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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 5. Economia Internacional
DÍVIDA EXTERNA E VULNERABILIDADE: O BRASIL DE 1990 A 2005
Gabriela Vichi Abel de Almeida 1
Felipe Cunha Salles 1
(1. PET-UFES)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho pretende analisar o grau de vulnerabilidade externa da economia brasileira e sua evolução entre os anos de 1990 e 2005. O objetivo do trabalho é verificar se ocorre diferença significativa entre os indicadores de vulnerabilidade externa utilizados tradicionalmente e aqueles onde figuram a dívida externa e os serviços a ela referentes como elementos principais, bem como acompanhar a evolução da dependência externa do país. O estudo do período proposto busca confirmar se existe melhora efetiva nas contas externas do país, principalmente após o início do atual governo, que possui como uma das bandeiras da política econômica os resultados da política externa, sobretudo no que diz respeito aos saldos da balança comercial.
METODOLOGIA:
O trabalho foi elaborado no intuito de ampliar uma pesquisa previamente realizada pelo grupo de pesquisa Observatório da Dívida Externa (OID-IDO). Livros e trabalhos de autores destacados foram utilizados como referência no trabalho ora proposto. Os dados foram obtidos por meio de pesquisas em biblioteca, nos meios eletrônicos (Internet) e junto ao Banco Central do Brasil. O trabalho se divide fundamentalmente em três partes: a primeira traça um panorama histórico, onde são demonstradas as mudanças na conjuntura econômica e financeira internacional desde a década de 1970, bem como sua influência nos resultados da política externa nacional, principalmente àqueles relacionados ao endividamento externo e à vulnerabilidade. A segunda seção avalia a evolução dos indicadores do setor externo, com ênfase naqueles compostos metodologicamente por dados referentes ao endividamento. É traçada, então, uma comparação entre esses indicadores e aqueles mais usuais, desenvolvidos a partir das transações correntes. Por fim, na ultima parte, é utilizado o passivo externo brasileiro (soma da dívida externa, investimento estrangeiro direto e em portifólio) para demonstrar a situação de dependência em relação aos recursos de origem estrangeira.
RESULTADOS:
O comportamento dos dados coletados do balanço de pagamentos aponta que houve melhora significativa dos indicadores de vulnerabilidade externa entre 1990 e 1994 devido a um expressivo acúmulo de reservas ocorrido, enquanto que de 1995 a 1999 a situação se reverte como resultado da apreciação cambial e do decorrente aumento das importações. O baixo crescimento econômico e a captação de recursos externos para financiar o déficit nas transações correntes impulsionaram o crescimento da relação “dívida externa/PIB”, que saiu de 26,3% em 1990 para 45% em 1999. Nesse mesmo período ocorreu também uma brutal elevação do pagamento de serviços da dívida, que subiu de US$ 18,5 bilhões para US$ 60,5 bilhões. Por fim, de 1999 a 2005 observa-se melhora expressiva nos indicadores, justificada, sobretudo, pela desvalorização cambial ocorrida em 1999 e do crescimento do saldo comercial. Todavia, não há diferença significativa no comportamento dos indicadores mais tradicionais em relação àqueles em que figura a dívida externa e seus serviços como elementos chave. Por sua vez, o passivo externo total segue uma trajetória ascendente durante todo o período de estudo, saindo de US$ 166,2 bilhões em 1990 para US$ 488,0 bilhões em 2003. Esse resultado foi fortemente impulsionado pela elevação da dívida externa, que cresceu 93% no mesmo período.
CONCLUSÕES:
Ainda que estejam entre as mais amplas frentes de divulgação dos resultados da política econômica do atual governo, as contas do setor externo brasileiro seguem uma tendência iniciada ainda no ano de 1999, quando da forte desvalorização cambial. A partir de então as exportações começaram a impulsionar a balança comercial, criando uma tendência constante de superávit nas transações correntes. Em contraposição a esse fato, a fuga de capitais, principalmente de curto prazo, tem pressionado negativamente a conta financeira do país. Apesar da entrada de recursos e da recende valorização cambial (intensificada em 2005), não há uma política clara de recomposição do nível de reservas internacionais, necessária para melhorar a capacidade de a economia resistir a eventuais crises ou choques internacionais. A dívida externa permanece em níveis elevados, embora haja esforço do atual governo no sentido de melhorar o seu perfil. Apesar desse panorama razoável, é preocupante a brusca elevação do passivo externo, que ocorre durante todo o período em análise, o que representa uma ainda forte dependência de recursos provenientes do exterior.
Instituição de fomento: PET-Economia UFES
 
Palavras-chave: dívida externa; vulnerabilidade; dependência.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006