IMPRIMIR VOLTAR
F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 11. Economia
MERCADO DE TRABALHO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS: UMA ANÁLISE DA EVOLUÇÃO NA ÚLTIMA DÉCADA
Genaro Campoy Scriptore 1
Alessandro Polonio 1
Nelly Maria Sansigolo de Figueiredo 1
(1. Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
INTRODUÇÃO:

As relações trabalhistas no Brasil vêm sofrendo diversas transformações: de um lado a necessidade de emprego para os trabalhadores que tentam ingressar no mercado e para os desempregados que tentam se recolocar no mercado e, de outro, as necessidades das empresas que se tornam cada vez mais competitivas e automatizadas, buscando por colaboradores com grau de especialização elevado. A terceirização e a informalidade acabam por desempenhar um papel alternativo nas relações entre empregados e empregadores, sendo que direitos trabalhistas e responsabilidades sociais são transferidos da pessoa jurídica para o empregado, com o propósito de diminuir os custos dos fatores de produção, provocando uma alteração real no fluxo monetário da economia.

Dada a importância do tema, este trabalho objetiva estudar as transformações ocorridas no mercado de trabalho em segmentos econômicos selecionados na Região Metropolitana de Campinas, Brasil (RMC). Especificamente, analisa-se a evolução do emprego, da renda, da desigualdade de rendimentos, investigando, ainda, a precariedade das relações de trabalho, na hipótese de que as formas precárias de contratos, particularmente a terceirização, são relativamente comuns dentro da RMC, que, como em todo o Brasil, apresenta um comportamento bem definido quanto à terceirização e a informalidade do mercado de trabalho.

METODOLOGIA:

Este trabalho apóia-se inicialmente em revisão bibliográfica sobre temas essenciais para a compreensão da estrutura econômica do mercado de trabalho contrastando os vários segmentos que buscam a modernização, a flexibilidade e competitividade global. São segmentos selecionados segundo a classificação da CNAE, e tendo como base os Censos Demográficos de 1991 e 2000 (microdados). Seguindo essa mesma classificação, são analisadas também as informações sobre o mercado de trabalho formal, tendo como fonte de dados a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho.

A unidade de análise refere-se à pessoa ocupada na população economicamente ativa (PEA) na Região Metropolitana de Campinas. As variáveis estudadas são rendimento médio e desigualdade da distribuição dos rendimentos, por setor e por ramo de atividade econômica. Analisa-se também a precariedade dos contratos de trabalho através da observação do registro em carteira e incidência de trabalhadores por conta própria e autônomos. Em seguida são analisados os resultados, contrastando diferenças e buscando justificá-las com base em revisão de outros estudos sobre o mercado de trabalho no Brasil.

Para a análise estatística de dados foram utilizados os softwares SPSS e Excel da Microsoft.

RESULTADOS:

Dados dos Censos indicam a evolução do emprego, da renda e da desigualdade entre a PEA da RMC, por setor econômico e por ramo de atividade. Entre 1991 e 2000 há um incremento de 51% na renda real média e de 8,1% na desigualdade da distribuição medida pelo Índice de Gini. No censo de 2000, o número de ocupados aumentou 22,3%, porém a proporção de pessoas empregadas diminuiu e a porcentagem dos que têm carteira assinada também. Cresceu a participação de autônomos e trabalhadores por conta-própria, e caiu a de empregadores. Dados do RAIS entre 1991 e 2003 mostram acréscimo líquido na oferta de postos de trabalhos no setor formal, porém em porcentagem menor do que a do informal mostrada nos censos. A participação do setor Serviços na renda e emprego expandiu 10%, sendo responsável em 2000 por quase 68% da renda do trabalho e 64% da população ocupada, destacando-se o comércio, serviços de alojamento, alimentação, transporte e comunicações. A indústria em 2000 gerava na região 30% da renda do trabalho e 33% do emprego, retraindo-se em relação a 1991. Mesmo com rendimento médio inferior ao de Serviços, dois ramos da indústria apresentam altas rendas médias - Refino de petróleo e Química -, em outros houve incremento real acima da média; e nos ramos em que o mercado externo teve peso relevante as posições foram mantidas (material de transporte, papel e celulose). A Construção Civil, com peso no emprego e baixos salários, contribuiu para deprimir salários médios na região.

CONCLUSÕES:

Não obstante o aumento absoluto do número de ocupados na RMC na década de 1990 e do número de empregados no mercado formal, há tendências claras apontando para a diminuição da proporção de pessoas empregadas, a queda na proporção de trabalhadores com carteira assinada, aumento das pessoas ocupadas como autônomos ou por conta própria, e a queda do número de empregadores, são movimentos que têm relação direta com a precarização das relações de trabalho na RMC. São números que sinalizam a direção das mudanças nas relações de trabalho e indicam as reais condições dos ocupados, terceiros e empresas. As transformações observadas são características do mercado de trabalho brasileiro nos anos 90.

O peso dos setores se altera substancialmente no período analisado, com ampliação do setor serviços, em detrimento dos demais. Os números mostram a tendência real de crescimento da RMC movido pela distribuição de produtos e a diversificação de serviços necessários ao processo de urbanização. O setor de serviços na RMC cresce graças à concentração de importantes centros de compras em Campinas, a expansão da participação de setores que impulsionam e criam condições básicas para a urbanização e pelo fomento do comércio. O setor indústria mantém suas posições com segmentos voltados para o mercado externo, indicando que o processo de abertura econômica dos anos 90, associado ao ambiente econômico interno recessivo, tem criado oportunidades díspares entre os ramos industriais na região.

Instituição de fomento: Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Projeto FAPIC)
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: mercado de trabalho; rendimento; região metropolitana de campinas.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006