Embora o desemprego no município de Piracicaba tenha arrefecido entre 1996 e 2005, vê-se que a quantidade de emprego criada não foi capaz de atender àqueles trabalhadores que apresentavam baixos índices de escolaridade (apenas 1,42% dos empregos atendeu aos trabalhadores analfabetos), o que demonstra a exclusão dos menos instruídos.

Assim, no final da década de 1990, observou-se uma concentração de indivíduos no aterro sanitário do município, atuando na coleta e triagem de materiais recicláveis, a fim de comercializá-los e obter uma renda capaz de promover o sustento de suas famílias. No final de 2001 foi formada a Cooperativa do Reciclador Solidário de Piracicaba, que segue a linha da Economia Solidária, com o objetivo de retirar as pessoas que atuavam no aterro sanitário e oferecer-lhes melhores condições de trabalho.

O objetivo deste trabalho, portanto, é apresentar a experiência da cooperativa em questão, problematizando a gestão deste empreendimento e a possibilidade de enfrentar as dificuldades vividas. Por exemplo, em 2005, verificou-se que houve uma redução de 22% da coleta e comercialização do material da cooperativa, em relação a 2004.

A relevância desta pesquisa está na possibilidade de efetuar uma reflexão sobre as dificuldades dos cooperados em implementar uma série de ações necessárias, nesta etapa da cooperativa, capazes de promover o melhoramento da eficiência econômica do grupo, a fim de combater a ausência de motivação detectada no grupo.

Este trabalho de pesquisa foi fruto da observação do cenário destacado anteriormente e a partir disso, foram feitas ações, como: reuniões com o grupo cooperado, com a equipe técnica da Prefeitura Municipal de Piracicaba e da Incubadora Tecnológica de Cooperativas e Empreendimentos Populares (ITCP) NL/Unimep (professores e assessores técnicos da área de Economia), além de contar com o trabalho de pesquisa de uma Psicóloga que realizou o levantamento bibliográfico sobre Motivação e auxiliou no trabalho de observação e na busca pelos resultados. Para tanto, foi feito também um acompanhamento diário das atividades da cooperativa, que possibilitou observar o trabalho de cada cooperado, a fim de identificar a origem das dificuldades. Também foi feito um levantamento bibliográfico de temas que auxiliam na compreensão do dia-a-dia do trabalho do grupo, frente às suas especificidades.

Deve-se ressaltar a necessidade de parceria entre profissionais da área de Economia (que acumulavam experiência em trabalhos solidários) e de Psicologia (que possuía experiência em treinamentos em Recursos Humanos). A parceria entre o Poder Público Local e a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) tem sido de fundamental importância para o sucesso do trabalho do grupo.

O que motivou esta pesquisa foi a compreensão, com base na experiência empírica, de que a vida em grupo não consiste apenas em juntar indivíduos que buscam objetivos comuns, mas unidos pelo mesmo desejo de promover o sucesso do grupo.

Observou-se que as dificuldades do grupo se devem à falta de motivação para assumirem uma postura empreendedora. Dois fatores foram fundamentais para a isso: a incerteza do grupo sobre a capacidade de sucesso do seu trabalho e a falta de indivíduos capazes de assumir papéis de liderança. O gestor solidário, diferentemente do capitalista, tem a função de colocar o cooperado acima do resultado, contribuindo para melhorar seu nível de motivação. A falta destes gestores tem sido uma das causas da desmotivação do grupo e da dificuldade de se alcançar os resultados esperados. A pesquisa completa encontra-se no Relatório Anual da ITCP NL/Unimep, de 2005.

Uma equipe mal gerenciada pode ser notada por: mecanicismo do atendimento, falta de entusiasmo, semblante de derrota e principalmente pela dificuldade de alcançar os resultados esperados. Estes aspectos têm sido percebidos nos cooperados do Reciclador Solidário e contribuído para a redução do volume de material coletado, da receita da cooperativa e conseqüentemente, para a saída de alguns cooperados.

O trabalho cooperativo/solidário é muito rico também por introduzir valores humanos perdidos no capitalismo (que desvaloriza a mão-de-obra) e mostrar ao trabalhador que ele pode ter perspectiva de auto-realização, já que é a peça chave para a realização da tarefa, assegurando-o (e isso se dará através da vivência, do conhecimento e de treinamentos) que ele, mesmo fora da economia capitalista, é capaz de produzir e de se sustentar.

A motivação está ligada à razão pela qual as pessoas agem, é uma força intrínseca e muito subjetiva, pois cada ser tem um desejo particular. A automotivação é possível quando são dadas as condições para que ela ocorra, o que depende do reconhecimento pelo desenvolvimento profissional, do bom convívio com colegas de trabalho e do reconhecimento das habilidades pessoais e importância no grupo, que comprovem a eficiência pessoal e autonomia no desempenho de diferentes atividades.

A partir dos resultados obtidos, foi elaborado um Plano de Trabalho que destaca as dificuldades encontradas e propõe ações para preparar o grupo para a autogestão, a partir:

a) da utilização de cursos preparatórios de liderança, empreendedorismo, cooperativismo (resgate de conceitos já apreendidos), a importância da qualidade na gestão e na execução do trabalho, higiene e organização da área de trabalho, etiqueta no ambiente de trabalho (visando reduzir os conflitos diários entre cooperados), o papel de cada cooperado e da Diretoria e Conselho Fiscal;

b) realização de um trabalho constante de motivação, durante todo o processo de formação;

A equipe técnica iniciará o trabalho de preparação do grupo, utilizando como ferramenta de capacitação, o incentivo para o investimento na escolaridade e técnicas vivenciais, jogos e simulações que visem a aplicação dos conceitos obtidos, para que os cooperados não se rendam ao sistema capitalista, mas resista com força, a fim de obter o sucesso do trabalho empreendido.