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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia

O ABRIGO E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS: uma análise dos vínculos afetivos de crianças e adolescentes abrigados

Gabriela Brito de Castro 1
Anamaria Silva Neves 1
Angélica Luiza Pereira 1
(1. Universidade Federal de Uberlândia)
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho consta do recorte de um projeto de iniciação científica desenvolvido por duas alunas pesquisadoras do curso de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia e versa sobre a realidade institucional de dois abrigos para crianças e adolescentes, órfãos ou não, que estão sob a guarda ou tutela do Estado. O objetivo deste estudo é analisar as características dos vínculos estabelecidos entre interno-funcionário, interno-interno e outros agentes de diferentes grupos sociais como a escola.

METODOLOGIA:

A metodologia, de fundamentação qualitativa, contou como estratégia principal a realização de observações participantes. Ao longo de três meses foram realizadas 56 observações nas duas diferentes instituições. Os sujeitos que participaram desta pesquisa totalizaram cerca de 60 pessoas, entre crianças, adolescentes, funcionários e coordenadores. A idade de crianças e adolescentes variou de três a 16 anos em ambas as instituições, todos eles alunos do ensino fundamental. A determinação do abrigamento abrangeu as seguintes causas: violência doméstica, negligência, violência sexual e abandono. A instituição A conta com dois coordenadores, incluindo uma assistente social e oito funcionários com nível de escolaridade média de segundo grau incompleto e a maioria deles trabalha na instituição há menos de um ano. A instituição B possui uma assistente social que coordena o abrigo e seis funcionários também com segundo grau incompleto. Quase todos são casados e têm filhos e possuem idade média superior a 35 anos.

RESULTADOS:

Percebemos um distanciamento entre a finalidade destes abrigos – proteção, afeto, educação, lazer – e a realidade apresentada. A hierarquia separa, inclusive afetivamente, crianças e funcionários, especificamente com relação à mãe-social, incumbida da tarefa de maternagem. O prédio dividido em ala feminina e masculina, a cultura, a diversidade e a rotatividade de funcionários, estabelecem uma rotina distante dos padrões familiares, tolhendo a formação da identidade e autonomia dos internos e seu desenvolvimento psicossocial. As atividades são coletivas e atendem às necessidades da instituição, rotina e normas instauradas. A dinâmica institucional favorece o desenvolvimento de internos dependentes, que se submetem às regras impostas, sob pena de castigo ou punição. A alta rotatividade de funcionários atesta a dificuldade de estabelecer ou manter modelos afetivos estáveis. O lúdico, limitado, perde espontaneidade e criatividade. Portões trancados, muros altos, cômodos inacessíveis às crianças trazem a ambivalência da proteção que mascara a repressão. A individualidade, desejos e necessidades pessoais dos que ali vivem se perdem em meio ao bom funcionamento do abrigo. Atividades escolares recebem status negativo e o contato com a escola e outras pessoas externas ao abrigo (embora escassos) representma uma oportunidade de mudança de cenário, mas ainda cercado de preconceitos às crianças abrigadas. Raros passeios acontecem em datas comemorativas ou em locais religiosos.

CONCLUSÕES:

 

 

De uma forma geral, percebemos que a configuração institucional dos abrigos observados, delimita uma realidade distante da configuração familiar e os vínculos inerentes àquele contexto. Concluímos que o modelo de abrigo perpetrado contém incoerências próprias à sua constituição e observamos que por isso não cumprem a função que caberia à família desempenhar. Entendemos que as políticas públicas deveriam promover programas efetivos de atenção às famílias em situação de risco como forma preventiva da institucionalização infanto-juvenil. Assim, os abrigos seriam alternativas extremas, pontuais e não resultariam em depósitos reprodutores do analfabetismo e da marginalidade como atestamos atualmente.    

Instituição de fomento: CNPq/ UFU
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: abrigo; família; institucionalização infanto-juvenil.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006