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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
DO PESO DO VIVER À LEVEZA DA LITERATURA: A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA NA FORMAÇÃO DA AUTO-ESTIMA INFANTIL.
Nívea Priscilla Olinto da Silva  1
Marly Amarilha 2
(1. Departamento de Educação/ UFRN; 2. Departamento de Educação/ UFRN)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é recorte da pesquisa quase-experimental “O Ensino de Leitura: as contribuições das Histórias em Quadrinhos e da Literatura Infantil na formação do leitor” (CNPq/ UFRN, 2003-2006). Essa pesquisa maior objetiva conhecer as possibilidades formativas da leitura da palavra e da imagem tendo como corpus narrativas de Literatura Infantil e Histórias em Quadrinhos, considerando-se sua relação intertextual. Esta investigação trata das contribuições da Literatura Infantil no processo de desenvolvimento da auto-estima , entendida como os sentimentos que acompanham a percepção do valor pessoal.A auto-estima começa a se formar na infância. Ao se relacionar com o mundo, a criança, gradualmente, incorpora os padrões de comportamento, atitudes e opiniões externas a seu respeito. Internalizadas essas opiniões, o indivíduo se transforma e se reorganiza no plano intrapsicológico, e assim essas opiniões assumem caráter pessoal. Sendo a infância período lúdico, a linguagem metafórica das narrativas literárias canaliza, de maneira simbólica, a formação da auto-estima.O contato com a leitura de ficção propicia ao leitor se deparar com seus conflitos e construir esquemas de atuação sobre o meio. A pesquisa assinala a importância da ficção no alargamento das perspectivas do saber emancipatório, oferecendo ao leitor meios de reflexão sobre sua condição, enquanto ser que busca a autoconfiança e o reconhecimento do grupo.
METODOLOGIA:
Para este estudo de caráter comparativo, utilizou-se como recurso metodológico a investigação bibliográfica, tomando como corpus o conto “A princesa e o grão de ervilha”, de Andersen (1981) e “Ervilina e o Princês”, de Sylvia Orthof (1986). Adotou-se como critério de seleção das histórias a relação intertextual e a distância temporal entre as narrativas, que apresentam personagens que enfrentam o mesmo desafio, necessitando provar a veracidade de sua identidade e de suas qualidades. Privilegiamos como aporte teórico as pesquisas de Amarilha (1997); Bettelheim (2004); Calvino (1990); Goleman (2001); Held (1980); Jauss (1979); Moyses (2001); Zilberman (1987).
RESULTADOS:
Nas narrativas analisadas, a princesa, personagem clássica de Andersen, e a personagem contemporânea Ervilina, de Orthof, enfrentam o mesmo desafio, entretanto suas respostas a ele são distintas. Em ambas as narrativas um príncipe está em busca de sua princesa, submetendo as pretendentes a prova de sensibilidade. A personagem do conto clássico de Andersen, por objetivar se casar com o príncipe, captaliza os recursos que possui, dirigindo sua esperteza e sagacidade para alcançar sua meta. A ficção contemporânea de Orthof, ao parodiar a narrativa clássica, apresenta a personagem rompendo com o ideal de casamento e assumindo as conseqüências de seu ato. Por ser horizonte do mundo, a linguagem simbólica da narrativa se constitui em poética da ficção, transformando-se numa situação comunicativa implícita. Dessa forma, a ficção se aproxima da realidade psíquica infantil e propicia reflexões e até possíveis respostas a questões mobilizadoras em busca do auto-conhecimento e da realização pessoal. Observa-se que as repostas das personagens revelam profunda segurança e auto-aceitação emocional, demonstrando o sentimento de valor pessoal que acompanha a percepção de si. A fruição estética, alcançada no momento de elação emocional do leitor com o texto, possibilita a construção do repertório de atuação do leitor sobre o meio. O aprendiz seleciona experiências vivenciadas no ficcional para o real, contribuindo, assim, na formação da sua auto-estima.
CONCLUSÕES:
Constata-se que a linguagem metafórica da literatura e a percepção do leitor sobre o fenômeno estético contribuem para a construção e atualização do sentido do texto, nas quais a criação poética alcança legitimação de ordem existencial, pois as respostas das personagens aos desafios enfrentados são desencadeados pela percepção positiva de seu valor pessoal. Ao garantirem a concretização de seus objetivos, as personagens demonstram auto-controle evidenciando a auto-estima positiva que têm de si mesmas. Nesse processo de envolvimento emocional com a narrativa, o leitor partilha do dilema existencial humano de auto-conhecimento e auto-aceitação expressos pelas personagens. A experiência estética proposta pela literatura se constitui como espaço ou meio de reflexão, no qual o leitor, numa tarefa infinita de experiência imaginativa, comprova o caráter auto-reflexivo do discurso ficcional, construindo habilidades para lidar com sua realidade psíquica
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Literatura Infantil; experiência estética; auto-estima.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006