicoterapia, os pacientes, puderam viajar em seus pensamentos, indo para qualquer tipo de fantasia ou mundo escolhido por eles mesmos, sendo na maioria das vezes um mundo cheio de vida, amor, companheirismo, amizade e lembranças de uma vida saudável, seja ela passada ou futura, porém carregada de esperança, através dos momentos de distração que foram e são essenciais neste contexto.  Através do canto, do tocar, do compor e do ouvir música (s) puderam expressar sentimentos que muitas vezes tornar-se-iam difíceis de serem anunciados pelo verbal. Assim, através das experiências de Re-criação Musical e Composição Musical, principalmente, os pacientes utilizaram a música como canal de comunicação e expressão de conteúdos internos e/ou emergenciais de maneira, talvez, menos invasiva, auxiliando de forma efetiva o enfrentamento do estresse e/ou das situações emergenciais/alarmantes. Deste modo, a Musicoterapia pôde auxiliar de maneira efetiva na prevenção e/ou diminuição do estresse psicofisiológico em pacientes adolescentes portadores de câncer, durante a hospitalização.

 
Palavras-chave: Musicoterapia Hospitalar; Adolescente; Estresse.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006