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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho

MULTINACIONAIS E REDES SINDICAIS

Lilian R. Arruda 1
(1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
INTRODUÇÃO:

As redes sindicais são organizações que reúnem dirigentes sindicais de empresas multinacionais, oriundos de países e regiões distintas, para trocar informações, experiências e reivindicar a uniformização de seus direitos.

A mudança do perfil da classe trabalhadora, agora devastada pelos altos índices de desemprego, colocou o movimento sindical e operário, em âmbito mundial, numa profunda crise: as taxas de sindicalização despencaram na década de 1980. O sindicalismo passou a ter outros desafios e dificuldades porque as formas de poder global tornaram-se mais complexas, os grandes grupos multinacionais conseguiram sobreviver às crises econômicas mundiais e expandiram-se, acirrando um processo de internacionalização e concentração.

Para fazer frente a essas formas de poder o movimento sindical e operário inseriu-se nos movimentos globais de resistência à globalização hegemônica, também chamados de movimentos antiglobalização ou globalização contra-hegemônica. Há, portanto, uma tendência de substituição do sindicato com estrutura vertical pelo sindicato com estrutura horizontal que possa agregar trabalhadores estáveis e precários.

Com isso, as organizações sindicais e operárias necessitaram criar elos internacionais entre os trabalhadores. A criação de redes sindicais e comitês de trabalhadores por empresa assumiu relevância, pois faz parte de uma de uma tendência do movimento sindical internacional no início do século XXI.

METODOLOGIA:

- Análise sócio-histórica, ligando o contexto local/nacional ao regional/internacional em cada etapa da pesquisa.

- Pesquisa bibliográfica/hemerográfica (imprensa hegemônica e sindical), em institutos de pesquisas socioeconômicas (Dieese, IBGE, Observatório Social, Ibase, Instituto Ethos) e entrevistas com dirigentes sindicais.

- Entrevistas com dirigentes sindicais elaboradas através de roteiros e/ou pela técnica de pesquisa não-diretiva, considerando-se os relatos da vida cotidiana

- Pesquisa na imprensa (hegemônica e sindical) através de uma análise de conteúdo, considerando-se não só a notícia escrita, mas também fotos, diagramação e manchetes a partir de determinados temas especificados. Foi feito, aqui, o uso e a análise de fontes documentais como materiais de publicidade e produtos de consumo cultural.

RESULTADOS:

Na primeira fase de internacionalização do movimento sindical e operário foram organizadas as internacionais socialistas e as federações internacionais. Na segunda, foram criadas a Central Internacional de Organizações Sindicais em 1919 e a Internacional Sindical Vermelha em 1920. Na terceira fase, em plena Guerra Fria, surgiram a Central Internacional de Organizações Sindicais Livres (CIOLS) (“mundo livre”, ou, países capitalistas ocidentais) e a Federação Sindical Mundial (FSM) (países socialistas). Na década de 1990 a internacionalização do movimento sindical dá-se, também, a partir da organização no local de trabalho através de comitês e redes sindicais.

No Brasil, a CUT, com o projeto Ação Frente às Multinacionais, tem o objetivo de articular a criação de Comitê Nacional Sindical para cada empresa transnacional.

No ano de 2004, atuaram no Brasil as seguintes redes: Comitê Unilever do Brasil, Rede de Trabalhadores Basf da América do Sul, Coordenadora Internacional do ABN Amro Bank, Comitê Nacional Bosch, Comitê Nacional Bayer, Rede Internacional HSBC, Rede de Trabalhadores ThyssenKrupp, Comitê da Akzo Nobel.

Algumas reivindicações das redes: cooperação internacional e fortalecimento dos trabalhadores nas negociações coletivas, construção de uma pauta de interesses comuns, defesa do emprego conforme as Convenções da OIT (direito à negociação coletiva, à representação e afiliação sindical, à integração cultural, à não-discriminação), acesso dos sindicatos às informações da empresa.

CONCLUSÕES:

O processo de internacionalização dos trabalhadores e suas organizações não é novo, acontece desde o século XIX. Esse processo passou por várias fases, todavia, com a formação de comitês de empresa e redes sindicais o movimento sindical e operário entra em outra fase de internacionalização.

Essas formas de organização sindical têm o intuito de romper com o localismo e criar elos internacionais entre os trabalhadores. Assim como, devem levar em consideração, não apenas o ramo de atuação, mas todas as dimensões que afetem a vida dos trabalhadores e dos cidadãos.

As redes enfrentam os seguintes dilemas: no Brasil, várias redes estão sob a organização da CUT, central que tem uma estrutura vertical e burocratizada, diferentemente das redes que têm uma estrutura horizontal; há resistências dos próprios dirigentes sindicais que acreditam que as redes podem esvaziar os sindicatos. Apesar da internacionalização do capital e do movimento sindical e operário, seria interessante frisar que boa parte da ação sindical continua local. Outrossim, a internacionalização evidenciou quão heterogênea é a classe trabalhadora deste começo do século XXI.

 
Palavras-chave: redes sindicais; movimento sindical e operário; empresas multinacionais..
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006