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F. Ciências Sociais Aplicadas - 7. Demografia - 2. Demografia Histórica

PRODUTORES DE RIQUEZA DA ILHA DO MUTUTI NO BAIXO AMAZONAS,MUNICIPIO DE BREVES/PA.

André Luiz Torquato Carneiro 1
Rafaelly Feio Calandrini 1
(1. Universidade Federal do Pará)
INTRODUÇÃO:

Produtores de riqueza foram homens, mulheres e crianças (caboclos e nordestinos), que marcados pelo rótulo de fregueses sustentaram e enriqueceram seus padrões deixando como herança às suas descendências a inércia social que lhes retinham na situação de pobreza, atualmente refletida em periferias de cidades como Breves, Anajás, Afuá, Gurupá, Porto de Moz e outras para onde migraram. O nome Mututi vem da denominação de três árvores leguminosas, subfamília das Papilionáceas; bastante encontradas na Ilha. No entanto, foi a Hevea Brasilienses (seringueira), igualmente numerosa e excelente fonte de látex (borracha) do qual o capitalismo internacional necessitava no momento, a responsável pelo inicio da estruturação de uma sociedade de difícil mobilidade social (final do século XIX), que colocou estes homens em condições análogas à de escravidão por divida e reféns do antagonismo “patrão versus freguês”, mantido pelo chamado “aviamento”, usado como modelo econômico e social para a produção da borracha. O “aviamento” consiste no monopólio do fornecimento de mercadorias a trabalhadores (seringueiros, garimpeiros, colonos etc.), a prazo, para ser pago com a safra e/ou produtos extraídos da natureza. Este fornecimento que sempre favorecia os patrões no confronto da divida com a produção dos fregueses, constituiu a estrutura econômica e as relações sociais da Ilha por todo o século XX. O objetivo deste trabalho é apresentar  resquícios do “aviamento” na sociedade marajoara atual. Sua relevância esta no fato de (respeitando singularidades) o estudo deste caso servir de entendimento a estruturação social de todo o Vale do Rio Amazonas e outras partes da Amazônia brasileira.   

 

 

METODOLOGIA:

Compreendendo um período de três meses de pesquisa que vai de julho a setembro de 2005, o trabalho constou de analise bibliográfica referente ao ciclo da borracha na Amazônia e teve três momentos de pesquisa de campo: Aplicação de formulários de pesquisa a cinco informantes com idade entre 65 a 80 anos, residentes em Belém/Pa e oriundos da Ilha; pesquisa em documentos históricos na paróquia da cidade de Lavras da Mangabeira no sertão cearense, seguida de entrevista com três moradores antigos do município que possuem na história familiar noticias de membros que migraram para a Amazônia, no final do século XIX.

RESULTADOS:

A forma de produção econômica implementada pela aventura da borracha na Amazônia no final do século XIX, portanto utilizada na Ilha do Mututi, foi (e em muitos casos ainda é), a responsável pela formação das classes sociais hoje encontradas em cidades localizadas na Região do Marajó e no Vale do Rio Amazonas. Constatou-se que antes da chegada dos seringalistas (patrões) e nordestinos vindos com estes para a extração da borracha, a população tradicional da Ilha (caboclos), vivia da subsistência; a borracha e sementes coletadas eram tão somente vendidas ou trocadas, em raras ocasiões, por artigos indispensáveis à vida na mata ou em sociedade (ferramentas e vestuários). O pouco contato comercial desta população foi “suprido” com a chegada dos patrões e através destes, das casas comerciais inauguradas no meio da floresta (barracões), por volta de 1870; implementando o trabalho organizado para a extração da borracha e o consumismo na Ilha. Produtos que antes levavam meses para se ter acesso, agora estavam disponíveis para o consumo (previamente a qualquer pagamento), aos fregueses (caboclos e nordestinos), com a única exigência de “aceitação” ao mando econômico, social e político imposto pelos donos de barracões. Por volta de 1880, em busca de novas áreas mais produtivas, os seringalistas abandonaram a Ilha deixando suas posses a familiares ou simplesmente as abandonaram nas mãos dos fregueses; esses, desorientados e sem o comercio na região, voltariam à subsistência ou desenvolveriam a produção autônoma, não fosse famílias de nordestinos com alguma posse econômica adquirirem terras na localidade e arregimentarem a mão-de-obra dispersa.

CONCLUSÕES:

Com efeito, estes nordestinos tornaram-se novos patrões nos moldes dos antigos, reproduzindo fielmente o “aviamento” na relação com os fregueses nos mais diversos ramos de exploração das riquezas naturais da Ilha (borracha, sementes, peles, caça e pesca, madeira e palmito). Com isso, no decorrer do século XX, os fregueses sustentaram e enriqueceram seus patrões, que puderam assim, em muitos casos, diversificar seus negócios e progredir em novos ramos (serrarias, fabricas de palmito, navegação fluvial, postos de combustível, comercio em centros urbanos e política). Por volta de 1980, os laços de exploração dessa população juntamente com o “aviamento”, começa a se romper; Sua força de trabalho já não se fazia exclusivamente necessária como antes. Sem um maior interesse dos patrões  pelas antigas atividades e suas transferências para os centros urbanos, a maioria dos antigos fregueses também abandonaram a Ilha, buscando nas cidades e garimpos da região, melhores condições de vida e a possibilidade de um dia se tornarem patrões. Com a partida destes, os atores sociais  “patrão versus freguês”, diluirão-se em diferentes classes sociais hoje  encontradas nos municípios da Região do Marajó. De um lado os produtores de riqueza pobres e miseráveis desde sempre e do outro os beneficiados com essa produção em continua acumulo de riqueza e poder.    

                  

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Ilha do Mututi; Aviamento; Freguês.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006