IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 2. Antropologia da Saúde

SEXUALIDADE MASCULINA, VIRILIDADE E ENVELHECIMENTO. ESTUDO DAS FALAS DE IDOSOS E PROFISSIONAIS DA SAÚDE

Luiza Maria Amorim 2, 3
Waldelice G. Lopes 2, 3
Theophilos Rifiotis 1, 2
(1. Departamento de Antropologia / UFSC; 2. NETI (Núcleo de Estudos da Terceira Idade) / UFSC; 3. Curso de Especialização em Gerontologia / UFSC)
INTRODUÇÃO:

Trata-se de um estudo exploratório dos discursos sobre masculinidade no campo da Gerontologia enfocando dois tipos de sujeitos:  idosos e profissionais de saúde (urologistas e geriatras) e psicologia.  O trabalho foi realizado como parte dos requisitos para conclusão do Curso de Especialização em Gerontologia realizado pelo NETI (Núcleo de Estudos da Terceira Idade) da Universidade Federal de Santa Catarina e concluído em 2005.

 

O ponto de partida do trabalho é a importância da sexualidade para os idosos, sua presença no quotidiano dos idosos, e a necessidade de estudos mais aprofundados no campo do gênero sobre a masculinidade, especialmente sobre a sexualidade masculina.

 

O objetivo do estudo é caracterizar os discursos de dois grupos de sujeitos (idosos e operadores da saúde e psicologia) sobre a masculinidade e “virilidade”, relacionando-os com o envelhecimento.

 

 

METODOLOGIA:

A pesquisa está fundamentada metodologicamente na análise do discurso, tomando a “análise de conteúdo” (categorização, reagrupamento semântico, inferência) como técnica específica.

 

Foram entrevistados dois grupos de sujeitos:

 

1)      idosos do sexo masculino: 19 alunos do sexo masculino na faixa dos 60 anos do Curso de Formação de Monitores da Ação Gerontológica do NETI/UFSC;

2)      profissionais da área da saúde e psicologia: 10 profissionais de ambos os sexos que atuam na área da sexualidade masculina e do envelhecimento, sendo dois urologistas, cinco geriatras e três psicólogos, com grande experiência nas suas áreas de atuação.

 

As entrevistas semi-estruturadas foram gravadas e transcritas para posterior análise. Os dados coletados foram reagrupados por categorias e re-organizados semanticamente.  Para o grupo dos operadores de saúde e psicólogos procurou-se, inicialmente, organizar as categorias a partir de cada segmento profissional para guardar a especificidade dos discursos, sendo posteriormente realizado um estudo comparativo.

 

Foi construído para cada grupo de sujeitos um perfil geral utilizado na análise como parâmetro interpretativo, no qual foram destacados basicamente para os idosos: idade, escolaridade, situação profissional, situação familiar, residência.  Para os profissionais foi levantada a área específica de formação, tempo de titulação e exercício profissional.

 

 

RESULTADOS:

Os alunos entrevistados do Curso de Formação de Monitores da Ação Gerontológica do NETI/UFSC compõem um grupo cuja idade média está na faixa de 60 anos, sendo 58% deles com escolaridade de nível superior, e o restante de 2º.Grau.  O grupo apresenta 90% são aposentados, 90% residem com suas esposas.  Perguntados sobre as atividades físicas e sexuais, 90% afirmaram fazer regularmente exercícios e que mantém atividade sexual regular (sendo que apenas 26% afirmam não ter atividade sexual ou que ela é pequena ou não freqüente).  Quanto ao envelhecimento, ele está associado nas falas dos sujeitos a perdas físicas, e a uma diminuição do desempenho sexual ou da sua freqüência das relações (63%).  A “virilidade” foi associada em 84% dos sujeitos ao desempenho sexual (“potência sexual”, “freqüência”), e o envelhecimento está associado ao declínio da função sexual e da virilidade.

 

Os profissionais entrevistados foram dois geriatras, cinco urologistas e três psicólogos, de ambos os sexos e todos na faixa de cinqüenta anos ou menos.A sua grande maioria atua na sua especialidade em média há mais de 15 anos.  Quando comentam as queixas trazidas pelos seus clientes idosos do sexo masculino destacam a prevenção do câncer de próstata e as disfunções sexuais, sendo o diagnóstico prevalente o das disfunções sexuais.  Salvo, diagnóstico específico, os encaminhamentos dados são basicamente a prescrição de drogas para ereção e psicoterapia.  Para estes profissionais a “virilidade” também está prevalentemente associada ao desempenho sexual.

 

 

CONCLUSÕES:

Os resultados apontaram para o significado sexual dado à virilidade como um elemento fundamental na construção da masculinidade para os dois grupos de sujeitos, e o envelhecimento está intimamente ligado ao declínio do desempenho sexual. Por outro lado, é preciso destacar que praticamente todos os idosos entrevistados procuraram especialistas, sobretudo da urologia.  Porém, trata-se de um grupo de idosos com atividades de formação continuada e com alta escolaridade, o que os distingue da maioria da população. A pesquisa apresentou ainda uma série de questões a desvendar tais como o desconhecimento ou a não aceitação das mudanças que ocorrem na “virilidade” com o envelhecimento; a prescrição de medicamentos para ereção; a “aposentadoria sexual”; a influência da duração ou da qualidade da relação conjugal  bem como idade da parceira nas disfunções sexuais.  Entendemos, finalmente, que o chamado “declínio da virilidade” no processo de envelhecimento coloca importantes problemas para a auto-imagem dos idosos.

 

Assim, a presente pesquisa, apesar do seu caráter exploratório, permitiu levantar hipóteses de trabalho para a Gerontologia e disciplinas a ela associadas, entre as quais destacamos a necessidade e a urgência de estudos mais aprofundados sobre a sexualidade no envelhecimento, posto que a forte vinculação entre disfunção sexual e “virilidade” aponta para uma dificuldade no campo da saúde tanto física como mental dos sujeitos idosos.

 

 

 
Palavras-chave: masculinidade; envelhecimento; sexualidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006