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A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 3. Oceanografia Geológica

ACOMPANHAMENTO DA EVOLUÇÃO MORFODINÂMICA DA PRAIA BRAVA, ILHA DE SANTA CATARINA, ATRAVÉS DO MONITORAMENTO DE PERFIS TRANSVERSAIS.

Alexandre Schweitzer  1
Ulisses Rocha de Oliveira  2
Norberto Olmiro Horn Filho  3
Armand Hanna Amin Junior  4
(1. Acadêmico do curso de Geografia, Departamento de Geociências, UFSC; 2. Doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia, UFSC; 3. Departamento de Geociências, UFSC; 4. Departamento de Geociências, CECO - UFRGS)
INTRODUÇÃO:
Um sistema de praia arenosa é extremamente dinâmico e frágil. As praias arenosas ocorrem onde existe uma linha de costa com sedimentos expostos à ação das ondas. Um sistema praial em perfeito funcionamento vai proteger a região costeira da ação erosiva do mar e das ondas. Este trabalho teve como objetivo analisar o acompanhamento da evolução morfodinâmica após o evento climatológico registrado em agosto de 2005 na região Sul do Brasil, onde ocorreu uma grande movimentação de sedimentos, danificando estruturas antrópicas e naturais. A morfodinâmica praial é um método de estudo que integra observações morfológicas e dinâmicas numa descrição mais completa e coerente do sistema praial. A área de estudo está localizada no norte da ilha de Santa Catarina. Possui as características de praia de bolso, estando localizada entre dois promontórios rochosos, o extremo norte a 27º23’32.8“ de latitude sul e 48º24’51.4” de longitude oeste e o extremo sul a 27º24’20.1“ de latitude sul e 48º24’38.5” de longitude oeste, ambos representados pelo Granito Ilha do embasamento cristalino. Apresenta cerca de 1.900m de comprimento, orientada no sentido noroeste – sudeste, estando exposta à ação de ondulações oceânicas. A largura e morfologia da parte aérea da praia são determinantes para o conforto dos veranistas a beira mar, e a configuração da parte subaquosa da praia define o grau de periculosidade para os banhistas.
METODOLOGIA:

Baseado na observação de fotografias aéreas e trabalhos de campo preliminares foram selecionados três pontos da praia para realização do monitoramento. Em cada ponto foram estabelecidos um perfil praial, situando-se os perfis 1, 2 e 3, nos setores norte, central e sul, respectivamente. Os perfis foram monitorados periodicamente segundo o método de nivelamento expedito com nível e estadia, a partir de pontos fixos acima do topo da duna frontal até a porção subaquosa. Cada perfil teve o marco estabelecido em referenciais antrópicos presentes no ambiente. Foram realizadas cinco campanhas entre agosto de 2005 e fevereiro de 2006. Em cada perfil foram coletadas três amostras superficiais de sedimentos nos setores da duna frontal, face praial e zona de surfe. Enfatiza-se que a coleta de dados foi realizada tanto na porção subaérea da praia, nos setores de pós-praia e face praial, quanto na porção subaquosa, nas zonas de arrebentação e de surfe, possibilitando analisar trocas de sedimentos entre estes setores do perfil. Dados de ondas e deriva litorânea, além da análise de fotografias aéreas e convencionais, foram obtidos com intuito de corroborar com os dados morfológicos. Análise granulométrica foi realizada através do método de peneiramento em intervalos de ½ phi.

RESULTADOS:

A análise granulométrica revelou uma praia composta por predominantemente por areias finas, cujos perfis apresentaram valores médios semelhantes quanto à largura e declividade. Ao final do período de erosão, ocorrido entre o inverno e a primavera, registrou-se a formação de escarpas abruptas na duna frontal, provavelmente pela ação do ciclone extra-tropical que atingiu a costa em agosto de 2005. A praia atingiu seu máximo erosivo no mês de novembro, onde foi possível perceber uma relação entre a erosão da duna frontal com a elevação do nível na parte subaquosa do sistema praial. Esse período erosivo foi seguido de período com acréscimo na deposição sedimentar da parte subaérea, com modificações na declividade da face praial e forte avanço da berma que ficou bem pronunciado nos três perfis. Algumas das seqüências morfológicas da zona de surfe e arrebentação ficaram com sua evolução demonstrada através do transporte pela ação das ondas e marés a partir do banco de areia em direção à pós-praia. Durante os períodos acrescivos formou-se uma praia larga com declividade mais acentuada na face praial, com evolução de canais laterais e transversais na parte subaquosa. O perfil central registrou a presença marcante de cavas laterais. O maior acréscimo deposicional na parte subaérea da praia ocorreu no setor sul (perfil 3), diminuindo em direção aos perfis 1 e 2, localizados ao norte do sistema praial.

CONCLUSÕES:
Os resultados indicaram que a praia Brava é muito homogênea em toda sua extensão. A análise do acompanhamento da evolução morfodinâmica da praia Brava após o ciclone extra-tropical demonstrou que a praia teve uma boa capacidade de recuperação sedimentar. A seqüência erosiva do inverno formou escarpas na duna frontal e demonstrou ser esta faixa de areia um estoque de sedimentos com a função de barreira impedindo o avanço do mar sobre a planície costeira, protegendo assim as estruturas urbanísticas que respeitaram a faixa de dunas. A deposição dos sedimentos na antepraia com posterior transferência natural para a pós-praia gerou a formação de uma berma bem pronunciada durante o verão garantido o conforto dos turistas nos meses de verão dado à significativa largura da praia neste período. O transporte sedimentar na pós-praia ocorre devido à ação das ondas e dos ventos. Durante o verão, os ventos predominantes de nordeste podem ter ditado o caráter acrescivo do sistema. Este período de deposição acarretou num aumento na declividade da face praial gerando pronunciadas cavas e fortes correntes próximas à face praial. Devido ao grande fluxo de banhistas durante o verão fica a recomendação de cuidado com estas correntes principalmente, as de retorno. Também se recomenda a preservação da faixa de dunas frontais a fim de evitar problemas de erosão costeira com destruição de propriedades.
 
Palavras-chave: Praia Brava; Morfodinâmica; Praia Arenosa.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006