A preocupação da presente pesquisa foi entender - à luz da Sociologia da Educação - os movimentos dos sujeitos nos espaços escolares, mais precisamente na constituição dos grupos nesses espaços. Fala-se, então, de um espaço escolar como lugar culturalmente construído pelas relações sociais estabelecidas em seu cotidiano, pelo constante movimento dos sujeitos em interação. A pesquisa teve por objetivo geral contribuir para a compreensão de processos sociais marcados pela constituição e movimentação de grupos no espaço escolar. Falar de processos de socialização implica considerar sujeitos em interação, em movimento num determinado espaço. O grupo pode ser caracterizado como a circunstância por excelência onde ocorrem as relações sociais e o estudo da atividade grupal possibilita a análise dos processos socializadores em si. Focalizar as aproximações, os distanciamentos, as escolhas, os conflitos, enfim, a vida em grupo - essencialmente humana e, portanto, social - significa enxergar o espaço escolar como uma estrutura reticular constituída por sujeitos em interação com os demais. Na presente pesquisa os sujeitos escolhidos têm como característica importante sua formação diversificada: licenciados em Matemática, Pedagogia, História, Filosofia, Educação Física e formados em Direito e Ciências Sociais, compondo um grupo multidisciplinar.

A pesquisa foi realizada tendo como instrumentos de coleta de dados o teste sociométrico e a observação em sala de aula. Os sujeitos da pesquisa foram doze alunos pertencentes a uma turma de pós-graduação em educação na cidade de São Paulo. O primeiro momento da pesquisa foi marcado pela observação dos agrupamentos formados pela turma e das relações sociais estabelecidas em sala de aula. A seguir aplicou-se o teste sociométrico com a intenção de mapear as formas de constituição dos grupos no processo de socialização. O teste foi composto de oito perguntas que versavam sobre escolhas e rejeições emitidas pelos sujeitos com base em critérios de trabalho acadêmico (realização de trabalhos escolares) e profissional (trabalhar junto na mesma escola) e critérios de vida em comum provisória (um passeio de final-de-semana) e permanente (dividir moradia). A aplicação do teste foi coletiva - todos os sujeitos pesquisados responderam às perguntas no mesmo momento. O material utilizado foi apenas um bloco de questões para cada sujeito pesquisado. Em seguida à aplicação do teste, elaborou-se uma matriz sociométrica para a análise e interpretação dos dados, possibilitando a leitura da estrutura traçada pelos sujeitos para os agrupamentos em sala de aula. Para visualizar a distribuição dos sujeitos no espaço escolar, elaborou-se ainda um sociograma de teatro sobre a distribuição de escolhas recebidas.

A dinâmica das aulas observadas apresenta um aspecto relevante: cada aluno tinha um tempo definido para apresentar seu projeto de pesquisa sobre o qual os outros alunos emitiam críticas e sugestões. As relações sociais foram estabelecidas em torno da circulação desses discursos e do tempo de convivência entre os alunos. Alguns pontos merecem destaque: o aluno (A10) que se destacou como popular recebendo 24% das escolhas no critério de trabalho acadêmico e profissional apresentava um discurso em torno de questões políticas e de financiamento da própria categoria docente e sua trajetória profissional incluía a atuação nas esferas sindicais do magistério. Analisando-se o critério de vida em comum provisória e permanente este aluno (A10) também teve destaque, recebendo 17% das escolhas. Foi possível mapear dois fortes agrupamentos baseados em escolhas recíprocas dos alunos tanto com relação ao critério de trabalho quanto com relação ao critério de vida em comum: A2, A6, A9 e A8, A10, A11, A12. Os dois agrupamentos são verificáveis também na ocupação do espaço de sala de aula: há proximidade física entre os sujeitos agrupados. Considerando a trajetória acadêmica desses sujeitos percebe-se que os dois agrupamentos têm como forte fator de configuração a data de ingresso no programa de pós-graduação, ou seja, A2, A6 e A9 ingressaram em 08/2004 e A8, A10, A11 e A12 ingressaram em 02/2004.

A atividade humana é, sobretudo, interação. O espaço de ação do sujeito é configurado pela presença objetiva do outro - marcada pela emissão dos discursos que fazem - e pela percepção dessa presença - marcada pelo reconhecimento dos discursos emitidos. No presente estudo, o aluno caracterizado como popular aproximou-se do que Bourdieu (1983) define como “emissor legítimo” e sua fala é recebida como um discurso também legítimo. A formação de agrupamentos com base no tempo de convivência dos alunos indica que o processo de socialização é dinâmico e ocorre por meio da movimentação dos sujeitos e dos grupos, desta forma, o maior tempo de convivência possibilitou ensaios de aproximações no processo de socialização. Múltiplos aspectos sociais estão presentes nos processos de interação social. Apontam-se dois aspectos relevantes para entender os mecanismos de constituição de grupos: a emissão de discursos e o tempo de convivência dos alunos. Mapear estes aspectos e conhecer as trajetórias de vida daqueles que ocupam o espaço escolar ajuda a entender a estrutura das relações sociais traçada entre os alunos e, por conseguinte, a própria dinâmica do processo educativo. O reconhecimento da configuração do espaço escolar como lugar (Viñao Frago, 1998) implica entender como se processam as lutas, as disputas e as afinidades entre os sujeitos que constroem esse lugar. Os resultados obtidos no presente estudo apontam possibilidades de aprofundamento da pesquisa na formação de professores.