A Mata Atlântica é considerada um dos mais ricos conjuntos de ecossistemas em termos de diversidade biológica do planeta, estando reduzida a menos de 8% de sua extensão original. A dinâmica da destruição foi mais acentuada durante as últimas três décadas, resultando em alterações severas para os ecossistemas, especialmente pela alta fragmentação de habitat. Os problemas relacionados com a fragmentação são complexos e para solucioná-los há necessidade urgente de se conhecer e compreender as alterações do ambiente; uma das formas de se detectar essas mudanças é através do conhecimento da diversidade existente. Os insetos fitófagos, quando específicos para determinadas plantas, são os mais adequados para se avaliar mudanças no ambiente, tendo em vista sua diversidade e capacidade de produzir várias gerações em curto espaço de tempo. A superfamília Pentatomoidea abrange todos os percevejos de plantas e a sua grande maioria apresenta hábitos fitófagos, se alimentando de diversas partes da planta. O presente estudo tem como objetivo conhecer e caracterizar a fauna de Pentatomoidea num fragmento de Mata Atlântica, proporcionando informações para futuros estudos com vistas ao monitoramento ambiental e revestindo-se de especial importância para a conservação desse bioma na região sul do estado de Santa Catarina.

O estudo foi realizado no Parque Ecológico de Maracajá, localizado em município homônimo no extremo sul catarinense a 12m de altitude, no quilômetro 403 da BR-101. O parque conta com 112 hectares de remanescentes florestais de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas. Foram realizadas amostragens mensais entre agosto de 2005 e fevereiro de 2006; os pentatomóideos foram capturados ao longo de duas trilhas nas bordas da floresta. Os métodos de amostragem utilizados foram guarda-chuva entomológico, rede de varredura e coleta manual e o esforço amostral foi medido por horas amostradas. No laboratório os indivíduos adultos foram triados e identificados até espécie com auxílio da literatura, sendo os espécimes contados e montados com alfinetes entomológicos e etiquetados. As espécies não identificadas foram consideradas como morfoespécies e codificadas pela notação “sp. X”, onde X é o número de referência da morfoespécie. Foram calculados a riqueza (S) e a abundância (N) de espécies, bem como a curva de acumulação de espécies para determinar a suficiência amostral.

Para um esforço de 21h de amostragem foi coletado um total de 205 indivíduos distribuídos em 3 famílias, 4 subfamílias, 20 gêneros e 30 espécies. Entre as espécies encontradas, 167 (81,5%) pertencem a família Pentatomidae; 36 (17,5%) a família Cydnidae e 2 (1%) a família Tessaratomidae. As espécies mais abundantes foram os pentatomídeos Arvelius albopunctatus (de Geer, 1773), Mormidea notulifera Stal, 1860 e Oebalus ypsilongriseus (de Geer, 1773) com 29 indivíduos encontrados para cada espécie. O número de singletons, ou espécies representadas por um único indivíduo, correspondeu a 43,33% da riqueza total. Nas coletas realizadas durante os meses de novembro e dezembro foram registrados 135 indivíduos, representando 66% do total encontrado nos sete meses coligidos.

Este trabalho representa a primeira avaliação da diversidade da superfamília Pentatomoidea no sul catarinense, sendo a primeira em Floresta Ombrófila Densa em área de Mata Atlântica. O conhecimento da biodiversidade desse grupo em Santa Catarina é ampliado, com registros inéditos da ocorrência de Dichelops melacanthus (Dallas, 1851), Euschistus heros (Fabricius, 1798), Piezosternum thunbergi Stal, 1860 e Stictochilus tripunctatus Bergroth, 1918.