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C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 3. Toxicologia

ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS DOS ACIDENTES POR MICRURUS REGISTRADOS NO CIT-SC

Cinthia Kunze Rodrigues 1
Milene Caroline Kock 1
Isadora Sgrott 1
Filipe Martins de Mello 1
Margaret Grando 1
Marlene Zannin 1, 2
(1. Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina GETOF/EVS/SES e HU/UFSC, F; 2. Dpto de Patologia e Toxicologia – PTL/CCS/UFSC, Florianópolis/SC)
INTRODUÇÃO:
Os acidentes causados por serpentes do gênero Micrurus spp, popularmente conhecidas por “Cobra Coral”, têm, no estado de Santa Catarina (SC), Brasil, o envolvimento de duas espécies conhecidas: Micrurus altirostris e Micrurus corallinus. Esses acidentes elapídicos apresentam baixa incidência no estado, mas são avaliados como potencialmente graves devido a neurotoxicidade do veneno e risco de óbito por insuficiência respiratória. Este trabalho tem como objetivo estudar os aspectos clínicos e epidemiológicos dos 88 pacientes que foram picados por cobras do gênero Micrurus spp. em SC e que foram notificados ao Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina (CIT/SC), por telefone ou a tendidos diretamente através da Emergência do Hospital Universitário da Universidade Federal de SC, no período de maio de 1984 a dezembro de 2005.
METODOLOGIA:
Este trabalho analisou retrospectivamente as fichas de atendimento do CIT/SC, caracterizadas como demanda espontânea dos serviços de urgência e analisadas as seguintes variáveis: dados referentes aos acidentes e as serpentes, como sazonalidade (mês da ocorrência) e classificação do gênero e espécie (espécie envolvida no acidente); dados referentes à exposição, como município, zona (rural ou urbana) e local de ocorrência (local de trabalho, meio ambiente, residência, outros); dados referentes aos acidentados, como sexo, profissão, idade, região do corpo atingida, presença ou não da marca da picada; dados referentes ao tratamento, como tempo decorrido entre o acidente e o atendimento na unidade de saúde que entrou em contato com o CIT/SC, soroterapia, tratamento suportivo e evolução dos pacientes. No estudo clínico foram consideradas variáveis como patogenia e quadro clínico, descrevendo as freqüências de distúrbios locais e sistêmicos dos pacientes.
RESULTADOS:
Em SC os acidentes são mais comuns na zona urbana (60,2%), sendo que a maior incidência foi na capital (Florianópolis) com 21,6% dos casos, somando um total de 19 casos. Em todo estado a maioria das cobras coral envolvidas em acidentes foi identificada apenas como do gênero Micrurus sp. (51,1%), seguida pela espécie Micrurus corallinus (29,5%). Os meses de maior ocorrência foram março (19 casos), abril (14) e novembro (13). Os acidentes foram mais freqüentes em pacientes com idade entre 30 e 49 anos (38,7%) seguida pela faixa etária de 15 a 29 anos (31,8%). Em relação ao sexo, houve predomínio dos homens com 64,8% dos casos. Dentre a ocupação os mais envolvidos em acidentes são os agricultores (15,9%), sendo a mão o local mais acometido (31 casos). Dos pacientes que apresentavam marca da picada, 46,6% apresentavam-se sintomáticos e 15,9% assintomáticos. Entre os que não apresentavam marca da picada essa proporção foi de 10,2% sintomáticos para 2,3% assintomáticos. Há casos cuja marca da picada foi ignorada com 1,1% assintomáticos e 21,6% sintomáticos. Dor e parestesia são os sintomas mais observados (49%), seguidos por tontura (40%), ptose (19%), visão turva (17%), mialgia e fraqueza muscular (12,5%), disfagia (9%), dispnéia (7,95%). Dos 88 pacientes, 64 foram tratados apenas com soro, 03 com soro e anticolinesterásico, 01 com anticolinesterásico e 01 com tratamento suportivo. Todos evoluíram para cura.
CONCLUSÕES:
A marca da picada não demonstra ser um preditor de envenenamento, visto que 15,9% dos pacientes que a apresentavam permaneceram assintomáticos, sugerindo uma picada seca. Da mesma forma a ausência da marca da picada não afasta a possibilidade de inoculação do veneno (10,2% dos pacientes sem marca da picada apresentaram sintomas). Em decorrência da neurotoxicidade do veneno da cobra coral esses acidentes são considerados graves; contudo, a implantação precoce da soroterapia específica e o suporte clínico adequado reserva aos pacientes desses acidentes um bom prognóstico.
 
Palavras-chave: Micrurus; Coral; Acidente Elapídico.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006