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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
A PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR E INTERSETORIAL NA PROMOÇÃO DA SAÚDE FRENTE À EPIDEMIA DE AIDS.
Betina Hörner Schlindwein Meirelles  1
Alacoque Lorenzini Erdmann  2
(1. Enfermeira. Dra. em Enfermagem, Profa. do Departamento de Enfermagem da UFSC.; 2. Enfermeira. Dra. em Enfermagem, Profa. do Departamento de Enfermagem da UFSC.)
INTRODUÇÃO:

O desenvolvimento de redes intersetoriais tem sido discutido na sociedade contemporânea como um novo desafio para as ações de desenvolvimento social. Porém, as políticas de saúde expressas no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), como também as demais políticas públicas, não têm avançado em direção à qualidade de vida, privilegiando a cidadania, a participação e a eqüidade social. Partimos do pressuposto de que a ação conjunta e interdisciplinar entre os diversos atores e setores da sociedade é uma das estratégias para a promoção da saúde frente à atual epidemia de Aids. Diversos setores da sociedade desenvolvem ações visando a prevenção da Aids, muitas vezes de forma isolada, sem maior efetividade sobre o controle da epidemia. A epidemia de Aids é um problema complexo, e as ações de prevenção à infecção pelo HIV devem envolver todos setores da sociedade, a fim de melhorar as condições de educação e vida da população para um viver saudável. A partir desta questão, estabelecemos como objetivo: Compreender a relevância da abordagem interdisciplinar e ação intersetorial, a partir de uma visão complexa, na promoção da saúde através da prevenção da transmissão do HIV/Aids, na percepção de diversos atores sociais envolvidos na problemática.

METODOLOGIA:
Trata-se de estudo qualitativo, elaborado a partir da tese de doutorado “Viver saudável em tempos de Aids: a interdisciplinaridade e a complexidade no contexto da prevenção da infecção pelo HIV”. Foram entrevistados 27 sujeitos, selecionados entre: profissionais de saúde que atuam na prevenção/controle da Aids; membros de instituições religiosas, instituições de ensino superior, organizações governamentais, como Assembléia Legislativa, Ministério Público, Secretarias de Justiça, de Educação e de Saúde contemplando a coordenação de projetos específicos na área; membros de ONGs que atuam na prevenção, controle e defesa dos direitos dos portadores do HIV/Aids; pessoas que vivem com HIV/Aids e familiares; membros da sociedade em geral entre representantes do Conselho Estadual de Saúde, sindicato de trabalhadores e de empresas, tentando identificar a rede intersetorial de prevenção, selecionando preferencialmente indivíduos e organizações/instituições que desenvolvem ações de abrangência para todo o Estado de Santa Catarina. Os dados foram obtidos através de encontros individuais, dialógicos, enfocando a possibilidade de pensar interdisciplinar e agir intersetorial na promoção da saúde através da prevenção da infecção pelo HIV. Adotamos a análise descritiva e interpretativa, que seguiu as etapas: leitura exaustiva dos textos, desconstrução e unitarização do corpus, e elaboração das unidades de sentido e categorias.
RESULTADOS:
As categorias emergentes contribuíram na formulação do referencial “A construção de redes e parcerias para a interdisciplinaridade/intersetorialidade na prevenção da Aids”, no qual abordamos o desenvolvimento de competências dos serviços de saúde e a construção de redes e parcerias para o viver saudável em tempos de Aids. Após todos estes anos de epidemia, grande parte dos profissionais e ativistas tem claro que a prevenção da Aids exige um trabalho conjunto, uma soma de esforços da sociedade para o enfrentamento do problema e para que o trabalho avance. Este trabalho conjunto exige mais do que sobreposição de atividades pelos diversos setores da sociedade. As ações devem ser realizadas de forma integrada entre setores da sociedade, ampliando o seu espectro e visando à construção de novos conhecimentos a respeito da prevenção. Os dados nos mostram que o combate à epidemia de Aids exige o trabalho conjunto de vários setores da sociedade, com ações que vão além de sua aproximação, propiciando qualidade e melhor aplicabilidade dos recursos. Apontam para a interdisciplinaridade e a necessária reorganização dos serviços na perspectiva da intersetorialidade, que é também proposta na Carta de Ottawa em seus pressupostos para a promoção da saúde.
CONCLUSÕES:

As abordagens mais recentes a respeito da saúde, ancoradas nos pressupostos da promoção da saúde, fazem com que percebamos a necessidade de integrar mais as ações e abordagens de diversos atores (gestores, profissionais de saúde, pesquisadores...) em favor da qualidade de vida e ambiente.Concluímos com este trabalho que o estabelecimento de uma rede de prevenção à Aids perpassa pela discussão das competências, legitimidade e representatividade de cada um dos setores envolvidos para a complementaridade, inter-relação e diálogo a respeito de novas formas de pensar o problema, do inter ao transdisciplinar, considerando todos os condicionantes e determinantes relacionados à vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Ações intersetoriais, rompendo fronteiras, significa assumir a responsabilidade social e, chamar para o debate os diversos grupos sociais e com eles construir projetos coletivos que caminhem em direção de uma nova prática sanitária e uma sociedade mais justa. Num mundo cada vez mais integrado e globalizado, é urgente romper fronteiras, aproximando visões de mundo, estreitando saberes, intersectando valores e culturas. Assim,  alcançaremos o tão almejado convívio solidário e plural, em que o respeito às diferenças sobressaia como o norte para as políticas, ações e práticas em saúde. Porém, temos vários desafios a enfrentar neste sentido.

 
Palavras-chave: ação intersetorial; aids prevenção; promoção da saúde.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006