IMPRIMIR VOLTAR
C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 3. Toxicologia

USO INDEVIDO DE DIAZINON COMO PEDICULICIDA EM CRIANÇAS

Jaqueline Fernanda Weber 1
Marisete Canello Resener 1
Danielle Bibas Legat Albino 1
Adriana Mello Barotto 1
Margaret Grando 1
Marlene Zannin 1, 2
(1. Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina - GETOF/DVS/SES e HU/UFSC; 2. Depto de Patologia e Toxicologia - PTL / CCS / UFSC, Florianópolis/SC.)
INTRODUÇÃO:

Diazinon ou diazinona é um inseticida e acaricida organofosforado, classe toxicológica II (altamente tóxico), com autorização de uso no Brasil como: domissanitário, agrotóxico de uso agrícola, na jardinagem amadora e produto veterinário para o controle de ectoparasitas em gados, carneiros e animais domésticos. O produto está disponível no mercado na forma de pó, concentrado emulsionável, líquido ou granulado. As intoxicações por Diazinon vêm crescendo no Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina provocadas principalmente pelo uso indevido como pediculicida em crianças. Esta prática preocupa as equipes de saúde e alerta para um problema de saúde pública, devido a alta toxicidade do produto e a facilidade em sua aquisição, uma vez que  sua venda é livre. A toxicidade do produto está relacionada à inibição irreversível da acetilcolinesterase (AchE), com conseqüente acúmulo de acetilcolina (Ach) e hiperestimulação dos receptores colinérgicos, traduzindo-se clinicamente em manifestações muscarínicas (bradicardia, broncoespasmo, hipersecreção brônquica, sialorréia, lacrimejamento, diaforese, vômitos, diarréia, diurese involuntária e miose), nicotínicas (taquicardia, hipertensão, fasciculações, midríase, fadiga, cãibras) e em Sistema Nervoso Central (depressão do sistema nervoso central, agitação, confusão, delírio, coma e convulsões). Crianças podem ter predominância de sintomas tais como: depressão do sistema nervoso central, estupor, flacidez, dispnéia e coma.

METODOLOGIA:

Foram analisadas as fichas de atendimento de pacientes registrados no Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina (CIT/SC), no período de 15 de dezembro de 2005 a 15 de março de 2006. As variáveis analisadas foram: faixa etária, sexo, local da ocorrência, município da ocorrência, hora da exposição, intervalo de tempo entre a exposição e o aparecimento dos sinais e sintomas, quadro clínico, valores de colinesterase plasmática, uso do sulfato de atropina, do antídoto pralidoxima e evolução.

RESULTADOS:

Neste período, de três meses, foram registrados no CIT/SC dez pacientes intoxicados por aplicação tópica do produto diazinon em couro cabeludo, com finalidade pediculicida. Observou-se predominância do gênero feminino (80%) com idade entre 2 a 14 anos. Quarenta por cento das intoxicações ocorreram entre 10-14 anos de idade. Em 100% dos casos, o local da ocorrência foi a residência, em zona urbana, nos municípios de Criciúma (40%), São José (40%), Florianópolis (10%) e Balneário Camboriú (10%). O atendimento ocorreu durante o horário noturno em 80% dos casos e em aproximadamente 60% das crianças os sintomas tiveram início na primeira hora após a exposição. Na admissão hospitalar, a maioria dos pacientes apresentou miose e vômitos (50%), sialorréia e hipersecreção brônquica (30%), estupor, palidez e vertigens (20%), dez por cento evoluiu ao coma e somente 10% apresentou-se assintomático. Em 50% das crianças foi administrado sulfato de atropina e em 10% o antídoto pralidoxima. A maioria dos pacientes (40%) apresentou níveis plasmáticos de colinesterase entre 1015-2267 U/L (VR: 5320-12920 U/L), 30% entre 495-900 U/L (VR: 4000-11000 U/L) e apenas 10% manteve-se dentro dos limites de referência. Todos os pacientes evoluíram para a cura.

CONCLUSÕES:

Devido à freqüência de casos em pequeno intervalo de tempo, de intoxicações, inclusive graves, decorrentes do uso indevido do diazinon para o tratamento da pediculose, torna-se necessária uma intensificação do envolvimento dos profissionais de saúde, na prevenção desses acidentes, que representam um sério problema de saúde pública neste Estado. Estes agravos ocorrem pela facilidade de compra destes produtos e desinformação a respeito dos danos à saúde. Evidencia-se a necessidade de uma atuação conjunta de órgãos tais como – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Vigilância Sanitária e Epidemiológica, com o intuito de uma fiscalização mais rigorosa da venda destes produtos e da estruturação de formas de orientar e alertar a população quanto aos riscos desta exposição e medidas corretas para a erradicação da pediculose.

 
Palavras-chave: diazinon; pediculicida; intoxicação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006