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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental

A INTERDISCIPLINARIDADE E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DO TÉCNICO AGRÍCOLA

Maria Alice Oliveira Dias  1
Lenicio Gonçalves  2
Rosa Cristina Monteiro  3
(1. Coordenação de Cursos da Área Social/CEFET-Uberaba-MG; 2. Área de Biologia/DBA/IB/UFRRJ ; 3. Departamento de Psicologia/UFRRJ )
INTRODUÇÃO:

Com o advento da Constituição Brasileira de 1988 o meio ambiente alcançou o status de norma constitucional. Considerando a Conferência de Tbilisi em 1977, o meio ambiente, na constituição, foi compreendido “não somente como o meio físico biótico, mas também, o meio social e cultural”. O documento final da Conferência de Tbilisi discorre sobre a importância da educação para a construção de uma sociedade mais justa e eqüitativa, apontando o caminho da interdisciplinaridade como eixo de um novo modelo de educar. A Educação Ambiental por meio desta teoria interdisciplinar deve procurar compreender a natureza complexa do meio ambiente, superando a fragmentação das disciplinas, prática comum nos currículos de cursos técnicos. A interdisciplinaridade pressupõe a interação entre duas ou mais disciplinas, que pode ir da simples comunicação de idéias até a integração de conceitos fundamentais, da teoria do conhecimento, da metodologia e dos dados de pesquisa. O Técnico Agrícola deve ter uma visão global do mundo, para que possa agir de forma a estabelecer uma articulação de conhecimentos na resolução de problemas, contribuindo na proteção e no uso sustentável dos recursos naturais. Portanto, neste trabalho, procurou-se verificar como é tratada a Educação Ambiental numa perspectiva interdisciplinar, no curso Técnico Agrícola do CEFET-Uberaba-MG, para o desenvolvimento de uma consciência ética ambiental e construção de uma sociedade sustentável.

METODOLOGIA:

A pesquisa teve como foco o último período do Curso Técnico Agrícola oferecido pelo CEFET-Uberaba-MG. A investigação foi realizada através de questionários aplicados à totalidade da população alvo: nove professores e dezoito alunos. O corpo discente pesquisado é formado por alunos do sexo masculino e do sexo feminino e a faixa etária oscila entre 17 e 21 anos. Optou-se, nesta pesquisa, pela utilização de questionários, previamente elaborados. O questionário aplicado aos docentes foi composto por dezesseis questões, sendo uma aberta, podendo ocorrer mais de uma resposta em seis questões. As perguntas cobriam os seguintes aspectos: a forma como é ministrado o módulo e a relação do módulo com as questões ambientais e de sustentabilidade. O questionário aplicado aos alunos foi composto por dezesseis questões, sendo duas abertas, podendo ocorrer mais de uma resposta em sete questões.  As questões atendiam aos seguintes aspectos: a forma como são ministrados os módulos; o tratamento dado às questões ambientais nos diferentes módulos; a competência e o interesse do aluno para tratar assuntos relativos ao meio-ambiente e à sustentabilidade. Nas questões abertas a análise final considerou todos os termos utilizados, através de agrupamento de conceitos que se repetiam. Os questionários foram acompanhados de uma carta esclarecendo acerca dos propósitos da pesquisa, e de outra, solicitando autorização do pesquisado para o uso das informações prestadas. 

RESULTADOS:

Os resultados foram significativos para se ter uma visão de como está ocorrendo a interdisciplinaridade e a educação ambiental  na visão de docentes e alunos. A maioria dos professores relatou que desenvolve os conteúdos de forma interdisciplinar, mas ao serem apresentados a algumas assertivas, verificou-se que 41% entendem a interdisciplinaridade como sendo a articulação dos conhecimentos quando solicitado pelo professor interessado, no momento da necessidade. Já a afirmação de que o trabalho interdisciplinar é aceito e respeitado por todos os professores não mereceu nenhuma resposta.Os alunos afirmaram não haver relação entre ao diversos módulos do curso. Sobre as questões ambientais, 71% dos docentes afirmaram que este tema é constantemente abordado. Já os alunos consideraram que nos módulos de Manejo e Conservação do Solo, Viveicultura, Defensivos Agrícolas e Silvicultura as questões ambientais são constantemente abordadas; nos módulos de Mecanização Agrícola, Drenagem, Irrigação e Fitossanidade são abordadas de forma inexpressiva; e em Manejo Integrado de Pragas, Doenças e Plantas Daninhas e Extensão Rural não são abordadas. Nota-se que a maioria dos alunos compreende o conceito de meio ambiente como sinônimo de fauna e flora. Com isso fica evidente que tanto o trabalho interdisciplinar quanto o tratamento dado às questões ambientais ainda são incipientes na escola, contando com a adesão de poucos professores que os realizam esporadicamente, sem um planejamento adequado.

CONCLUSÕES:

Uma vez codificados e tabulados os dados foi possível observar como estão sendo tratadas as questões ambientais e a interdisciplinaridade em sala de aula pelos docentes. Quanto ao aluno, foi possível verificar como ele avalia sua formação de técnico agrícola em relação ao meio-ambiente. A dificuldade de se estabelecer uma estratégia pedagógica com a intenção de conscientização dos alunos quanto à problemática ambiental, ficou claramente revelada. O trabalho interdisciplinar não é adequadamente realizado. Os professores se pautam em um pensamento progressista, mas desenvolvem práticas tradicionais de ensino, partindo de uma concepção equivocada de que a interdisciplinaridade está afeita a uma “colagem” de conteúdos, mediante a solicitação de um professor cujos conteúdos propiciam a realização de atividades conjuntas. O que na verdade não passa de um trabalho multidisciplinar. O fato da maioria dos alunos ter conceituado meio ambiente, exclusivamente como fauna e flora, denota uma visão reducionista, fragmentada e estreita de um conhecimento que se torna cada vez mais indissociado das demais áreas do conhecimento. Finalmente, após a análise de todos os dados, concluímos que a escola deve propiciar aos alunos novos contextos cognitivos, e se proponha a trabalhar uma nova ética na relação sociedade-natureza, garantindo a formação de cidadãos, conhecedores dos problemas da sociedade brasileira, nos aspectos econômicos, políticos, sociais, culturais e ambientais.

 
Palavras-chave: interdisciplinaridade; educação ambiental; educação agrícola.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006