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D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 6. Farmácia

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE:
ENFOQUE SOBRE O TRATAMENTO COM CLORIDRATO DE METILFENIDATO E SUAS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS

Roberto Eduardo Schneiders 1
Josiane Budni 1
Rodrigo Fernandes Alexandre  1
Cláudia Maria Oliveira Simões  1
(1. Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina (CCS/UFSC))
INTRODUÇÃO:

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um transtorno psíquico, considerado na atualidade, a síndrome mental mais estudada na infância, com conseqüentes implicações nas esferas familiar, acadêmica e social. Caracteriza-se pela tríade sintomatológica de desatenção, hiperatividade e impulsividade, sendo mais prevalente em meninos. É uma doença com alta prevalência mundial, sendo que cerca de 8 a 12% das crianças são acometidas. O diagnóstico da TDAH em crianças é difícil por causa das características comportamentais serem comuns a eventos diários nesta faixa etária e, por não haver características clínicas específicas ou algum marcador biológico confirmatório. Atualmente, sabe-se que o tratamento do TDAH é multimodal, combinando o uso de psicofármacos com intervenções psicossociais. Nos últimos três anos, houve um aumento de 49% no uso de medicamentos para tratamento de TDAH em crianças menores de cinco anos, no mundo todo. O tratamento de primeira escolha é o cloridrato de metilfenidato, que é comercializado no Brasil com os nomes de Ritalina 10mg, Ritalina LA (20, 30 e 40mg, Laboratório Novartis) e Concerta (18, 36 e 54mg, Laboratório Janssen-Cilag). Tendo em vista o acima exposto, objetivou-se realizar uma pesquisa bibliográfica sobre esta patologia e seu tratamento, além de determinar o volume de vendas destes medicamentos, em duas redes de farmácias; e de analisar informações de prescrições médicas de tais medicamentos.

METODOLOGIA:

Por tratar-se de um fármaco de amplo uso, cujo perfil de segurança a longo prazo é bastante controverso e ainda não está bem estabelecido, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre esta patologia e seu tratamento, através de busca em livros, artigos científicos e sites da Internet. Foi realizado, também, um levantamento do volume de vendas destes medicamentos, nos estabelecimentos de duas redes de farmácias, localizadas na cidade de Florianópolis, no período de janeiro de 2004 a outubro de 2005. Além disso, foram feitas análises das informações contidas em prescrições médicas dispensadas em duas farmácias destas redes, no período de junho a outubro de 2005, e um levantamento do número de intoxicações provocadas pelo cloridrato de metilfenidato, no Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina (CIT/SC), no período de janeiro de 2003 a outubro de 2005.

RESULTADOS:

Das 3.125 especialidades farmacêuticas dispensadas de cloridrato de metilfenidato, nas duas redes em 2005, 95,5% foram de Ritalina 10mg, 2% de Ritalina LA 20mg e 1,5% de Concerta 18mg, sendo que as demais especialidades não ultrapassaram 1%. Através das 352 receitas dispensadas para Ritalina 10mg, 85% indicavam doses de 1, 2 ou 3 comprimidos ao dia, enquanto que as outras posologias variaram de ¼ a 8 comprimidos. A maioria dos pacientes, cerca de 70%, foram do sexo masculino. Neurologistas pediatras (41%), psiquiatras (39%), clínicos gerais (8%) e neurologistas (7%) foram os principais prescritores, sendo que suas prescrições, na grande maioria, estavam incorretas. A análise comparativa do volume de vendas do cloridrato de metilfenidato nas farmácias de uma das redes mostrou um aumento significativo do mesmo: 324 caixas em 2004 para 1.674 caixas, no período de janeiro a outubro de 2005 (aumento de 500%). No período de 2003 a 2005, houve cinco casos de intoxicações pelo cloridrato de metilfenidato, relatadas no CIT/SC, sendo quatro por tentativa de suicídio e uma por ingestão acidental.

CONCLUSÕES:

Assim sendo, observou-se que as prescrições analisadas continham, muito freqüentemente, informações ilegíveis e incompletas, dificultando, em muitos casos, o papel dos farmacêuticos de orientar sobre o uso correto destes medicamentos. Outra questão importante observada foi o aumento extremamente significativo de prescrições à base de cloridrato de metilfenidato, demonstrando a necessidade de uma reavaliação do diagnóstico clínico deste transtorno e seu tratamento, já que os dados parecem indicar uma certa banalização terapêutica, mesmo levando-se em conta o seu baixo perfil de segurança. Paradoxalmente, o número de intoxicações relatadas não foi muito expressivo.

 
Palavras-chave: cloridrato de metilfenidato; Ritalina; atenção farmacêutica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006