A caatinga vem sofrendo uma redução drástica de sua diversidade e produtividade. Uma maneira de preservar esse ecossistema é a valorização da cultura popular que, tem despertado um crescente interesse da comunidade científica. Assim, é possível obter, dentre outras informações, qual a utilidade da vegetação local e, a partir daí, realizar experimentos que comprovem a eficácia dessas plantas, que podem possuir grande importância para a indústria farmacêutica. O Croton argyrophylloides Muell Arg (marmeleiro prateado) é um arbusto de ramos delgados, cilíndricos, cinerescentes, escabros. Tem sido demonstrado que várias espécies de Cróton são produtoras de óleo essencial, despertando interesse por apresentar atividade antimicrobiana. O Astronium urundeuva (Allemão) Engl. (aroeira-do-sertão) é uma árvore cuja entrecasca do tronco é um dos remédios vegetais de uso ginecológico mais freqüente e mais antigo usado na medicina popular do Nordeste do Brasil. Além de seu uso como antiinflamatório, é também empregada como anti-séptico e cicatrizante. Estudos demonstraram que a sua composição química é constituída principalmente de compostos de natureza polar, como as chalconas diméricas, taninos e flavonóides. Este trabalho tem como objetivo avaliar o efeito antimicrobiano do óleo essencial do C. argyrophylloides e dos compostos triterpênicos cicloartânicos isolados a partir do extrato hexânico e das frações obtidas a partir do extrato etanólico do A. urundeuva.

Coletou-se o material vegetal na fazenda Cocalzinho em Viçosa (CE). O C. argyrophylloides foi coletado em distintos horários: 14h, 18h30 e 21h30. O óleo essencial foi extraído pelo método de destilação por arraste de vapor e analisado por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massa no PADETEC-UFC. Através do estudo do extrato hexânico da entrecasca de A. urundeuva foi feita identificação de dois triterpenos cicloartânicos (cicloeucalenol e cicloeucalenona), pela primeira vez isolados na espécie. Para verificar a atividade antimicrobiana do óleo de C. argyrophylloides utilizou-se o método de difusão em ágar e para as substâncias isoladas do extrato hexânico de A. urundeuva, utilizou-se o método de difusão com discos. O meio padrão foi o Mueller Hinton, onde as bactérias foram semeadas de maneira uniforme. As cepas bacterianas testadas foram Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus sp, Streptococcus sp, Proteus mirabilis, Enterobacter sp e Serratia sp. Para os testes com o C. argyrophylloides, em cada placa foram feitos três poços com diâmetro de 5 mm. Cada poço recebeu  25 mL de óleo dos diferentes horários.  Nos testes com o A. urundeuva, em cada placa foram adicionados dois discos, de diâmetro de 5 mm cada, umedecidos com frações do extrato, e um disco contendo o solvente utilizado para dissolver estas frações (clorofórmio). As placas foram incubadas por 24 horas e analisou-se a sensibilidade de cada óleo-horário e de cada fração do extrato para cada cepa testada.

O óleo essencial do C. argyrophylloides  coletado às 14h apresentou halos dos seguintes diâmetros: 1,5cm - Streptococcus sp; 1,8cm - Serratia sp; 2,5cm - Staphylococcus sp; 1,5cm - Proteus mirabilis; 1,3cm - Enterobacter sp; 1,4cm - Pseudomonas aeruginosa. Para o material coletado às 18h30: 1,5cm - Streptococcus sp; 2,0cm - Serratia sp; 2,5cm - Staphylococcus sp; 1,6cm - Proteus mirabilis; 1,5cm - Enterobacter sp; 1,5cm - Pseudomonas aeruginosa. Para o material coletado às 21h30: 1,5cm - Streptococcus sp; 1,5cm - Serratia sp; 2,5cm - Staphylococcus sp; 2,0cm - Proteus mirabilis; 1,8cm - Enterobacter sp; 1,3cm - Pseudomonas aeruginosa. O Cicloelcalenol, fração do extrato hexânico do A. urundeuva, apresentou halo dos seguintes diâmetros: 0cm - Streptococcus sp; 0cm - Serratia sp; 0cm - Staphylococcus sp; 2,3cm - Proteus mirabilis; 0cm - Enterobacter sp; 0cm - Pseudomonas aeruginosa. O Cicloelcalenona apresentou os halos dos seguintes diâmetros: 0cm - Streptococcus sp; 1cm - Serratia sp; 0cm - Staphylococcus sp; 1,3cm - Proteus mirabilis; 0cm - Enterobacter sp; 0cm - Pseudomonas aeruginosa. Em as placas controle (contendo o solvente das frações: clorofórmio) não houve formação de halos.

Todas as bactérias testadas apresentaram sensibilidade ao óleo essencial do C. argyrophylloides, merecendo destaque o Staphylococcus sp. Com relação as horários de coleta, não há grande variação na atividade antimicrobiana da planta devido a diferenças hormonais em diferentes horários, como era anteriormente suspeitado. As frações do extrato do A. urundeuva não apresentaram resultados significativos, exceto para o Proteus mirabilis, bactéria responsável, dentre outras enfermidades, por infecções no trato urinário, reafirmando o uso da planta em casos de doenças ginecológicas. Dessa maneira, é importante que haja mais pesquisas sobre a ação dessas e de outras plantas como possíveis fontes de fármacos e para um maior conhecimento e preservação da biodiversidade da caatinga.