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D. Ciências da Saúde - 4. Odontologia - 10. Odontologia

AVALIAÇÃO DE DANOS NO DNA EM MÚLTIPLOS ÓRGÃOS APÓS A INGESTÃO AGUDA DE FLÚOR POR RATOS WISTAR

Aline de Lima Leite 1
Marília Afonso Rabelo Buzalaf 1
Joel Ferreira Santiago Junior 1
Andrea Gutierrez Maria 1
Daisy Maria salvadori 2
Daniel Araki Ribeiro 2
(1. Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Odontologia de Bauru FOB/USP; 2. Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Botucatu - FMB/UNESP)
INTRODUÇÃO:

O flúor tem sido amplamente usado na Odontologia no controle da cárie dentária. Entretanto, tem havido alguma especulação de que o excesso de flúor poderia causar danos genéticos. Somada à constante exposição da população ao flúor, estudos sobre seu efeito no DNA tornam-se importantes, uma vez que as informações existentes sobre o potencial genotóxico do flúor são contraditórias e desatualizadas (Smith, 1985). Segundo alguns autores, o flúor não apresenta efeito genotóxico (Kilman, 1957; Kran et al., 1978; Martin et al., 1979; Tong et al, 1988; Slamenova, et al., 1992; Kleinsasser, et al., 2001). No entanto, outros observaram que o flúor é um agente mutagênico (Mohamed, 1968; Gerdes, 1971; Mohamed & Chandler, 1977) que induz trocas entre cromátides irmãs (Li, et al., 1989) e que tem efeito sinérgico e antagônico com certos mutágenos conhecidos (Mukherjee e Sobels, 1968; Voegel, 1973). Os testes de genotoxicidade constituem uma parte importante nas pesquisas envolvendo câncer e a avaliação do risco conferido por carcinógenos em potencial. Neste estudo o potencial do flúor, após ingestão aguda, em causar danos ao DNA foi avaliado no sangue, fígado, rins, bexiga e glândula tireóide pela análise do gel de célula simples (teste do cometa) in vivo.

METODOLOGIA:

Os animais utilizados foram obtidos do Biotério Central da FOB - USP e foram divididos em 7 grupos contendo 5 ratos (Rattus norvergicus, Wistar) machos cada, totalizando 35 animais. Após o desmame, os animais receberam água deionizada e ração ad libitum por 50 dias. Após este período, os ratos foram distribuídos em 7 grupos (n=5/grp), que diferiram com relação à dose de flúor (na forma de fluoreto de sódio) que os mesmos receberam por gavagem gástrica (0, 10, 20, 40, 60, 80 e 100 mg/kg de peso), sendo que o grupo controle recebeu apenas água deionizada. Decorridas 2 horas da administração do Flúor, os ratos foram anestesiados e em seguida, a cavidade peritoneal e torácica foram expostas e o coração puncionado para coleta de sangue. Foram coletados ainda os rins, fígado, bexiga e glândula tireóide, os quais foram submetidos ao teste do cometa. O sangue coletado foi submetido ao teste do cometa e analisado para o flúor com o eletrodo, após difusão facilitada por HMDS. Com o objetivo de garantir a sensibilidade bem como a reprodutibilidade do ensaio, expusemos algumas das amostras do controle negativo de todos os órgãos avaliados ao metil metanosulfonato (MMS) na concentração de 10 µg/mL. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística pelo teste de ANOVA e pelo teste de Tukey. Para o teste do cometa, foi feito o teste de Kruskal Wallis e para individualização o teste de Newman Keuls.  Em todas as análises, foi adotado o valor de p<0,05 para significância.

RESULTADOS:

Com relação aos níveis de flúor no plasma, o teste de comparação de Tukey revelou uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos que ingeriram 10, 20, 40, 60, 80 e 100 mg F/Kg quando comparado ao grupo controle (p<0,05). A absorção plasmática do F ocorreu nas 2 horas após a administração da solução de fluoreto de sódio. Em um estudo anterior conduzido por nosso grupo de pesquisa, observou-se que o NaF administrado cronicamente não induziu um aumento significativo no nível de quebras do DNA em células de sangue periférico (Buzalaf et al., 2005 in press). Da mesma forma, não foi detectado aumento no nível de danos do DNA em células de sangue periférico neste estudo para todas as doses de F testadas, no entanto evidências experimentais in vitro revelaram que o flúor pode induzir peroxidação lipídica, sendo este um mecanismo de genotoxicidade (Anuradha et al., 2001). A fim de se verificar a genotoxicidade do flúor em órgãos-alvo, foi realizado o teste do cometa em células da glândula tireóide, fígado, rim e bexiga. Os resultados não demonstraram quaisquer evidências de genotoxicidade para todas as doses das quais os espécimes foram expostos, ao passo que todos os tipos celulares que receberam tratamento com metil metanosulfonato apresentaram uma certa sensibilidade. Tais achados estão em consonância com alguns autores que reportaram que o flúor é capaz de exercer atividade citotóxica e não genotóxica (Kleinsasser et al., 2001).

CONCLUSÕES:

 Os resultados obtidos no presente estudo, demonstram que mesmo a ingestão de doses agudas letais de flúor são incapazes de induzir genotoxicidade em ratos, fornecendo deste modo, um suporte adicional à fluoretação controlada das águas de abastecimento público, que é uma medida de extrema importância para o controle da cárie dentária.

 

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Flúor; DNA; Teste do Cometa.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006