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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior

EDUCAÇÃO A DISTANCIA E FORMAÇÃO PROFISSIONAL: MOVIMENTOS NAS CONCEPÇÕES E NAS PRÁTICAS DOCENTES

Martha Kaschhy Borges 1
Marcia Regiane Fagundes Nunes 1
(1. Universidade do Estado de Santa Catarina)
INTRODUÇÃO:

A partir do desenvolvimento das tecnologias digitais, assistimos hoje a expansão, em novos patamares, da educação a distância; a emergência da modalidade semipresencial e modificações na presencial.Estas tecnologias provocam a (re)construção de diferentes concepções de educação (BEHRENS, 2003); possibilitam a criação de novos paradigmas educativos, onde professores e estudantes definem novos papéis e funções; desenvolvem a inteligência coletiva e constroem ambientes coletivos de aprendizagem (LÉVY, 1997, 2000; PALLOFF E PRATT, 2002, SILVA, 2001). Alguns autores afirmam que as tecnologias digitais podem auxiliar no processo de superação do paradigma “tradicional” na educação, em direção à emergência de um paradigma inovador (BEHRENS, 2003; LITWIN, 2001, SILVA, 2000). Assim, esta pesquisa teve como objetivo central investigar se a formação e/ou a prática docente na educação a distância possibilita uma modificação nas concepções educacionais dos docentes, tanto em relação à própria modalidade a distância como em relação à modalidade presencial. Através dela, predendeu-se fornecer subsídios teóricos e metodológicos para a promoção do pensar e do re-pensar tanto desta modalidade como também da educação presencial e contribuir para o “desnho” de uma modalidade híbrida de educação: a semipresencial.

METODOLOGIA:

A pesquisa é de cunho qualitativo, pelo fato do fenômeno analisado ser complexo, de natureza social e não quantificável. O método de investigação utilizado foi a realização e a análise de entrevistas semidirigidas, elaboradas e testadas previamente.  Os sujeitos escolhidos, de maneira aleatória, foram professores que atuam em dois cursos superiores: o Curso de Pedagogia presencial e o Curso de Pedagogia a distância, ambos oferecidos pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Os professores forma distribuídos em três grupos, da seguinte maneira: quatro que atuam somente na modalidade a distância (MD), cinco que atuam somente modalidade presencial (MP) e cinco que atuam nas duas modalidades (MaD). Nossa intenção foi de, através das verbalizações dos sujeitos, acessar os traços de sua atividade cognitiva, uma vez que a atividade docente é subjetiva, impregnada de valores, interpretações pessoais, intenções, cultura pessoal. Após a transcrição na íntegra das entrevistas e diversas leituras, analisamos as verbalizações dos professores segundo os seguintes aspectos: formação para atuar em EaD, concepção de professor, concepção de EaD, modificação da prática docente e noção de presencialidade. Destacamos a dificuldade encontrada para contatar professores que atuam somente na modalidade a distância, uma vez que muitos docentes que hoje atuam nesta modalidade já atuavam na modalidade presencial.

RESULTADOS:

Os principais resultados obtidos relativos à formação para atuar em EAD, mostram que a maioria dos professores não recebeu formação específica, nem mesmo os que atuam nesta modalidade. Quanto à concepção de professor, não existe diferença significativa entre os professores, para a maioria, ser professor significa ser mediador. Porém, para os da modalidade a distância, “mediar” pressupoe uma valorização dos conhecimentos prévios dos alunos. No tocante à concepção de EAD, apesar dos professores do presencial explicitarem que têm pouco conhecimento, concebem esta modalidade como uma educação massificante, impessoal e de qualidade duvidosa. Para os professores da EAD, esta modalidade não modifica seu compromisso com o processo de ensino-aprendizagem. Apenas apontam a diferença nos recursos utilizados e afirmam que tais recursos deveriam ser utilizados também na modalidade presencial, tornando-a mais rica e inovadora. Quanto à modificação na prática docente, os professores do presencial afirmam que não tem clareza sobre o processo do ensino a distância. Já para os professores de EAD ocorre uma transformação na medida em que eles passam a utilizar os instrumentos digitais na sala presencial. Com relação à presencialidade, os do presencial expressam que a presença física do aluno é garantia de interação/comunicação, enquanto que para os da EAD, a presencialidade acontece quando os alunos se manifestam, através de ações comunicativas, escritas e/ou orais.

CONCLUSÕES:

Embora a EAD esteja conquistando seu espaço, os professores ainda necessitam de uma formação que os instrumentalize em termos didáticos, pedagógicos e metodológicos para uma atuação docente intencional. Programas de formação em EAD poderiam contribuir para uma modificação nas práticas docentes, no sentido de um rompimento do paradigma tradicional de educação do tipo um-todos, além de “desmitificar” alguns aspectos da EAD. Importante constatar que a noção de presencialidade dos professores do presencial demonstra a convicção de que a presença física do aluno é a certeza de interatividade, diferente do que afirmam os da EAD. Para estes a presencialidade pressupoe ações concretas de comunicação. Os resultados obtidos parecem indicar que se faz necessário uma mudança no foco de discussão da utilização das tecnologias digitais em Educação. Ao invés de focar nossas discussões na relação dicotômica “EAD x educação presencial”, poderíamos focá-las na relação “educação tradicional x educação inovadora”. Através dos resultados interessantes constatados, foi possível contribuir para a elaboração de subsídios teóricos, metodológicos e didáticos de acompanhamento, aprimoramento e avaliação das diferentes modalidades de ensino, assim como para a reflexão e a avaliação de políticas universitárias de formação de professores.

Instituição de fomento: Universidade do Estado de Santa Catarina
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: formação de professores; educação a distância; concepções de educação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006