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F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Serviço Social - 7. Serviço Social

DEMOCRACIA E GÊNERO: A EXPERIÊNCIA DOS CLUBES DE MÃES EM CAMPINA GRANDE

Helena Cristina Nunes de Andrade 1
Idalina Maria Freitas Lima Santiago 1
Marília Tomaz de Oliveira 1
(1. Departamento de Serviço Social/ UEPB)
INTRODUÇÃO:
A partir da década de 1960 emergem os primeiros movimentos comunitários em Campina Grande/PB. Em 1962 organiza-se o primeiro Clube de Mães com assessoria do curso de Serviço Social. Em 1969 é criada a Coordenação dos Clubes visando atender a necessidade de orientação coletiva destas organizações. A partir da década de 1970, os Clubes começam a receber assessoria técnica de assistentes sociais da SETRABES (Secretaria de Bem-Estar Social do município de Campina Grande/PB).Os Clubes de Mães são considerados espaços de mobilização popular, nos quais as mulheres se reúnem para discutir e buscar melhorias para os seus bairros. Buscamos analisar em que medida os Clubes de Mães se configuram enquanto espaço de democracia, identificando as características dos Clubes a partir de suas atividades, verificando a existência de processos de democratização a partir das ações efetivadas pelos mesmos, além de apontar aspectos das relações de gênero inerentes ao grupo familiar das presidentes dos Clubes compreendendo como a participação da mulher nos Clubes de Mães influencia e é influenciada pelas relações familiares de gênero. Destacamos a importância desta pesquisa no sentido de resgatar a experiência dos Clubes de Mães em Campina Grande/PB, os quais se constituem numa força organizacional em nível local. A ausência de estudos que abordem essa temática justifica a importância da pesquisa em questão.
METODOLOGIA:
Trata-se de pesquisa descritiva/explicativa contemplando dados quantitativos. Para esta investigação traçamos o perfil sócio-econômico das presidentes dos Clubes de Mães, apresentando aspectos concernentes às relações de gênero, bem como realizamos um levantamento das características dos Clubes de Mães definindo a tipologia dos mesmos. Tomamos uma amostra de sessenta e cinco (65) presidentes, retiradas do universo de oitenta e sete (87) Clubes existentes em Campina Grande/PB. O critério de escolha destes Clubes foi: estarem localizados nos bairros e distritos urbanos de Campina Grande/PB, excluindo os localizados na zona rural. Selecionamos somente os Clubes de Mães da zona urbana por considerarmos que o contexto das características da urbanidade se diferencia da dinâmica dos Clubes da zona rural, pois com a inclusão dos Clubes da zona rural poderíamos adentrar em dois espaços de realidades e densidade populacional diversos. Como instrumentos de coleta de dados aplicamos questionários contendo questões fechadas os quais foram analisados através do SPSS (programa para análise estatística de dados quantitativos). Da amostra das sessenta e cinco (65) presidentes foram possíveis aplicações de sessenta e três (63) instrumentos, pois uma (01) presidente se recusou a responder o questionário e outra presidente não se encontrava na cidade de Campina Grande/PB durante o período de realização da pesquisa (05/10/2005 à 19/01/2006).
RESULTADOS:
Estado civil das presidentes: 57,1% casadas; escolaridade com percentuais iguais para primeiro grau incompleto e segundo grau completo (23,8%); renda familiar de um salário mínimo (25,4%), dois salários mínimos (22,2%) e acima de quatro (22,2%); 58,7% estão inseridas no mercado de trabalho, ressaltando que 30,2% se dedicam às atividades do lar; 73% não assumem sozinhas as despesas da casa, sendo os principais provedores elas próprias (46%) e o marido (31,7%); administração do orçamento familiar fica a cargo das presidentes (76,2%); tarefas domésticas e cuidados com os filhos sob responsabilidade das mesmas (respectivamente 84,1% e 90,5%); em relação à forma de decisão na família, 38,1% responderam que a deliberação é sua, 34,9% responderam ser conjunta com o esposo e 7,9% responderam ser o esposo. Referente à fundação dos Clubes, surgiram através da iniciativa das mulheres do bairro (96,8%) com objetivo de solucionar problemas da comunidade (96,8%); os recursos financeiros para mantê-los são oriundos das sócias (100%); atividades dos Clubes estão relacionadas a buscar soluções para problemas de infra-estrutura (71,4%), reinvidicar equipamentos de uso coletivo (84,1%), realizar palestras (90,5%), cursos profissionalizantes (58,7%), geração de renda (61,9%), assistência (25,4%) e quermesse (20,6%); as proposições elaboradas no Clube surgem a partir da presidente (84,1%); a assembléia decide se acata tais propostas (90,5%); 85,7% das presidentes participam de outras organizações.
CONCLUSÕES:
As responsabilidades com os filhos e tarefas domésticas nas relações familiares de gênero são desiguais, posto que são as mulheres que as assumem. No referente à tomada de decisão na família houve uma mudança significativa relativa ao sistema patriarcal, valorizando-se as decisões das mulheres e as deliberações compartilhadas, em contraponto à autoridade masculina. O encaminhamento das decisões nos Clubes segue o preceito democrático de deliberação em assembléia. A dinâmica de funcionamento dos Clubes possibilita a ampliação da democrática primária para o âmbito da democracia secundária, ou seja, efetiva a participação das presidentes em outras organizações. Em parte, as experiências vivenciadas nos Clubes contribuem no sentido de serem redimensionadas práticas cotidianas vivenciadas na vida doméstica. Cruzando os dados da fundação dos Clubes com as atividades desenvolvidas atualmente, verifica-se a seguinte tipologia: os Clubes possuem majoritariamente caráter reivindicativo, seguido do aspecto de vivência de solidariedade e posteriormente a característica de serem espaços de recreação.
Instituição de fomento: (PIBIC/CNPq/UEPB)
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Democracia; Gênero; Clubes-de-Mães.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006