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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional
CLASSES DE COMPORTAMENTOS PROFISSIONAIS DO PSICÓLOGO, IDENTIFICADAS A PARTIR DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA OS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Nádia Kienen 1, 3
Juliane Viecili  1, 4
Glauce Carolina Vieira Santos 1
Olga Mitsue Kubo  2
Sílvio Paulo Botomé  2
(1. Programa de Pós Graduação em Psicologia - PPGP-UFSC; 2. Departamento de Psicologia - UFSC; 3. Curso de Psicologia - UNISUL; 4. Curso de Psicologia - UNIPLAC)
INTRODUÇÃO:
A qualidade da intervenção profissional em Psicologia depende do ensino de graduação, o qual tem sofrido alterações após a instituição de Diretrizes Curriculares. As diretrizes sinalizam mudanças no foco de ensino de “conteúdos” para comportamentos que precisam ser aprendidos pelos profissionais em formação, a fim de constituírem um repertório capaz de tornar eficaz sua atuação (por isso a denominação de “competências” a esses comportamentos). Isso indica uma nova forma de ensinar e organizar o ensino. Estudos demonstram que a formação dos psicólogos é pouco orientada por necessidades da população, com lacunas relacionadas à capacidade para ser um produtor de conhecimento, o que resulta em ênfase na atuação clínica e remediativa; provavelmente pela falta de clareza sobre o fenômeno psicológico, os limites e possibilidades da profissão. A formação proposta nas Diretrizes parece indicar a superação desses problemas. Identificar com mais clareza que competências estão presentes nas Diretrizes possibilitará avaliar com precisão os avanços dessa proposta na formação do psicólogo. Assim, constitui-se em necessidade organizar, em graus de abrangência, as classes de comportamentos profissionais identificadas a partir do exame das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia, para responder a pergunta de pesquisa: quais comportamentos constituem o sistema de relações entre o profissional e a sociedade como papel próprio e específico desse profissional?
METODOLOGIA:
A fonte de informação examinada foi o documento das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Psicologia. No documento, foram identificadas as sentenças gramaticais referentes às classes de comportamentos profissionais do psicólogo. A partir do exame delas, as sentenças foram reescritas para que explicitassem mais precisamente unidades de classes de comportamentos a serem desenvolvidas. Essas sentenças reescritas foram denominadas sentenças derivadas. Após derivadas as sentenças, elas foram organizadas em um sistema, a partir das proposições de Botomé (2001) e Mechner (1974) sobre análise de comportamentos constituintes das funções profissionais na sociedade. Essas proposições orientaram a organização das classes de comportamentos identificadas nas diretrizes em conjuntos de acordo com a função e o grau de abrangência. Cada um desses conjuntos se referiu a aspectos distintos do sistema de competências profissionais do psicólogo. Assim, conjuntos foram formados considerando competências cuja natureza dizia respeito a: o que cabe ao profissional fazer; como fazer o que cabe ao profissional fazer; com que fazer o que cabe ao profissional fazer; em que situações fazer o que cabe ao profissional fazer e o que precisa decorrer do fazer do profissional. A disposição dos conjuntos de comportamentos em um painel possibilitou a constituição de um diagrama de decomposição, no qual as relações entre classes mais gerais e mais específicas foram explicitadas.
RESULTADOS:
A partir das sentenças derivadas, foram identificadas 225 classes de comportamentos profissionais do psicólogo com diferentes graus de abrangência, decompostas de sete classes gerais: 1) projetar intervenções sobre fenômenos e processos psicológicos, de acordo com características da população-alvo; 2) intervir sobre necessidades sociais relacionadas a fenômenos e processos psicológicos; 3) intervir sobre fenômenos e processos psicológicos em diferentes contextos profissionais; 4) comunicar descobertas feitas a partir de intervenções profissionais sobre fenômenos e processos psicológicos em público; 5) intervir indiretamente por meio de ensino sobre fenômenos e processos psicológicos; 6) intervir indiretamente por meio de pesquisa sobre fenômenos e processos psicológicos e 7) empreender. Há disparidade no grau de abrangência das classes de comportamentos constituintes dessas classes gerais. As classes de comportamentos 1, 4 e 7 são constituídas por classes com abrangência específica, sem apresentar classes intermediárias, e estão relacionadas com situações para fazer o que cabe ao profissional fazer. Já nos conjuntos 3 e 5 há apenas classes gerais relacionadas a como fazer o que o que cabe ao profissional fazer, sem indicação de classes específicas constituintes dessas mais gerais. Nos conjuntos 2 e 6 são apresentadas classes de comportamentos gerais, intermediárias e específicas, apesar de não haver classes localizadas em todos os graus de abrangência dispostos no diagrama.
CONCLUSÕES:
O exame do documento das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Psicologia possibilitou identificar que há pouca homogeneidade na explicitação das classes de comportamentos apresentadas (algumas muito gerais e outras muito específicas), o que possivelmente dificultará seu papel orientador da formação de psicólogos no país. Apesar de serem indicadas classes gerais de comportamentos que delimitam o que precisa ser feito pelo profissional de Psicologia, essas classes gerais não são claramente definidas (pela ausência de classes intermediárias), o que dificulta caracterizar com precisão o que significa intervir sobre fenômenos e processos psicológicos. Há prevalência de classes de comportamentos relativas a instrumentos e conhecimentos, o que ainda parece denotar uma formação com ênfase em informações e uso de técnicas e não na transformação de informações em comportamentos profissionais significativos à sociedade. Embora haja limitação à indicação de classes de comportamentos específicas, nas Diretrizes Curriculares é possível identificar avanços com relação ao Currículo Mínimo, haja vista que as próprias técnicas e conhecimentos já passam a ser explicitadas (mesmo que ainda não de forma sistêmica) como classes de comportamentos profissionais do psicólogo (ou competências próprias desse profissional) e não mais como “conteúdos”.
 
Palavras-chave: comportamentos profissionais do psicólogo; diretrizes curriculares; programação de ensino.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006