Na busca de uma tecnologia educativa para trabalhar a gerontocultura, entendida na acepção de Merhy de um trabalho vivo, que inclui os saberes que organizam as ações humanas, e na expectativa de propiciar às pessoas participantes desenvolverem comportamentos para o cultivo de um envelhecimento saudável, propôs-se uma pesquisa que resultou em uma dissertação de Mestrado em Enfermagem, na PEN/UFSC, orientado pela Professora Doutora Lucia Hisako Takase Gonçalves e co-orientado pela Mestre Eloá Caliari Vahl. O objetivo foi avaliar a pertinência e o alcance da tecnologia educacional do cinedebate sobre envelhecimento junto ao alunado do NETI, guiado por um referencial teórico-metodológico fundamentado nas concepções de ser humano, educação permanente e tecnologia educativa de Morin, Delors e Merhy.

A tecnologia educativa adotada alicerçou-se nos Pilares da Educação Permanente da UNESCO - aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser e nos Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Os filmes foram escolhidos com base nos Domínios do Conceito de Qualidade de Vida, da OMS, complementados com textos teóricos selecionados. O método participativo nas aulas e centrado no desenvolvimento humano foi o enfoque principal onde se buscou desenvolver a sociabilidade e o poder interno de cada aluno com vistas à transformação de sua realidade para transcender as condições em que viviam. Os encontros foram semanais com a projeção do filme, cujo tema abordado estimulava a observação, o prestar atenção aumentando a possibilidade de conhecer melhor o aspecto do envelhecimento focado. Após a projeção, a elaboração do relatório individual levou à análise e síntese que dependeram da reação ao filme e à valorização de alguns aspectos. Ao discutirem em conjunto, no encontro subseqüente, em pequenos grupos, passaram a respeitar mais as diferenças e apreciar as diversas possibilidades de percepção normalmente focalizando assuntos do seu viver. A apresentação do texto teórico, selecionado pelos educadores, tinha como intenção o refletir para conhecimentos que explicitavam a escolha do filme, possibilitando ao pequeno grupo relacionar a sua percepção em confronto com conteúdos teóricos referentes a temática abordada; permitindo, assim, uma maior compreensão de suas interpretações.

A socialização das reflexões dos pequenos grupos, no grande grupo, trouxe a possibilidade dos educadores retomarem a intenção inicial da apresentação do filme, podendo tirar conclusões do processo educativo. Os participantes desta pesquisa foram os que se inscreveram espontaneamente no Curso de Cinedebate em Gerontologia do NETI/PRCE/UFSC, iniciado em março de 2004. Foram eles dezessete, sendo 15 mulheres e 2 homens, todos moradores de Florianópolis, oriundos principalmente de Santa Catarina, mas também do Rio Grande do Sul, de São Paulo, do Paraná e do Pará. A idade compreendia entre 51 e 75 anos, com média de 63 anos. A escolaridade predominante era de nível superior. Quanto ao estado conjugal, sete eram casados, sete viúvos e três separados/divorciados. Todos possuem família com filhos e treze tinham netos. A maioria possuía casa própria, eram aposentados e poucos eram do lar e pensionistas. Constatou-se que o uso desta tecnologia favoreceu o alunado idoso a aguçar a percepção, reflexão, retenção e reelaboração de conceitos abordados nos filmes articulando-os com o próprio processo de vida com vistas a um envelhecimento saudável. Os temas que mais apareceram nas reflexões, quer individuais, quer grupais, foram : sentido de vida, processo do viver e relacionamentos afetivos.

A tecnologia do cinedebate, enquanto um trabalho educativo em ato, fundamentada nos princípios e concepções da educação permanente, dirigida ao alunado da terceira idade, se mostrou promissor na avaliação de sua prática experimental. As principais constatações do processo educativo do viver envelhecendo, observadas nos alunos foram: percepção mais esclarecida do processo do viver envelhecendo, levando a um comportamento de cuidado de si que transcende o seu grupo de convívio; revisão do processo de viver nos aspectos de adoção de saberes para o cultivo de um envelhecimento mais saudável e com qualidade; aprendizagem de convivência, seja intra familiar, entre pares, ou na sociedade, através de uma participação responsável e solidária, aprendendo a respeitar as diferentes percepções e mantendo um relacionamento social; aprendizagem do enfrentamento do inesperado no processo de viver ensaiando ações de convívio, superação e reelaboração pessoal; a compreensão da busca constante do sentido de vida, se constituindo na fonte básica no processo do envelhecimento. Dos resultados observados infere-se a utilidade do cinedebate como uma tecnologia educativa útil no ensino do envelhecimento ao alunado idoso.