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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica

A PROPOSTA DE PARCERIA EMPRESA-ESCOLA DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS (FIEMG) E SUAS DIRETRIZES PARA AS ESCOLAS PÚBLICAS

Joelma Lúcia Vieira Pires 1
(1. Doutoranda do Depto. de Ciências Sociais aplicadas à Educação da FE/UNICAMP)
INTRODUÇÃO:
Na realização deste trabalho tivemos como objetivo analisar a proposta de parceria empresa-escola do Conselho de Educação da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Estudamos os pressupostos teóricos que embasam suas diretrizes para as escolas públicas. Procuramos responder às seguintes questões: Por que, no atual contexto, as empresas interessam-se pelas escolas públicas e tendem a estabelecer parceria com elas? Quais as modificações que a operacionalização da proposta de parceria empresa-escola pode trazer para o interior das escolas? Investigamos a relação de tal proposta com o movimento de reestruturação capitalista caracterizado pelo processo de formação de uma sociedade global. Em tal reestruturação predomina a hegemonia das grandes corporações empresariais transnacionais e diminuição das ações do Estado Nacional, principalmente, nos programas e setores de bem-estar social.
METODOLOGIA:
Com o propósito de realização da pesquisa analisamos os documentos da FIEMG e, mais especificamente, da proposta de parceria empresa-escola do seu Conselho de Educação. Tal análise foi baseada na perspectiva histórico-dialética. Partimos do pressuposto de que a Educação é uma das condições fundamentais para a integração entre as empresas, já que é uma das condições gerais de produção. Por isso na fase atual, a Educação Básica adquire importância nas discussões e ações de organismos internacionais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI), e as empresas desenvolvem ações em relação a ela como parte do seu processo de desenvolvimento. Supomos que a proposta de parceria empresa-escola indica uma dessas ações, por tentar introduzir no interior das escolas públicas a racionalidade administrativa na organização do trabalho escolar e nos processos pedagógicos. É provável que a forma de gerir a educação escolar, por meio da parceria empresa-escola, reafirme os interesses das empresas no sentido de interferir na organização do trabalho escolar, no currículo, bem como no projeto educativo, visando a constituição da escola como um espaço de formação de indivíduos que se identifiquem com a nova etapa do capitalismo e que atendam as necessidades das empresas.
RESULTADOS:

O que se pretende com a parceria empresa-escola é que o controle pedagógico das escolas antes conferido ao Estado Nacional (órgãos governamentais) seja transferido para as empresas. O interesse delas não reside em financiar a escola pública, mas controlar a gestão e os processos pedagógicos. Com isso, visam a desenvolver nova base de educação geral e formar indivíduos que atendam a globalidade do processo produtivo. Para a FIEMG os funcionários das empresas devem trabalhar como voluntários no interior das escolas públicas. Consideramos que essa é uma das estratégias de as empresas transferirem suas formas de gestão para o processo pedagógico, análise e avaliação das práticas educativas, procurando criar no interior das escolas um movimento pela eficiência e racionalidade administrativa do campo empresarial. Tal movimento aponta para a desvalorização dos trabalhadores da educação e de suas experiências coletivas, buscando envolvê-los em uma causa técnica e procurando deturpar a dimensão política da ação pedagógica. A FIEMG busca interferir, também, na estruturação dos currículos das escolas, defendendo habilidades básicas relacionadas com a aprendizagem ou desempenho de uma determinada tarefa e introduzindo conceitos e valores produzidos na lógica do mercado. Seus documentos indicam o empenho em adequar o currículo das escolas ao mundo do trabalho, bem como construir uma nova estratégia de socialização do indivíduo, coerente com as necessidades do capitalismo.

CONCLUSÕES:

Por meio da proposta de parceria empresa-escola a FIEMG apresenta consonância com o processo de modificações do capitalismo. Tais modificações indicam a formação da sociedade global, com expansão das transnacionais e globalização da organização produtiva mundial. A intervenção das empresas nas escolas públicas, decorrente do desenvolvimento de suas ações, indica uma nova forma de dominação social baseada no neoliberalismo. Dessa maneira elas visam ao controle das relações sociais e redefinição da noção de cidadania, tendo uma participação ativa. A proposta da FIEMG de parceria empresa-escola demonstra considerar que a Educação Básica é uma das condições fundamentais para a integração entre as empresas; enfatizando a cidadania, busca modificar a formação dos alunos no âmbito da escola, visando a adaptação deles no mundo capitalista como produtores e consumidores. Com isso a escola, cada vez mais, é articulada aos interesses do mundo do trabalho e à lógica mercadológica capitalista, o que impede que o aluno tenha uma formação que o possibilite compreender as relações de produção na sociedade e na cultura na qual se insere. A concepção de escola pública de qualidade da FIEMG reafirma o propósito dos organismos internacionais. A tendência é o fortalecimento da articulação entre Estado Nacional e empresas para ações no âmbito das escolas públicas. Dessa forma, ficam enfraquecidas às demandas e intervenções pela escola pública de qualidade da sociedade junto ao Estado.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
 
Palavras-chave: Transnacionais; Neoliberalismo; Parceria empresa-escola .
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006